Eleicoes2010

Candidata Dilma Rousseff age como uma quase chefe de Estado

Cuidados na organização de agendas públicas e distância imposta entre a candidata e o eleitorado aproximam o tratamento dispensado a petista do utilizado para presidentes

Daniela Almeida
postado em 06/09/2010 08:13
Apesar de a ex-ministra Dilma Rousseff (PT) bater na tecla de que, mesmo com os resultados das últimas pesquisas apontando para uma possível vitória em primeiro turno, não tem clima de já ganhou em sua campanha, os cuidados na organização de compromissos eleitorais com a candidata petista são muito similares àqueles dispensados a eventos com a presença de chefes de Estado.

Em visita semana passada à unidade do Senai, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva formou-se torneiro mecânico, na cidade São Paulo, a presidenciável recebeu o mesmo tratamento da época em que era ministra-chefe da Casa Civil. A imprensa, por exemplo, foi colocada pela assessoria numa espécie de cercado com grades de ferro, distante da petista. O mesmo cercado isolava a entrada e a saída de Dilma, restringindo o acesso a ela. Não foi permitido aos jornalistas, cinegrafistas ou fotógrafos acompanharem a candidata durante a visita e, ao fim, Dilma respondeu às perguntas dos repórteres a partir de um púlpito. ;Na minha campanha não tem clima de já ganhou, porque quem dá o clima da campanha sou eu;, disse a candidata na ocasião.

Em coletiva da imprensa ontem, em Brasília, Dilma afirmou que pretende aprimorar os mecanismos de controle dos dados da Receita FederalDilma, aliás, não gosta de microfones próximos ao seu rosto. Prefere sempre falar no púlpito. Os assessores sempre levam bronca por deixarem os repórteres nas suas costas. Ela não gosta de ter de se virar para responder. Pede que o cordão de isolamento seja feito a partir do seu campo de visão.

Em outro compromisso de campanha, durante panfletagem na porta de uma fábrica automotiva em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, o presidente Lula, que acompanhava Dilma, ficou surpreso com a estrutura que encontrou. O que deveria ser um corpo a corpo com os trabalhadores virou comício. Havia no lugar estrutura metálica e área delimitada à imprensa, impedindo o acesso dos repórteres à comitiva.

Irritação
O presidente chegou a demonstrar irritação em sua fala, do alto do carro de som. ;A gente não queria uma estrutura dessas. A ideia não era fazer comício aqui;, disse Lula, ao explicar que a intenção era fazerem ali o tradicional ;porta de fábrica;, em que pudessem distribuir panfletos e apertar a mão dos funcionários na entrada do turno. O corpo a corpo com os funcionários só ocorreu dentro dos portões da fábrica.

Mesmo com a presença de Lula apenas como correligionário, fora do ;horário de trabalho;, conforme estabelecido por manual da Advocacia-Geral da União, a imprensa foi avisada que só poderia fazer a cobertura caso estivesse credenciada. A prática, pouco usual em eventos de campanha eleitoral dos outros candidatos, foi adotada em outras agendas com Dilma, em Uberlândia (MG), Salvador (BA) e, mais recentemente, em Guarulhos (SP). Segundo a assessoria da candidata, a medida vem sendo tomada devido ao número de profissionais envolvidos na cobertura. ;Temos cadastrado cerca de 200 profissionais por evento;, disse uma assessora.

Chegar perto da candidata, mesmo no corpo a corpo, nem sempre é tarefa fácil para o eleitor. Em seu primeiro compromisso, no lançamento da campanha oficial, em Porto Alegre (RS), foi montado um cordão de isolamento para que Dilma chegasse ao carro de som e fizesse o discurso. Depois de discursar, a petista desceu do carro rumo ao Mercado Municipal da cidade, a poucos metros da praça onde acontecera o comício. Dezenas de seguranças protegiam a candidata.

Ao chegar perto de uma escada rolante que dava acesso ao piso superior, os seguranças barraram o acesso à comitiva. Como o número de pessoas acompanhando a candidata era grande, a ;barreira; quase culminou em acidente. Aos gritos de apelo de uma jornalista de que aquele era um local público, os seguranças liberaram a passagem, mas Dilma optou por desistir do compromisso. ;Posso até gostar do tumulto, mas não posso incomodar os outros;, justificou à época.

Aceno
Já no primeiro comício em São Paulo, também no início oficial da corrida às urnas, a candidata mal participou da caminhada organizada. Dilma chegou já no fim do percurso e juntou-se ao grupo formado pelos candidatos de sua chapa ao Senado, Marta Suplicy (PT) e Netinho de Paula (PCdoB), e pelo candidato ao governo pelo PT, Aloizio Mercadante. De dentro do cordão de isolamento, Dilma acenou para a multidão.

MÉDICOS RECOMENDAM DESISTÊNCIAS DE QUÉRCIA
; Candidato ao Senado por São Paulo, Orestes Quércia (PMDB) deve oficializar hoje a desistência da candidatura para se dedicar ao tratamento contra um câncer de próstata. O tema foi discutido ontem com a cúpula tucana. Inicialmente, o peemedebista afirmou que insistiria na campanha porque não tinha restrições de saúde. Correligionários do candidato afirmaram, contudo, que recomendações médicas e dores fortes que ele sentiu nos últimos dias o fizeram repensar. Na costura sobre a desistência, Quércia decidiu apoiar o companheiro de chapa Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB. Para garantir mais tempo no horário eleitoral gratuito, o peemedebista interferiu na mudança de suplente de Nunes, que agora será Airton Sandoval (PMDB), e não mais Sidney Beraldo (PSDB).

A polêmica do hospital

Izabelle Torres

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, negou que tivesse conhecimento de que o Hospital Estadual da Criança (HEC), de Feira de Santana (BA), citado em seu programa eleitoral como exemplo para os serviços de saúde, funcione precariamente. Segundo ela, os leitos estavam prontos para receber pacientes e iriam começar a ser usados no dia em que ela visitou o local. Graças à beleza do lugar, a petista dedicou quase um minuto do horário eleitoral a elogiar a unidade.

;Deve ter algo errado. Eles me informaram que passariam a atender naquele dia e que tudo estava funcionando. Os médicos, inclusive, me disseram que aquele era o melhor centro de tratamento intensivo da região. Só se me faltaram com a verdade;, diz ela.

A diretoria do hospital relatou ao Correio na última quarta as reais condições do que foi citado como modelo de atendimento à saúde pela candidata: apenas 27 dos 180 leitos previstos inicialmente do Pronto-Atendimento estão aptos a receber pacientes; os centros cirúrgicos ainda não podem ser usados; equipamentos, como o tomógrafo, nem sequer chegaram, e ainda faltam médicos.

A candidata também negou que tenha pegado carona no trabalho de uma creche situada numa área rural próxima ao Varjão, dando a entender em seu programa eleitoral que o governo dava apoio à entidade. ;Fui lá para mostrar como deve ser uma creche. O governo não contribuiu mesmo com a instituição. Nem poderia;, garante. A creche Dona Diva, mostrada pelo Correio, é comandada por Ana Paula Soares, assessora do deputado Antonio Pallocci (PT-SP), e vive de doações de voluntários.

Em entrevista coletiva na tarde de ontem, Dilma disse que pretende aprimorar os mecanismos de controle da Receita Federal para evitar vazamentos de sigilos, como os ocorridos com a filha do candidato do

PSDB à Presidência, José Serra. A candidata disse também que tem postura diferente do ex-presidente Fernando Collor de Mello, mas que não negaria o apoio que ele tem lhe dado. ;Se ele quer me apoiar, aceito, apesar de ter postura e trajetória diferentes da dele;, ressalva.

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