postado em 05/09/2010 10:30
Em uma eleição recheada de estrelas do cenário político brasileiro, quem brilhou em 1994 foi um acriano de ideas nacionalistas e que falava rápido devido à falta de tempo no horário de propaganda eleitoral gratuita. O eleito para governar o país foi Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas quem desbancou Leonel Brizola (PDT), Orestes Quércia (PMDB) e Esperidião Amin (PPR) ; então caciques no plano nacional ; foi Enéas Carneiro, que chegou na terceira colocação, atrás apenas de FHC e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Enéas, na época filiado ao Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), conseguiu mais de 4,6 milhões de votos.Mas se a eleição de Fernando Henrique já era previsível por causa do sucesso do Plano Real, a ascensão de Enéas Carneiro foi inesperada. ;Era o sintoma dos partidos e dos candidatos da época;, observa o senador Pedro Simon (PMDB-RS). A longa barba, o bordão ;meu nome é Enéas;, os grandes óculos de grau e o discurso nacionalista fizeram com que o candidato ; falecido em maio de 2007 ; fosse o diferencial das eleições daquele ano. ;A originalidade dele ajudou muito, como o momento em que dizia que seu nome era Enéas;, lembra Simon. Em 2002, Enéas foi eleito para a Câmara dos Deputados por São Paulo com 1,57 milhão de votos ; a maior votação de todo o Congresso até hoje.
Em 1994, o Brasil passava por um momento eufórico, tanto na política quanto na economia e no futebol. O então presidente, Itamar Franco, criara o Plano Real, que garantiu o controle da inflação. Nos Estados Unidos, a Seleção Brasileira sagrou-se tetracampeã na Copa do Mundo. Logo nos primeiros meses de pesquisas eleitorais, Lula aparecia à frente dos demais pré-candidatos, até surgir em seu caminho o ex-ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. Conhecido como um dos idealizadores do Real, em pouco tempo se tornou o principal adversário do petista. A eleição de FHC também se deu pelos índices de aprovação de Itamar, que, ao fim de seu governo, tinha 55% de aprovação popular.
;O Itamar foi um grande líder e orientador nesse período eleitoral;, afirma Simon, então líder do governo no Congresso. Mas o candidato escolhido em um primeiro momento não seria Fernando Henrique, que disputava a vaga com outros dois políticos: o próprio Simon e Antônio Britto, ex-ministro da Previdência Social. O senador descartou seu nome e ficou ao lado de Britto, que relutava porque desejava o governo do Rio Grande do Sul, seu estado natal. Além disso, como era do PMDB, o ex-ministro não queria medir forças em uma convenção com o presidente do partido na época, Orestes Quércia, que acabou sendo o candidato peemedebista à Presidência da República.
O próprio FHC não acredita que um ministro da Fazenda poderia se tornar um presidente da República. ;Ele (o ministro) pode ser um bom cabo eleitoral, mas não candidato;, teria dito a Itamar e a outros aliados. Porém, com o auge do Plano Real e um reajuste dado aos aposentados, em pouco tempo FHC se tornou o preferido da população. Na contramão de todos, o PT criticava as medidas econômicas do Executivo. ;Os petistas, que vinham com Lula para presidente, diziam que o Plano Real seria um fracasso;, conta Simon.
Derrapadas
As derrapadas eleitorais, que ocorrem em quase todos os pleitos do mundo, também ocorreram em 1994. O embaixador Rubens Ricupero, que assumira o Ministério da Fazenda no lugar deixado por FHC, foi flagrado por câmeras dizendo que ;no governo a gente dá os números bons e esconde os maus;. A saia justa se deu no momento em que ele conversava com um jornalista momentos antes de uma entrevista, mas o som acabou sendo captado.
Apesar de ter sido exaustivamente explorado pelo PT, o caso não teve qualquer influência na eleição de Fernando Henrique Cardoso, que ganhou em primeiro turno, com uma diferença de mais de 17 milhões de votos sobre Lula. Justamente dois meses antes de surgir a internet no Brasil, que começou a funcionar em 19 de dezembro.
Resultados
Em 1994 não houve segundo turno para a disputa presidencial.
Veja como ficou a votação:
Candidatos - Votos recebidos
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) 34.364.961
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) 17.112. 255
Enéas Carneiro (Prona) 4.671.457
Orestes Quércia (PMDB) 2.772.121
Leonel Brizola (PDT) 2.015.836
Esperidião Amin (PPR) 1.739.894
Carlos Antônio Gomes (PRN) 387.738
Hernani Goulart Fortuna (PSC) 238.197
Para saber mais
O mundo há 16 anos
O ano de 1994 foi marcado pelo início de uma nova era na África do Sul, onde Nelson Mandela se tornou o primeiro presidente negro da história do país. Sua posse ocorreu em maio. O restante do continente, no entanto, continuava sendo palco de violência. Os presidentes das etnias hutu Juvenal Habyarimana, de Ruanda, e Cyprien Ntaryamira, do Burundi, sofreram atentado no Aeroporto de Kigali e morreram. O fato motivou um genocídio de ruandeses, em abril, mesmo mês em que a África do Sul voltou a ter eleições multirraciais.
Naquele ano a violência também tomou conta da Sérvia, onde houve uma série de conflitos. O primeiro deles ocorreu em fevereiro, com 68 pessoas mortas quando um ônibus invadiu um mercado público de Sarajevo.
Na Itália, o atual primeiro-ministro, Sílvio Berlusconi, começava sua ascensão ao poder, quando foi eleito para o legislativo, em março.
O mundo também perdeu algumas personalidades famosas em 1994. Morreram o ex-presidente norte-americano Richard Nixon e a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy, em abril e maio, respectivamente. Também morreu, em maio, Erich Honecker, que governo a Alemanha comunista por 18 anos e chegou a ser preso depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. (EL)