postado em 12/09/2010 08:00
Num ano de arrecadação de campanha escassa, os deputados federais contam com uma ajuda extra na tentativa de reeleição. Em vários itens, a cota para o exercício da atividade parlamentar se confunde com despesas próprias de uma eleição. Só com o fretamento de aeronaves, os parlamentares gastaram R$ 748 mil nos dois primeiros meses de disputa eleitoral. A locação de carros consumiu mais R$ 1,2 milhão. A contratação de consultorias, R$ 1,1 milhão. Com o dinheiro da Câmara, são contratados institutos de pesquisa, agências de comunicação e marketing e escritórios de advocacia. Os deputados afirmam que esses profissionais não são usados na campanha, mas a Câmara não fiscaliza a natureza dos serviços. Em vários gabinetes, os gastos com telefonemas estouraram nos dois últimos meses. Em Brasília, o plenário está vazio, não há votações, mas a campanha está movimentada nos estados.O deputado Edinho Bez (PMDB-SC) gastou R$ 9 mil em julho com consultoria. A empresa Balbinot Comunicação trabalha para o deputado há seis anos. Ele explica quais serviços são prestados. ;É agência de publicidade: assessora, faz estudos, pesquisas. É amplo. Na divulgação, eles me ajudam quando queremos divulgar um projeto. Eles fazem também um trabalho para divulgar nas rádios e nos jornais.; Lembrado de que os gastos com divulgação são vetados pela Câmara nos seis meses anteriores à eleição, ele refaz a explicação: ;Nesse período eleitoral, parou. Retorna em outubro, depois da eleição;. Os pagamentos foram mantidos de janeiro a julho. O deputado se justifica dizendo que isso ocorreu porque o contrato é anual. ;O trabalho deles é por ano. Eu calculo a média e pago por mês.;
O aluguel de aeronaves facilita o deslocamento principalmente nos estados de maior extensão, com cidades distantes até mil quilômetros da capital. O deputado Zé Vieira (PR-MA) já havia gasto R$ 160 mil com táxis aéreos no primeiro semestre. No primeiro mês de campanha, torrou R$ 60 mil para visitar seis municípios da sua base eleitoral. Em setembro, mais R$ 28 mil, e esteve em três novas cidades. Homero Pereira (PR-MT) consumiu R$ 39 mil em julho com viagens aéreas de Cuiabá para Colíder, Alta Floresta e Guarantan. Segundo a sua assessoria, os deslocamentos foram necessários para a realização de audiências públicas sobre o Código Florestal. Os parlamentares do Maranhão foram os que mais gastaram com táxi aéreo. Um total de R$ 115 mil. Entre as bancadas, a liderança foi do PR, com despesas de R$ 168 mil.
Transporte
O deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) também integra a lista dos que tiveram gasto elevado com transporte em julho. Além de aplicar R$ 10,6 mil em locação de carros e R$ 19,4 mil em fretamento de aeronaves, investiu mais R$ 8 mil com emissão de bilhetes aéreos. Comprou 20 passagens entre Fortaleza e Brasília naquele mês. Há registros de quatro passagens num mesmo dia para um mesmo trecho. Segundo a sua assessoria, isso teria ocorrido porque o deputado marca a viagem e nem sempre consegue chegar a tempo. Assim, é preciso comprar outra passagem, depois outra. A assessoria afirmou que o dinheiro é reposto pela companhia aérea no mês seguinte.
Os cerca de 6 mil candidatos a deputado federal gastaram R$ 2 milhões com locações de carros no primeiro mês de campanha. Os veículos são utilizados para transportar cabos eleitorais, material de campanha e até para servir como carro de som, as chamadas ;baratinhas;. Os dados estão registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os deputados que tentam a reeleição ou buscam uma vaga no Senado (cerca de 400) contaram com um reforço de R$ 900 mil para alugar carros. Mas todos afirmam que os veículos são utilizados apenas no exercício do mandato. O campeão de gastos foi Clóvis Fecury (DEM-MA), com R$ 52 mil em julho e agosto.
No mês de julho, vários deputados aumentaram os gastos com telefonia. João Bittar (DEM-MG) já vinha mantendo despesas em torno de R$ 9 mil com telefone em maio e junho. Em julho, gastou R$ 14 mil. As despesas de Nelson Marquezelli (PTB-SP) com telefonia pularam de R$ 7,2 mil em junho para R$ 12,3 mil no mês seguinte.