Eleicoes2010

Eleitores lembram da época em que o voto era decidido cara a cara

A decisão era tomada em comícios e conversas com os candidatos

postado em 12/09/2010 08:00
Rostos estampados em santinhos e cavaletes, nomes berrados por locutores em carros de som, jingles cantados no rádio e na televisão. Se o espaço é ilimitado, melhor ainda. Na internet, a candidatura é repetida à exaustão em blogs, Twitter, Facebook, Orkut, e-mails... ;Ufa! Isso até cansa. Quando era jovem, não tinha esta amolação toda, não. A campanha era na base do boca a boca e a gente confiava mais nos candidatos;, diz a aposentada Francisca Vilaça, de 83 anos. A despeito do atual bombardeio de pedidos de votos pelas campanhas, eleitores experientes sentem saudade dos tempos em que eleição era conquistada à base de conversa e de comícios.

Francisca tinha 18 anos quando Getulio Vargas foi retirado da Presidência, em 1945, depois de 15 anos de ditadura. ;Lembro-me bem do clima das eleições posteriores à era Vargas. Como não havia TV e pouca gente tinha rádio, os candidatos investiam em comícios. Eles se vestiam da melhor maneira possível e todo mundo da cidade queria participar do evento. Havia uma polarização entre União Democrática Nacional (UDN), que era antigetulista, e Partido Social Democrático (PSD), que era a favor de Getulio;, diz. Segundo ela, a rivalidade era tamanha que militantes dos partidos faziam questão de marcar presença no comício adversário, com a intenção de causar confusão.

A aposentada conta que tinha dois tios rivais políticos. ;Certa vez, um deles contratou um homem com a ordem de comprar todos os ovos da cidade. Uma semana depois, teve um comício e os ovos já estavam podres. A base aliada do tio dos ovos falava para o povo e o outro só espionava. Deus do céu: quando esse homem foi descoberto, voou gema e clara para todo lado;, lembra Francisca, que, naquela época, morava em Itaúna, na Região Centro-Oeste de Minas.

Mas a falta de outros meios de propagação não era restrita aos grotões do país. O aposentado Aluizio Mendes Campos, de 78, diz que os comícios também eram a principal arma das campanhas políticas nas capitais. ;Pouca gente tinha rádio em casa e, por isso, as pessoas se reuniam em praças para escutar os candidatos. Hoje, os comícios praticamente acabaram. Repare: tirando o Lula, ninguém mais faz comício.;

Desconfiança

O excesso de meios de propagação usados pelas campanhas eleitorais é visto com desconfiança . ;Não tínhamos acesso a tantas formas de comunicação, mas conhecíamos bem os candidatos. A internet pode até ter ampliado as possibilidades de conhecimento. Porém, nada adianta se o eleitor não tem senso crítico para filtrar as informações;, diz o aposentado Aluizio Mendes Campos, 78 anos.

A rede virtual, que tem se tornado um dos principais recursos dos jovens para definir o voto, ainda é ferramenta distante dos mais velhos. A aposentada Vênica Santos Lima, 90 anos, não confia na web. ;Ainda não me rendi à internet. Prefiro ouvir as propostas dos candidatos na TV. Mesmo assim, gostava mais dos meus tempos de juventude, quando conhecíamos pessoalmente os políticos. Eram pessoas mais próximas à população;, afirma.

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