Eleicoes2010

Lula ordena a ministros que passem lupa na administração dos Correios

postado em 21/09/2010 07:53
Inconformado com o estouro do caso Erenice Guerra a menos de um mês da eleição, o presidente Lula determinou ontem ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que acione o ministro das Comunicações, José Filardi, e juntos passem um ;pente-fino; na administração da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) ; a mesma que surgiu como pivô do mensalão e agora volta como novo foco nervoso do segundo escândalo a derrubar um chefe da Casa Civil. Primeiro, José Dirceu. Agora, Erenice. A avaliação do presidente é a de que ;a empresa está meio sem rumo e precisa ser saneada e organizada para funcionar a contento.

A conversa em que deu as ordens ao ministro Paulo Bernardo, um dos que Lula mais confia, foi a primeira em que o presidente não soltou uma saraivada de palavrões ; recurso que vinha usando com frequência para se referir ao caso. ;P.., estava tudo bem e essa m; justo agora;, reagiu Lula numa das dezenas de reuniões que convocou na semana passada para avaliar a situação.

Ontem, entretanto, o presidente não estava tão irritado. Em suas reuniões, a preocupação foi cercar os pontos nevrálgicos. Do ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, Lula quis saber a quantas andava a investigação da Polícia Federal. Pela manhã, na reunião de coordenação, quando apresentou o ministro interino da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima, Lula não escondeu a contrariedade quando alguém citou o organograma da família Guerra e os inúmeros cargos que filhos e apadrinhados da ex-ministra Erenice ocuparam no governo federal e nas empresas do GDF, como a Terracap.

Um dos momentos em que Lula demonstrou mais irritação desde que estourou o escândalo foi quando Erenice soltou a nota se referindo a José Serra como ;candidato derrotado;. A segunda, quando veio à tona a informação de que o filho da sua então ministra ; no caso, Israel Guerra, filho de Erenice ; tinha cargo comissionado na Terracap desde dezembro de 2008, sem dar expediente, conforme mostrou o Correio.

Pandora
No período em que Israel foi contratado, a Caixa de Pandora ainda não havia sido aberta pela Polícia Federal. O esquema só veio a público um ano depois. Erenice, entretanto, já era a toda poderosa secretária da Casa Civil, abaixo da ministra Dilma Rousseff. A contratação deu aos palacianos a certeza de que, via Erenice e seus familiares, vários atores tentavam se aproximar do Planalto e da candidata Dilma, que àquela altura já despontava como a favorita de Lula para representar o PT na sucessão presidencial.

O que deixa Lula mais tranquilo é o fato de saber que, dentro de duas semanas, a pauta dos jornais será outra, uma vez que, na avaliação do Planalto e da cúpula da campanha de Dilma, o escândalo Erenice fez barulho, mas não abalou os índices de intenção de voto em favor da candidata Dilma Rousseff. Agora, avaliam, é só não errar e não deixar buracos nas investigações para fechar a eleição no dia 3 de outubro, como calculou o PT desde agosto, quando Dilma ultrapassou Serra nas pesquisas de intenções de voto.

PSDB PEDE INVESTIGAÇÃO EM EMISSORA OFICIAL
O PSDB protocolará nos próximos dias uma ação para que o Ministério Público Eleitoral investigue as denúncias de utilização da estrutura da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para filmar um comício da petista Dilma Rousseff com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com a Folha de S.Paulo, um cinegrafista da emissora chegou a ser advertido por escrito ao se recusar a gravar um evento de Dilma com Lula, sem identificar o canal. ;Há indícios claros de utilização da máquina pública na campanha eleitoral;, afirma o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Em nota, a EBC e a Secretaria de Comunicação da Presidência admitiram as gravações, mas disseram que elas fazem parte das filmagens de eventos públicos do presidente, para constituição de acervo histórico.

; Os muitos tentáculos
Tiago Pariz

A extensão da influência da ex-ministra Erenice Guerra não se limitou ao governo federal por meio de seu filho e ex-assessores da Casa Civil. Houve também evidências de empreguismo no Governo do Distrito Federal e na União. Erenice supostamente agia com intermediários numa rede de relacionamentos políticos construída desde a época em que era funcionária da Eletronorte, em meados da década de 1980. Por meio do senador Gim Argello, conseguiu um posto comissionado na Terracap para o filho Israel, acusado de comandar um esquema de tráfico de influência com braços na Casa Civil e no Ministério da Saúde. Ela também usou o prestígio para conseguir um posto para o irmão José Euricélio Alves de Carvalho na Novacap ; antes ele havia trabalhado no Ministério das Cidades e na UnB.

Na Casa Civil, o esquema era tocado em parceria Israel, Vinícius de Oliveira Castro e Stevan Knezevics, os dois últimos também exonerados. Vinícius é sócio oculto de Israel e Saulo Guerra na Capital Consultoria. A empresa teria atuado na Anac e nos Correios em benefício da MTA Linhas Aéreas.

A família de Erenice atuou ainda para beneficiar amigos. A irmã da ex-ministra Maria Euriza, advogada da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), autorizou um contrato emergencial com o escritório Trajano e Silva, do advogado Márcio Silva, que assessora a campanha de Dilma Rousseff. Antonio Eudacy Alves de Carvalho, outro irmão de Erenice, trabalhava para essa firma. Foi de Erenice a indicação à Presidência dos Correios de David José de Matos, seu ex-chefe e ex-funcionário do GDF.

Dilma reage

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, disse não acreditar que alguém saiba tudo o que acontece na própria família. A declaração, feita durante visita a São Gonçalo (RJ), foi uma resposta às críticas do adversário José Serra (PSDB), que, no domingo, levantou dúvidas sobre o possível envolvimento da petista com as denúncias de pagamento de propina na Casa Civil, pasta da qual Dilma foi ministra até o fim de março. O tucano acusou que ;ou ela não é capaz como dirigente; ou ;é cúmplice;.

Desde que as denúncias vieram à tona, Dilma tem afirmado não ter conhecimento sobre o suposto esquema de tráfico de influência na Casa Civil, que culminou na demissão da ex-ministra Erenice Guerra. ;Não acredito que alguém saiba tudo o que acontece na própria família e também não acredito que alguém saiba o que acontece no governo dele (Serra). O presidente da Desenvolvimento Rodoviário S.A, que ele (Serra) nomeou, sumiu com R$ 4 milhões da campanha dele;, rebateu a candidata do PT.

Recife
Os presidenciáveis José Serra, Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSol) participaram ontem à noite de um debate promovido pela TV Jornal, afiliada do SBT em Recife. Dilma não compareceu. Ao chegar em Recife, Marina fez duras críticas ao governo do presidente Lula, que, segundo ela, ressalta apenas ;as coisas positivas;, mas deixa sem respostas os erros. ;É uma repetição o tempo todo desses graves problemas porque as pessoas querem ligar seus nomes apenas aos acertos;.

Já Serra fez um discurso em que afirmou que se Dilma for eleita, ela e Lula vão brigar em uma semana. ;Não existe isso de ele [Lula] governar por fora. Briga em uma semana. Para político, brigar é facílimo, é a coisa que mais acontece;, disse.

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