postado em 27/08/2010 08:15
O Brasil tem hoje mais de 21 milhões de idosos. Um grupo que já representa mais de 10% da população brasileira. O país que antes era considerado jovem está cada vez mais amadurecido. Devido ao aumento da qualidade de vida e da redução das taxas de natalidade, a pirâmide etária brasileira se transformou mais rápido do que em nações desenvolvidas. Significa menos tempo para o governo se adaptar ao povo mais velho e suprir as necessidades dessa população exigente e mais vulnerável. Melhorias no sistema de saúde e previdência social são as demandas mais urgentes.Na última década, políticas voltadas para a terceira idade começaram a ser discutidas. Em 2003, resultado de diversos debates e estudos, surgiu o Estatuto do Idoso. De acordo com o presidente do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI), José Luiz Telles, a criação do estatuto mostrou-se eficaz, mas funciona apenas como um documento de referência que deve ser usado para direcionar políticas públicas que ainda precisam ser implementadas. ;É também um instrumento para construção de uma identidade cidadã participativa e para o esclarecimento da população idosa;, completa.
O chefe do Centro de Medicina do Idoso do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Renato Maia, afirma que as questões abordadas pelo estatuto devem ser todas executadas. ;Propostas como o direito a medicamentos, órteses e próteses ainda não foram totalmente concretizadas;, reclama. Para o especialista, uma série de questões devem ser enfrentadas pelos próximos governantes em diversas áreas, mas principalmente na saúde e na previdência. ;Os idosos fazem parte de um grupo vulnerável, precisam de mais atenção e apoio;, diz.
;O próximo presidente vai ter que apresentar melhorias quanto à aposentadoria. Enfrentar uma revisão da política previdenciária, que tem que ser viável, mas sem reduzir o valor recebido pelos aposentados;, explica. Maia acredita que a aposentadoria funciona como um redutor da pobreza. E completa: ;O ministro da Previdência não pode ser um cargo político apenas, mas principalmente técnico. Se essa política não tiver um olhar para o futuro, pode causar grande insatisfação;. Telles, por sua vez, vai além. Defende que o desenvolvimento sustentável do país deve ser mantido, para que a renda do aposentado fique para ele e não para o sustento de seus familiares. ;Com emprego e assistência social, isso pode ser possível;, sugere.
Alternativas
A população idosa chega a gastar um terço da renda apenas com saúde e não se sente bem assistida pelo sistema. Os dois especialistas defendem a criação de alternativas, desde que não sejam hospitais, para o tratamento dessas pessoas. Renato Maia explica: ;Se isso não acontecer, os hospitais públicos do país vão passar por um grande processo de geriatrização. A maioria dos leitos será ocupada por idosos que não sofrem apenas de problemas de saúde, mas também sociais;. A solução seria aprimorar modelos de atendimento especial, estimular a permanência do idoso em casa e em convívio social.
;Poderiam ser implementadas bolsas de auxílio para famílias que cuidam de seus idosos para evitar que eles sejam encaminhados aos hospitais;, diz Maia. Mas com limites. ;Idosos com doenças crônicas e incapacitados extrapolam o potencial de cuidados dos familiares, que acabam recorrendo a instituições de longa permanência que nem sempre tem estrutura para cuidar desses pacientes;, explica. Telles defende, como medida, a implementação de políticas nacionais com novas estratégias para o atendimento médico domiciliar, como o Saúde da Família.
Medidas de valorização e inclusão do idoso no convívio em sociedade também serão fundamentais. ;Trabalhadores chegam aos 60 anos com mais saúde. Se escolherem continuar na ativa, essas pessoas devem ser mantidas no mercado de trabalho, com vantagens como horário diferenciado;, sugere Telles. Também funciona como medida de inclusão a criação de parques públicos participativos, com acesso para os idosos. ;Ambientes mais favoráveis, sem barreiras ou obstáculos, para facilitar a acessibilidade desse público e incentivar o idoso a ter uma postura mais ativa;, explica Maia. Esses espaços públicos participativos serviriam para evitar o isolamento social dessas pessoas.
Aldira Rodrigues Dutra, 82 anos, conta com lucidez sobre o dia em que saiu do Piauí e veio a Brasília ainda na época da construção da cidade. Ela está no Lar dos Velhinhos, de Sobradinho, há três anos e é uma das mais ativas da instituição. Apesar dos cuidados recebidos no Lar dos Velhinhos, falta na vida de Aldira um maior contato com o mundo externo. Ela não lamenta, ao contrário, aproveita a visita de todos de fora para sugar as experiências e não se entregar de forma alguma ao rótulo da velhice. ;Sou velha, mas esperta. Fico aqui quietinha, mas presto atenção em tudo o que acontece ao meu redor;, conta. Para pessoas como Aldira, políticas de inclusão social e valorização do idoso são essenciais.