Juliana Boechat
postado em 18/08/2010 08:26
O candidato a governador do Distrito Federal pela Coligação Esperança Renovada, Joaquim Roriz (PSC), explicou ontem que as acusações contra os petistas no comício realizado no último sábado, no Itapoã, são ;repetições das palavras do povo;. Na ocasião, o ex-governador comparou o vermelho do seu principal adversário nas urnas, Agnelo Queiroz (PT), com a ;cor do satanás;. Disse ainda que, no governo do PT, ;pode-se matar, roubar e estuprar;. Em visita à feira de Sobradinho 1, na manhã de ontem, Roriz não negou que tenha soltado as farpas contra Agnelo e defendeu que não deve explicações sobre o episódio. Em resposta aos ataques, os advogados de Agnelo protocolaram, na tarde de ontem, uma ação contra Roriz no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). E prometeram levar as denúncias ao Ministério Público Eleitoral (1)(MPE), por entenderem que houve crime eleitoral.Roriz alega que apenas repercutiu ;as palavras do povo; durante o comício no Itapoã. Questionado se concorda ou não com as declarações, ficou em silêncio. ;Não fui eu que disse isso. Repeti as palavras do povo. Eu não tenho o que explicar, passo por cima disso. Se for falar tudo que sei, boto fogo na cidade;, disse. No início deste mês, o ex-governador incluiu nos discursos a história de uma mulher de 89 anos que estaria prestes a morrer. Após receber convite da eleitora, Roriz teria realizado uma simples visita ; sempre evitou dizer, no entanto, o nome e o local onde ela mora. ;A casa dela era enfeitada de azul. E quando eu estava lá, uma vizinha passou pela calçada com uma bandeira vermelha. A velhinha, que está morrendo, gritou: ;Xô, Satanás;;, ressalta, justificando suas palavras no Itapoã.
O candidato soltou novos ataques e ameaças ontem. ;Eu tenho responsabilidade com meus gestos e palavras. Se for contar tudo que sei, com provas concretas e os processos que correm em segredo de Justiça, ele (Agnelo) não poderia sair da cidade. Seria apedrejado;, alfinetou. Desde o início da campanha, Roriz defende o alto nível dos debates e diz que ;dançará conforme a música;. Mas começou a atacar a Coligação Novo Caminho, encabeçada pelo petista, após a decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), no último dia 4, que barrou seu registro de candidatura, e as denúncias de uma suposta propina paga pelo ex-governador a um ;laranja;.
Agnelo Queiroz endureceu o discurso ontem contra a resposta dada pelo advogado de Roriz, Eládio Carneiro, na edição de ontem do Correio, para justificar as acusações feitas pelo ex-governador ao PT no último sábado. Eládio disse que as farpas de Roriz são ;uma retórica normal de palanque que reporta a situações históricas da origem de Agnelo, que era um comunista;. ;Esse tipo de retórica é normal para eles, que não têm escrúpulos, são desonestos e irresponsáveis. Só pode ser advogado de Roriz para não saber distinguir o que é crime. As acusações são atos de desespero de um derrotado, um impugnado;, criticou Agnelo.
Estratégia
O petista lembrou que a estratégia rorizista de atacar os adversários em público é conhecida há mais de 20 anos no DF, mas, em sua opinião, está ultrapassada. ;Esse tipo de discurso atrasado, reacionário, que chega a ser fascista, não pega mais. O povo está ruborizado com os escândalos que estão acontecendo na política local;, disse Agnelo. O candidato garantiu que não aceitará nenhum tipo de provocação do principal adversário nas urnas e combaterá com ;veemência; a incitação à violência na campanha.
O candidato à reeleição ao Senado Cristovam Buarque (PDT) condenou a atitude do ex-governador do qual também já foi vítima. Durante um discurso no Itapoã, em agosto de 2003, Roriz chamou Cristovam de ;assassino; para uma plateia de cerca de 2 mil pessoas. A acusação rendeu ao senador uma indenização de R$ 60 mil. ;O que ele (Roriz) faz é uma dupla imoralidade. A primeira é por usar uma mentira deslavada para chamar quem usa vermelho de assassino ou estuprador. A segunda é a manipulação da religião para fins políticos;, analisou o senador, dizendo que Roriz ofendeu todos os petistas, inclusive, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
A interpelação judicial contra Roriz foi protocolada no TJDFT . A construção do documento de seis páginas foi sustentada em duas matérias veiculadas pelo Correio, nos dias 15 e 17 últimos, que trataram do caso. A ação pede que o candidato do PSC esclareça as ;declarações de cunho puramente difamatório e inverídico;. O advogado de Agnelo, Luis Alcoforado, adiantou ontem que a briga vai ser alçada ao âmbito da Justiça Eleitoral. ;Vamos fazer amanhã (hoje) uma representação no Ministério Público Eleitoral para que investigue se houve crime de calúnia e difamação. Falar em comício que o adversário mata ou estupra é gravíssimo e não é condizente com o direito eleitoral;, argumentou.
1 - Outro alvo
Os petistas não foram o único alvo de Roriz. No último dia 7, o ex-governador defendeu que o procurador regional eleitoral, Renato Brill, deveria ser expulso do MPE. Isso porque Brill disse que, se Roriz ganhar no primeiro turno sem estar com a candidatura validada, o pleito pode ser anulado. No último dia 4, o TRE barrou o direito do candidato azul de se eleger. Os advogados da coligação Esperança Renovada recorreram ao TSE, que deve julgar o caso até amanhã. Se perderem novamente, a defesa deverá apelar ao Supremo Tribunal Federal.
MANIFESTO DA COLIGAÇÃO
Os nove partidos que representam a Coligação Esperança Renovada divulgaram, na tarde de ontem, um manifesto em defesa da candidatura de Roriz. E se mostraram ;indignados com as diversas manobras que vêm sendo feitas para impedir a vitória do candidato;. ;Manifestamos, de forma veemente, total apoio ao nosso candidato diante das disparadas ações e juízos de valor oriundos tanto de partidos de oposição como de membros do Ministério Público;, diz um trecho da nota. ;Por não encontrarem meios dignos de disputa eleitoral, procuram, então, inutilmente, denegrir a vitoriosa trajetória pessoal e política de Roriz;, defendem.
O número
30 - Total de seções eleitorais especiais espalhadas por todas as cidades do DF, que receberão 4.832 eleitores