Agência France-Presse
postado em 26/10/2012 14:27
Ohio - Em um final espetacular para uma maratona de 40 horas de campanha, o presidente americano, Barack Obama, lançou um forte ataque contra Mitt Romney em Ohio, estado que pode decidir a disputa eleitoral. Mas Romney, ao discursar para republicanos na cidade (adequadamente chamada) de Defiance, ridicularizou a campanha "incrivelmente encolhida" de Obama e roubou o mantra utilizado pelo presidente em 2009, prometendo uma "grande mudança" se vencer as eleições de 6 de novembro.Essas últimas farpas foram trocadas no momento em que as pesquisas mostram uma disputa equilibrada, com Romney levemente à frente na contagem nacional, mas com Obama permanecendo firme nos estados-chave que podem levá-lo a conseguir um segundo mandato. O presidente recebeu na quinta-feira o apoio de Colin Powell - um republicano afroamericano que serviu nos dois mandatos de Bush - provocando comentários controversos de um assessor de Romney, que sugeriu que a questão racial era um fator.
"Quando você tem alguém de sua própria raça de quem você se orgulha por ser presidente dos Estados Unidos, eu aplaudo Colin por apoiá-lo", disse o principal assessor de Romney, John Sununu, sobre Powell, que também apoiou Obama em 2008. Sununu divulgou mais tarde um comunicado retificando suas declarações, no qual afirmou: "Eu respeito a decisão de apoio que (Powell) fez, e não tenho dúvidas de que foi baseada apenas em seu apoio às políticas do presidente".
As declarações de Sununu, conhecido por seu comportamento inflamado, pode injetar o fator raça em uma campanha que Romney tentou deixar focada na economia. Mais cedo na quinta-feira, Obama criticara Romney por se opor ao seu resgate da indústria automobilística em um evento de campanha em Ohio, um campo de batalha perene no qual a produção de carros é responsável por um em cada oito empregos.
[SAIBAMAIS]"Eu me recusei a dar as costas para estes trabalhadores, me recusei a dar as costas para estes empregos. Eu apostei nos trabalhadores americanos. E faria isso de novo porque esta aposta sempre vale a pena", disse Obama adotando um tom populista. Obama concluiu uma viagem por oito estados - e de 7.000 milhas de distância - a 11 dias das eleições, quando precisa fazer com que os americanos desafiem um cenário de economia fraca e alta taxa de desemprego para renovar seu mandato na Casa Branca.
Os assessores do presidente estão cada vez mais confiantes de que ele vai vencer. Mas Romney tem tentado convencer seus simpatizantes de que este é o seu momento, na reta final. "Nós queremos uma grande mudança", disse Romney a uma multidão de 12.000 pessoas em Defiance, acusando Obama de realizar uma campanha sem novas ideias.
"Este é o momento de grandes desafios, e um momento de grandes oportunidades, temos uma grande decisão. E, francamente, vamos eleger um presidente que está disposto a fazer grandes mudanças, e eu estou", afirmou Romney, ex-governador de Massachusetts. Romney culpa Obama por quatro anos de um crescimento econômico americano medíocre, enquanto o democrata alerta que os americanos se afastaram muito da recessão para arriscar reverter o processo com a chegada dos republicanos.
Antes disso, Obama havia se tornado o primeiro presidente em mandato a votar por antecipação, em uma ação bem-sucedida para atrair as atenções da mídia e também utilizada para mobilizar seus simpatizantes a votarem antes da data. Horas mais tarde, em um exemplo notável do poder de "showman" do presidente, Obama aterrissou diante de 12.000 pessoas que esperaram por horas para vê-lo em um aeroporto em Cleveland.
O Air Force One, nome da aeronave que transporta o presidente, fez uma manobra posicionando o seu nariz de frente para a multidão antes de Obama descer os degraus e subir em um palco. Quanto mais próxima a eleição, mais tenso fica o clima entre os dois candidatos. Em uma entrevista à revista Rolling Stone publicada na quinta-feira, Obama disse ao diretor-executivo da publicação, Eric Bates, que crianças tinham instintos políticos excelentes e poderiam desmascarar um "mentiroso".
O comentário foi encarado majoritariamente como um ataque a Romney, acusado por Obama de não ter princípios e mudar de posições para ganhos políticos. A declaração provocou uma resposta ácida do porta-voz de Romney, Kevin Madden. "O presidente Obama está abalado e na defensiva. Ele está correndo no vazio e não tem mais nada, a não ser os ataques e insultos. É lamentável que ele tenha que encerrar os dias finais da campanha desta forma", disse. A equipe do presidente considera que ele ainda tem diversas rotas para angariar os 270 votos de delegados necessários para entrar na Casa branca.
Em dois dias, ele passou pelos campos de batalha de Iowa, Colorado, Nevada, Flórida, Virgínia e Ohio, parou na Califórnia para participar de um programa de televisão e ainda visitou a cidade em que viveu, Chicago.Romney também cumpriu com sua quota de viagens, mas na quinta-feira se concentrou em Ohio, onde as últimas pesquisas feitas pelo site RealClearPolitics mostravam Obama à frente por dois pontos. As pesquisas de quinta-feira da NBC/Wall Street Journal mostraram Obama três pontos à frente de Romney em Nevada, onde ele também lidera os votos por antecipação, e ao lado do republicano no campo de batalha de Rocky Mountain, no Colorado. Romney, no entanto, estava três pontos à frente do presidente em uma pesquisa da ABC News/Washington Post de prováveis eleitores.
O comentário sobre raça feito por Sununu ameaçou provocar outra controvérsia, num momento em que Romney ainda tenta conter as consequências das declarações sobre estupro e aborto feitas pelo senador do estado de Indiana Richard Mourdock, a quem ele deu seu apoio. Mourdock afirmou que a gravidez causada pelo estupro era "algo da vontade de Deus", fornecendo uma arma para a campanha de Obama, que acusa Romney de apoiar um retorno às políticas sociais da década de 1950. A equipe do republicano ressalta que seu candidato não concorda com as opiniões de Mourdock, mas ainda o apoia na corrida ao Senado.