Eleicoes2010

Repertório artístico de candidatos impressiona pela criatividade

Ivan Iunes
postado em 22/08/2010 11:16
Pouco mais de um mês depois do início da corrida eleitoral e o pleito de outubro já é pródigo em jingles de gosto duvidoso. Até aqui, a coleção de paródias de obras famosas atinge músicas de artistas internacionais, nacionais e até hits do momento. A lista de pérolas é extensa. Vai de Ê Vaccarezza, cópia descarada do sucesso Macarena, da dupla espanhola Los del Río, a Vote no Lindolfo Pires, em uma tradução ;artística; de Beat it, de Michael Jackson. A dose contestável de criatividade serviu para que os citados pelos jingles, os candidatos a deputado federal Cândido Vaccarezza

(PT-SP) e estadual Lindolfo Pires (DEM-PB) se tornassem febre na internet. O resultado nas urnas, contudo, ainda é imprevisível.

Pelo menos até agora, parece que foi engavetado o exercício de fabricar jingles inéditos, prática que rendeu músicas inesquecíveis, como o Lula-lá, da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, e o Levanta a mão, de Fernando Henrique Cardoso, em 1998. Os políticos que tentarão mandatos em outubro preferiram, por maioria, parodiar músicas famosas ; sem dar muita bola para os direitos autorais da canções. A única ressalva nesse sentido deve ser feita a Netinho de Paula (PCdoB-SP), que, na tentativa de conquistar uma vaga ao Senado, parodiou o seu maior sucesso, Cohab city.

Entre os mais empolgados com a moda está Vaccarezza. O líder do governo federal na Câmara parece ter gostado da experiência com Macarena. Tanto que lançou mão também de Rebolation, do grupo Parangolé, em versão típica de música-chiclete. Em vez de ;É o rebolation;, a adaptação diz ;É o Vaccarezza za;. Nada se compara, porém, à tradução livre feita pelas músicas. No caso de Claudir Maciel (PPS-SC), toda as frases de I want to break free, do Queen, viraram um tosco ;Vou votar no Claudir; ou, número do candidato nas urnas, que é repetido incríveis 16 vezes. Depois do sucesso efêmero, o catarinense de Balneário Camboriú ainda soltou uma nota negando que tenha plagiado a música da banda inglesa. Segundo ele, a adaptação foi feita para dar ;musicalidade; à campanha.

Mau gosto
Pior do que as paródias são os jingles politicamente incorretos. Candidato à Presidência da República, José Serra (PSDB) exibe uma música destinada apenas a desancar a adversária Dilma Rousseff (PT). Ainda restrita ao rádio, ela diz: ;Tudo o que o Lula criou, ela diz: fui eu, fui eu/ Aquilo que é coisa do Lula, a Dilma diz: é meu, é meu;. Não há qualquer citação ao candidato na letra. Apenas a Lula e a Dilma. Outra polêmica em jingles de Serra teve como ponto central a cantora Elba Ramalho. Ao lado de Dominguinhos, ela apoiou e gravou a música oficial da campanha tucana de 2002. Este ano, preferiu se afastar. A solução encontrada pelo marketing serrista foi contratar uma Elba genérica. A trucagem pode ter enganado o eleitorado, mas não a cantora, que reclamou publicamente da atitude.

Na tentativa de se reeleger ao governo de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) inovou ao tentar cooptar prefeitos ligados ao rival Jarbas Vasconcellos (PMDB). Fez uma música especialmente para flertar com os ainda adversários. A traição é estimulada pelos versos ;pula, pula, pula, pula pro lado de cá, o povo está pulando e não consegue mais parar, eles estão vendo que o barco vai afundar, pule você também, pule pro lado de cá;, sugere o jingle do socialista.

Adversário ferrenho de Lula em 1989, o candidato a governador de Alagoas Fernando Collor (PTB) não parece guardar mágoas da época do impeachment, em 1991. Aos eleitores alagoanos, seu jingle de campanha não se cansa de repetir: ;É Lula apoiando Collor, é Collor apoiando Dilma;. Partidário da legalização da Cannabis Sativa, a popular maconha, Renato Cinco (PSol) resolveu citar o entorpecente na música que embala a candidatura a deputado federal pelo Rio de Janeiro. A mensagem inclui os versos: ;Legalizar é o compromisso. A repressão da erva gera corrupção. Pela medicina da Cannabis, da liberdade pessoal;.



1989
Ano em que foi usado o jingle Lula-lá, um
dos mais conhecidos nas eleições brasileiras

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