Eleições Presidenciais EUA

Nova derrota para Obama faz Partido Republicano repensar posição

Helena Mader
postado em 08/11/2012 08:57

A derrota de Romney impõe um desafio ao partido: adotar um tom mais moderado e conquistar latinos e negros ou endurecer ainda mais o discurso
A derrota de Mitt Romney nas eleições presidenciais acirrou um grande dilema do Partido Republicano. Diante das mudanças da sociedade americana, que viu crescer rapidamente o número de cidadãos latinos, a legenda está dividida entre endurecer o discurso conservador ou se posicionar mais ao centro, para agradar essa importante fatia do eleitorado. O resultado das urnas também levanta dúvidas quanto ao futuro de Romney. Analistas acreditam que o candidato vencido não deve voltar a disputar a Presidência, pois o discurso de renovação de líderes ganhou forças entre republicanos.

A postura de Mitt Romney durante a campanha foi alvo de duras críticas, até mesmo entre correligionários. Ele ganhou da mídia o apelido de candidato flip-flop, uma expressão em inglês que traduz a atitude do republicano de mudar de opiniões de acordo com o público ou com a situação. Durante as primárias, o discurso teve forte tom conservador, mais alinhado às tendências da corrente Tea Party. Em meio à disputa, ele chegou a fazer discursos com ideias mais moderadas, especialmente para tentar conquistar votos entre negros, latinos e jovens, segmentos que optaram de forma maciça por Obama.

Entre os eleitores de origem hispânica, o democrata se reelegeu com 71% dos votos. Além disso, 93% dos eleitores negros votaram em Barack Obama. Os latinos já representam quase 10% dos cidadãos registrados e esse número cresce em ritmo mais rápido do que o restante da população. Mitt Romney teve muitos votos entre homens brancos com mais de 65 anos, um grupo demográfico cuja população está em queda. O desafio dos republicanos também é conquistar os jovens, já que 60% dos eleitores com menos de 30 anos votaram em Barack Obama.

;A resistência de segmentos preponderantes do eleitorado deve dar espaço a uma orientação mais tolerante. Com o crescimento da economia, a importância do Tea Party entre os republicanos deve ficar mais fraca;, explicou ao Correio o especialista Thomas Mann, Ph.D. em política pela Universidade de Michigan e analista do Instituto Brookings, em Washington. Para ele, a carreira política de Mitt Romney deve ficar estagnada com a derrota. ;Acredito que a vida política dele acabou. Romney é um homem inteligente e encontrará formas de ocupar o seu tempo daqui para a frente;, acrescentou. Mann lembrou ainda que o partido precisará reagir a fim de se adaptar à nova realidade americana.

Os próprios integrantes do partido reconhecem a necessidade de rever as estratégias. ;Temos que reconhecer o peso das mudanças demográficas neste país. Os republicanos não podem ganhar apenas com os votos das áreas rurais e dos eleitores brancos;, afirmou a senadora do Maine Susan Collins, em entrevista ao jornal americano New York Times.

Os republicanos devem se focar em discursos oposicionistas, como a grande e vitoriosa resistência criada na Câmara contra a lei de reforma do sistema de saúde. Há setores que acreditam na necessidade de buscar os votos de hispânicos, negros, jovens e mulheres de nível superior. Os puristas, no entanto, defendem a manutenção dos princípios da legenda e acreditam que os republicanos podem voltar a vencer sem grandes desvios na conduta do partido.

No discurso em que reconheceu a derrota, no início da madrugada de ontem, Romney ressaltou que os ideais republicanos devem permanecer intocados. ;A eleição acabou, mas os nossos princípios continuam;, conformou-se Romney.

Renovação
Diante da derrota, uma das saídas será buscar novos nomes para recomeçar a busca pelo eleitorado. O National Journal fez um levantamento das maiores lideranças entre os novos e antigos nomes do partido. O primeiro citado é o governador de Nova Jersey, Chris Christie, que já deu sinais de que toparia a missão. Na convenção democrata, ele falou mais das suas conquistas no estado que do correligionário candidato à Presidência.

Outro nome forte e que deve ganhar espaço entre os republicanos é o senador da Florida Marco Rubio. Ele é de origem cubana e as suas raízes hispânicas poderiam ajudar a sigla a ganhar espaço entre os latinos. Outra opção ligada aos hispânicos seria a governadora do Novo México, Susana Martinez, que também fez elogiado discurso durante a convenção. Ainda estão no páreo o ex-governador da Florida Jeb Bush, irmão caçula de George Bush, que tem excelente interlocução com os hispânicos, e Paul Ryan, que concorreu este ano como vice na chapa de Romney.

O IMPACTO
Entre os eleitores latinos,
71% votaram no presidente Barack Obama

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