Juliana Boechat
postado em 07/09/2010 06:46
A troca de farpas entre os dois principais candidatos ao Governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT) e Joaquim Roriz (PSC), dominou a propaganda eleitoral gratuita que foi ao ar na tarde e na noite de ontem. Além de apresentar propostas para os moradores do DF e expor ações realizadas em administrações anteriores, os dois aproveitaram o horário nobre na televisão e no rádio para atacar o adversário. Quem assiste aos programas na esperança de conhecer o perfil dos postulantes aos cargos públicos fica em meio ao fogo cruzado e é bom que os eleitores se acostumem. A tendência é que o clima da campanha esquente ainda mais durante o último mês.
Desde a última quarta-feira, Joaquim Roriz subiu o tom no programa eleitoral, que está mais agressivo. Logo no início dos seis minutos que dispõe para expor suas ideias, ele rebate as declarações dos adversários e reafirma a participação na disputa ao Palácio do Buriti. ;Campanha se faz com promessas e realizações. Eu estou sofrendo um complô por parte dos meus adversários e de alguns setores da mídia, que dizem por aí que eu não sou candidato;, diz. Segundo ele, apenas o Supremo Tribunal Federal, ;o guardião da Constituição Federal;, pode tirá-lo da disputa antes de outubro. A mudança no estilo do discurso foi articulada após as recentes derrotas do candidato na Justiça Eleitoral, que o enquadrou na Lei da Ficha Limpa e as pesquisas de intenção de voto que têm apontado o crescente interesse do eleitorado pelo candidato do PT.
Até o início do mês, Roriz não havia utilizado o tempo que dispõe na TV e no rádio para atacar os demais concorrentes. Mas desde a última sexta-feira, o programa tomou novo rumo. Os rorizistas citam a investigação da Polícia Civil do DF batizada de Operação Shaolin, que apontou supostos desvios de recursos federais do Programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, quando Agnelo era o responsável pela pasta. O programa do PSC cita ainda reportagem publicada, no primeiro semestre deste ano, em uma revista de grande circulação que levanta suspeitas sobre a renda do candidato e o terreno da casa onde vive, no Lago Sul. Também tem sido reprisado um depoimento de uma eleitora petista que, supostamente, tem passagem pela polícia. ;Ela é conhecida na Estrutural. É direito nosso colocá-la no programa. Agora, é o TRE que decide;, rebate Paulo Fona, coordenador de Comunicação da campanha de Roriz.
;Desespero;
Logo após a provocação do ex-governador, começa o programa petista. A apresentadora caracteriza os ataques do adversário como um ato de ;desespero;. No programa da hora do almoço, ao fim dos sete minutos e 27 segundos de propaganda, sob um fundo azul, pode ser lido um texto que cita as decisões da Justiça Eleitoral de barrar o registro de candidatura de Roriz. ;O TSE confirma que ele está inelegível depois de ter renunciado ao cargo de senador pelo escândalo da Bezerra de ouro. Ele ainda apelará ao Supremo. Mas seja qual for a decisão, ele ficará inelegível por 12 anos;, diz o enunciado. O trecho do programa causa polêmica desde 18 de agosto, quando os candidatos estrearam na televisão e no rádio, quando o narrador lia um texto apontando Roriz como um político ficha suja. O ex-governador entrou com um pedido de resposta no TRE, mas não conseguiu suspender a exibição (veja cronologia).
À noite, o PT ampliou os ataques. O programa de Agnelo chegou a veicular um diálogo entre Roriz e o ex-presidente do BRB Tarcísio Franklin, oriundo de escuta policial, em que os dois tratam do recebimento de R$ 2,2 milhões. Depois, foram veiculadas imagens do ex-governador explicando-se na tribuna do Senado, dizendo que o dinheiro seria para comprar uma bezerra. Em seguida, a propaganda mostra recortes de jornal sobre a renúncia de Roriz e afirma que, por isso, ele foi considerado inelegível pela Justiça Eleitoral.
Agnelo garante que não vai pagar os apelos do programa eleitoral de Joaquim Roriz na mesma moeda. No entanto, avisa que dará continuidade à linha de explicações aos eleitores. ;Ao esclarecer a população sobre alguma situação imediata, não estamos fazendo um ataque pessoal. Dizer que ele está impedido pelo tribunal é fato;, explica. ;O desespero dele é notório. Quanto mais ataca, mais cai nas pesquisas.; Roriz garantiu que continuará a rebater as acusações. ;Eu disse que eu dançaria conforme a música;, garante. E ameaça: ;Tem muita coisa gravíssima para aparecer. São coisas insustentáveis;.
- O TRE do Distrito Federal informa que não envia e-mail aos eleitores comunicando o cancelamento do título eleitoral
Cronologia
; 19 de agosto
A Coligação Esperança Renovada entra com um pedido de resposta no Tribunal Regional Eleitoral. Os advogados de Roriz questionam a locução apresentada pelo programa de Agnelo que chama Roriz de político ficha suja e informa sobre a impugnação da candidatura.
; 20 de agosto
A Justiça Eleitoral determina que a coligação Um Novo Caminho, encabeçada por Agnelo, retire do programa eleitoral o trecho, sob pena de multa.
; 21 de agosto
Os juízes eleitorais Josafá Francisco e Teófilo Rodrigues Caetano Neto reforçam a decisão. A coligação então reformula a propaganda, mas mantén na divulgação o trecho que cita a impugnação de Roriz.
; 22 de agosto
O Ministério Público Eleitoral se manifesta sobre o pedido de resposta da Coligação Esperança Renovada, de Roriz, em relação ao programa do PT. Segundo o procurador eleitoral, os esclarecimentos devem ocorrer durante o tempo de propaganda eleitoral de que dispõe Roriz, não sendo necessário, portanto, outro momento para responder às acusações consideradas inverídicas por seus defensores.
; 26 de agosto
A juíza eleitoral Nilsoni de Freitas Custódio concede direito de resposta a Roriz. Por um dia, ele ganha um minuto do programa do petista para se defender das acusações.
; 27 de agosto
Insatisfeitos com a decisão, os advogados da coligação Um Novo Caminho entram com um pedido para suspender a liminar que concede um minuto da propaganda gratuita de Agnelo ao candidato do PSC. A defesa entra também com recurso no TRE-DF para que a decisão seja analisada por todos os membros do tribunal.
; 30 de agosto
O Tribunal Regional Eleitoral suspende o direito de resposta de Roriz. Até o julgamento do pedido de resposta em plenário, a liminar permanece impedida.
; 31 de agosto
O juiz nega o direito de resposta a Roriz, que solicitava a retirada de informações sobre a condenação sofrida por ele na Justiça Eleitoral no programa petista. ;Por ter sido amplamente divulgado pela mídia, pode ser replicado como matéria de campanha;, destaca o magistrado Caetano Neto.
O povo fala
O que você acha da troca de farpas entre os candidatos ao Palácio do Buriti?
Josimar Lima da Cruz,
26 anos, pintor, morador de Águas Lindas (GO)
;Prejudica os dois candidatos e o eleitor. A eleição daqui é feita na base da intriga de um contra o outro. Com tanta violência nas ruas, ainda vemos os dois candidatos reproduzindo isso na TV. É só conversa e nada de mostrar as propostas. Eles deviam fazer mais e falar menos.;
Reinaldo Timóteo Borges,
52 anos, auxiliar judiciário, morador do Gama
;Acho a discussão válida. É uma forma de conhecermos os candidatos. É fundamental que cada um mostre as propostas, mas se o outro candidato não falar um pouco do passado do adversário, podemos não saber quem é a pessoa. Mas eles focam muito nisso. É briga demais e promessas insustentáveis demais.;
Fernanda Beatriz da Silva Sady,
32 anos, artesã, moradora do Guará
;Estou cansada disso. Eles deviam mostrar as propostas e não bater boca. Eu ainda não sei em quem vou votar. Mas com certeza não votaria naquele que só critica os outros.;
Maria de Fátima Pedrosa,
41 anos, funcionária de serviços sociais, moradora do Recanto das Emas
;É muito ruim. Ao invés de mostrar as propostas, eles se agridem em público. Assim, não tem como a população saber quem é quem e votar de forma consciente. Às vezes, as propostas são boas, mas não ficamos sabendo por causa das discussões. Eu quero escolher alguém que tenha projetos e não que critique os outros sem parar.;