postado em 25/08/2010 17:56
Quando o Brasil foi às urnas pela primeira vez, após o fim do regime militar, os candidatos não precisavam de propostas muito complexas para a área da educação. Prometer a construção de escolas e a criação de novas vagas era suficiente, já que cerca de 15% das crianças de 7 a 14 anos não estudavam. Hoje, a taxa de atendimento dessa faixa etária beira os 98%. Com a melhoria do acesso, o desafio agora é garantir educação de qualidade para todos ; apontam especialistas e organizações da área.;Nos anos anteriores o foco era na oportunidade de toda a criança poder estudar, hoje tem que ser na garantia da aprendizagem das crianças. Mas a garantia da qualidade é muito mais difícil de construir porque não depende de uma caneta. É um grande mosaico de fatores que o gestor precisa levar em conta de acordo com a realidade da escola;, explica a diretora executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz.
Uma área problemática
O representante da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, Vincent Defourny, disse que o país deu passos importantes nos últimos 15 anos, mas a educação ainda é uma das áreas ;mais problemáticas;. O oficial de projetos da Unesco, Wagner Santana, complementa: ;Os desafios vão se tornando mais complexos na medida em que a gente se aprofunda na questão do direito a educação. E ele só efetivo com crianças, jovens e adultos aprendendo;.
Apesar de não haver uma fórmula para construir uma educação de qualidade, os especialistas apontam o professor como peça-chave desse processo. Sem remuneração adequada e bons planos de carreira para a categoria, será difícil mudar a realidade da sala de aula, defende a coordenadora-geral da organização não governamental (ONG) Ação Educativa, Vera Masagão. ;A escola precisa atrair talentos e pessoas motivadas. É necessário investir na formação e na valorização para que a área se torne atrativa;, afirmou.
Defourny acredita que esse é um gargalo da educação hoje. ;A formação, a remuneração, a perspectiva de carreira do professor, tudo isso tem que ser resolvido de forma consistente;, disse. Segundo estudo da Unesco, a média salarial do professor da educação básica, em 2006, era de R$ 927, com grandes variações nos estados chegando a R$ 635 (Nordeste). O rendimento é bem menor do que o de outras carreiras que também exigem formação de nível superior.
;Não é que toda a responsabilidade seja do professor, mas há um amplo reconhecimento de que esse é um dos principais fatores para a qualidade da educação;, defende Santana. Vincent alerta ainda que sem recursos adequados não é possível chegar a uma oferta de qualidade. Hoje, o país investe 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB) na área, segundo dados mais recentes do Ministério da Educação.
;O investimento aumentou, mas ainda estamos muito longe dos padrões dos países com uma educação de melhor qualidade. É um assunto que precisa ficar claro nas prioridades de um governo;, afirmou. Os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) investem, em média, entre e 6% e 7% do PIB. ;Mas eles, em geral, não têm a dívida história com a educação que nós temos. Além disso, o PIB é maior. Então, o volume investido é mais alto;, compara Santana.
Educação precisa de palanque
Ele acredita que outro desafio é integrar a educação a políticas mais amplas de desenvolvimento do país. ;Todos dizem que a educação é essencial, mas é preciso discutir como o componente educacional se integra quando olhamos para o futuro de um país que tem a possibilidade de ser a quinta economia mundial;, disse. Na avaliação de Santana, o debate sobre educação nas eleições ainda ;fica muito na superfície;.
;O país tem uma janela de oportunidade, está crescendo muito rapidamente, e tem recursos públicos como nunca. Este é o momento para investir em educação, não dá para esperar. É um investimento de médio a longo prazo que precisa ser feito;, afirmou Defourny.