postado em 05/09/2010 10:02
São Paulo ; Na disputa pela cobiçada cadeira de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seis candidatos fazem campanha na pindaíba e praticamente no escuro. Eles não aparecem nas pesquisas de intenção de voto, não são convidados para debates e sabatinas e raramente têm espaço na mídia. No horário eleitoral, aparecem por menos de um minuto. Nas ruas, têm que se apresentar ao eleitor pelo nome, porque a maioria nunca ouviu falar da figura.É nesse cenário de desânimo que os candidatos nanicos à Presidência da República Ivan Pinheiro (PCB), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix (PRTB), Plínio Sampaio (PSol), Rui Pimenta (PCO) e Zé Maria (PSTU) tentam um lugar ao sol. De antemão, todos os seis sabem que nem sequer têm chance de chegar ao segundo turno. Neste momento, os nanicos lutam por visibilidade e por oportunidade de expor suas ideias.
;Concorrer com campanhas bilionárias como a da Dilma Rousseff (PT) e a do José Serra (PSDB) tira a força de qualquer um;, diz o candidato Rui Pimenta, 52 anos, jornalista. Enquanto as campanhas do PT e do PSDB preveem gastos na casa do bilhão, a do candidato do PCO não passará de R$ 10 mil. ;Não faço mais corpo a corpo porque é perda de tempo;, sentencia. Rui Pimenta começou a campanha distribuindo panfletos pelo Centro de São Paulo. Sob sol escaldante, descobriu que sair apertando a mão de eleitores pela rua não dá voto quando o candidato é desconhecido.
Atualmente, ele concentra a sua campanha minguada em recursos financeiros na internet e nos 57 segundos a que tem direito na televisão. ;Ainda assim, não gravamos nem um programa novo porque não temos dinheiro. Aproveitamos uns vídeos que tínhamos feitos para a internet;, conta o candidato, que conseguiu, em campanha, visitar apenas três estados.
Caridade
O advogado Ivan Pinheiro, 64 anos, declarou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pretende gastar até R$ 200 mil na campanha para presidente da República. Hoje, ele mesmo ri desse valor, pois não conseguiu arrecadar nem 10% do previsto. ;Estou mais preocupado em mostrar o que eu e o meu partido pensamos;, ressalta. Ivan avisa que começou a cortar os parcos recursos de campanha porque há um risco de o dinheiro acabar antes mesmo de encerrar o prazo de campanha de rua, permitida até 2 de outubro. ;A Dilma, o Serra e a Marina Silva (PV) gastam juntos R$ 1 milhão por dia em campanha. Eu sequer tenho dinheiro para pegar um avião e visitar outra capital;, lamenta o candidato comunista.
Mesmo sem capital, Ivan conseguiu fazer viagens para pedir votos em 17 estados. Ele diz que, assim como os principais candidatos, depende da caridade alheia para se locomover. ;Algumas viagens eu consegui fazer porque uma companhia aérea fez uma promoção de passagens a R$ 50. Compramos vários bilhetes divididos no cartão em três vezes sem juros;, conta. No Nordeste, Ivan viajou de Natal para Recife, de Recife para Natal e de Aracaju para Recife de ônibus leito. ;Já perdi as contas de quantas viagens em campanha fiz de São Paulo para o Rio de Janeiro em transporte coletivo;, ressalta.
Já o candidato Levy Fidelix, 58 anos, jornalista, conseguiu visitar sete estados e mais o Distrito Federal, mesmo com pouco dinheiro em caixa. No TSE, declarou que pode gastar até R$ 10 milhões em campanha. Até sexta-feira, seu comitê financeiro não havia arrecadado nem R$ 100 mil. ;Uma campanha sem recursos, sem espaço na televisão não dá apenas desânimo. Dá também uma ira interna terrível;, desabafa o candidato. Seu sonho era poder participar dos debates nas tevês abertas e expor as suas ideias para todos os eleitores. ;Enquanto o modelo for esse, de uns candidatos com 20 minutos na televisão e outros com 57 segundos, a campanha não é um modelo de democracia;, queixa-se.
Vale expor as ideias
Os seis candidatos nanicos que se candidataram ao Palácio do Planalto são unânimes ao dizer que estão na disputa para expor ideias. Mas, na hora de mostrar a cara na tevê, poucos deles se expressam de maneira clara e atraente. Rui Pimenta (PCO), por exemplo, usa uma linguagem inacessível e rebuscada até para o eleitor que tem um pouco de instrução. O programa abre com uma trilha sonora de filme de terror. ;O petróleo serve apenas para enriquecer especuladores da Bolsa de Valores de Nova York. Fora os especuladores;, emenda o candidato.
Já Ivan Pinheiro (PCB) usa o programa para falar quase sempre de política internacional. No apresentado na última sexta-feira, ele resolveu comentar sobre a soberania da nação mais rica do mundo. ;Os Estados Unidos instalaram bases militares na Colômbia. Deram golpes em Honduras e botaram tropas no Haiti e na Costa Rica;, disse. Depois, ele sugere que o Brasil lidere um movimento para expulsar os norte-americanos da América do Sul.
Para o especialista em marketing político Cláudio Rodrigues Júnior, da Universidade de Campinas, a falta de recursos é o principal entrave dos candidatos que não ganham expressão na corrida eleitoral, mas a falta de clareza na hora de se expressar também afugenta os eleitores. ;O Enéas conseguia passar a sua mensagem em segundos porque era claro e caricato;, exemplifica Rodrigues Júnior. Ele lembra ainda que os especialistas que ensinam políticos a falar em público cobram uma fortuna pelo treinamento.
Renegados
O empresário José Maria Eymael (PSDC), 70 anos, e o intelectual Plínio Sampaio (PSol), 80 anos, são os únicos nanicos na corrida presidencial que conseguem se expressar bem quando aparecem na televisão. Mas, assim como os demais, são renegados em debates e sabatinas. Plínio conseguiu até descolar convites para programas de TV e rádio. Ainda assim, sua exposição não foi suficiente para marcar pelo menos um ponto nas pesquisas de intenção de voto. Além da falta de dinheiro, os dois também reclamam de falta de recursos para fazer um programa de televisão mais bem produzido.
O metalúrgico Zé Maria, 52 anos, do PSTU, queixa-se também da falta de recursos e defende que a distribuição do tempo na televisão seja igualitária. Apesar disso, ele conseguiu a muito custo visitar 20 estados com apenas R$ 26,9 mil em caixa. No Tribunal Superior Eleitoral, ele disse que poderia gastar até R$ 300 mil. ;A minha campanha é modesta por falta de dinheiro. Mas a falta de recursos nem é o maior problema. A desigualdade está na distribuição do tempo na televisão e na falta de convites para debates. Nunca me chamaram para uma sabatina;, reclama. Sem dinheiro, Zé Maria recorre ao corpo a corpo. Acorda cedo e vai para a porta de fábricas distribuir panfletos e conversar com metalúrgicos na tentativa de conseguir votos.(UC)
Eu prometo
Veja as principais propostas dos candidatos nanicos
Ivan Pinheiro (PCB)
Considera prioritária a área de infraestrutura, como portos, estradas, geração e transmissão de energia. No campo, o comunista diz que vai fazer uma reforma agrária comandada por trabalhadores. Ele tem planos de construir grandes fazendas estatais e cooperativas agropecuárias em regime de usufruto e de propriedade estatal.
José Maria Eymael (PSDC)
Promete assegurar a todos igualdade de oportunidade, independentemente das condições sociais e econômicas de origem. Às pessoas carentes, diz que vai assegurar o direito de acesso à educação em todos os níveis, inclusive em escolas de ensino privado. Nesse último caso, por meio de bolsas de estudos e de crédito educativo.
Levy Fidelix (PRTB)
A maior bandeira do candidato é o aerotrem, apontado por ele como solução para desafogar o trânsito nas grandes capitais. O veículo, semelhante a um metrô de superfície, seria movido por condutores magnéticos. O político promete ainda que todas as crianças terão uma caderneta de poupança, bancada com recursos federais, no valor de quatro salários mínimos.
Plínio Sampaio (PSol)
Defende uma reforma agrária em que os movimentos sociais possam fazer ocupações à vontade. Ele limita, ainda, o tamanho das propriedades rurais em no máximo 1.000 hectares. Todas as terras que excederem essa medida deverão ser expropriadas. Plínio também promete reestatizar a Companhia Vale do Rio Doce.
Rui Pimenta (PCO)
Defende a expropriação de todas as terras do Brasil, inclusive as produtivas. Segundo ele, em poder do governo federal, as terras seriam distribuídas de maneira igualitária. Ele também promete estatizar todos os hospitais privados para manter a saúde sob o domínio da população. Se eleito, também vai criar uma polícia totalmente controlada pelo povo.
Zé Maria (PSTU)
Tem como principal bandeira uma reforma previdenciária que aumente o valor das aposentadorias. Também pretende estatizar o sistema bancário para controlar a inflação. Outra promessa é transformar o bolsa-família em um programa que supra as necessidades da população carente de forma indireta, criando trabalho, dando educação e qualidade de vida.