postado em 22/09/2010 08:41
Curitiba ; Candidato a governador pelo PSDB, o ex-prefeito de Curitiba (PR) Beto Richa caminhava alegre, entrando de loja em loja, cumprimentando eleitores na rua São José dos Pinhais, sul da periferia curitibana. De repente, em uma loja de roupas, ele franze a testa. A expressão de felicidade desaparece totalmente quando a dona do estabelecimento faz a pergunta: ;É verdade que o senhor vai fechar o Armazém da Família?;. Dali em diante, a fisionomia de Beto se alterou: ;Quem lhe disse isso? É mentira!”, comentou, para alívio da eleitora, que prefere não revelar o nome. ;Todo dia é isso. Espalham mentiras;, desabafou Beto. O armazém é um local onde a população de baixa renda compra produtos 30% mais baratos.A cena acima dá uma ideia do clima acirrado que tomou conta da campanha estadual. Apontado em julho como um dos estados mais fáceis para o PSDB vencer, o Paraná virou, nos últimos 15 dias, um ponto de interrogação para todos os políticos. A diferença pequena entre o ex-prefeito de Curitiba Beto Richa (PSDB) e o senador Osmar Dias (PDT) transformou a sucessão para o governo estadual em disputa polarizada, baseada em uma onda de boatos sem fim.
Na última quarta-feira, por exemplo, o candidato a senador deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) e o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), aliado e sucessor de Richa, reuniram os professores da rede pública para tranquilizá-los a respeito do futuro secretário caso Richa seja eleito. A campanha adversária havia espalhado que ele iria nomear alguém que os professores não aceitariam. Para conter a boataria, Richa anunciou que, se eleito, o secretário será o candidato a vice-governador da sua chapa, o senador Flávio Arns, um dos políticos mais respeitados do Paraná. ;Já fiz campanha em outros estados, mas boatos como se espalham por aqui é a primeira vez que vejo;, diz o publicitário Nelson Biondi, da GW, marqueteiro da campanha de Richa.
Os boatos têm servido para tirar Beto Richa do sério. E, entre seus aliados, há quem diga que não é para menos. Em 1990, quando Roberto Requião (PMDB) terminou eleito governador do estado, o senador José Richa, pai de Beto, já falecido, aparecia no início da campanha com 45% das intenções de voto e não foi nem para o segundo turno. Aquela disputa foi apelidada mais tarde de ;estelionato eleitoral; (leia memória). O coordenador à época era Osmar Dias.
Entre os aliados de Dias, há quem diga que eles também têm sido vítimas de algo semelhante. Recentemente, espalhou-se um boato de que Eduardo, irmão do ex-governador Requião e ex-administrador do Porto de Paranaguá, seria preso pela Polícia Federal. ;Eles é que plantam mentira atrás de mentira;, reage Roberto Requião, que concorre ao Senado ao lado de Osmar Dias.
A guerrilha no Paraná tem um motivo. Como os demais candidatos não decolaram, a expectativa geral é a de que a eleição seja decidida no primeiro turno. Por isso, nessa reta final, cada um aposta no que considera ter de melhor. Os tucanos preparam-se para centrar a campanha na região metropolitana e em grandes cidades passando para o eleitor o casamento de conveniência que uniu os adversários. Afinal, há pouco tempo, Osmar Dias falava mal de Requião e vice-versa. Para completar, o ex-governador e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT), fizeram tantas acusações um ao outro que o petista chegou a processar Requião ; hoje, parceiro de Gleisi, mulher do ministro, na campanha pelo Senado.
Osmar Dias, entretanto, tenta deixar as desavenças de lado e centrar a campanha na imagem do presidente Lula, fartamente explorada nos discursos do candidato e na TV. ;Acredito que a aliança, no início, não foi bem compreendida. Depois, as pessoas perceberam que era o mais natural. Afinal, estou na base de apoio do governo há muitos anos;, avalia o candidato do PDT. Outro segredo dessa disputa apertada, analisa Osmar, é o fato de todos, na sua chapa, fazerem campanha uns para os outros. Quem o vê pedindo votos para Requião não imagina que, em 2006, Dias e o ex-governador disputaram voto a voto um segundo turno pelo governo do estado, e que, no último debate, o pedetista foi direto: ;Me deixa perplexo a capacidade desse homem de mentir;, declarou Dias em setembro de 2006.
Aquela eleição Requião venceu no segundo turno por uma diferença de 10 mil votos. Agora, tudo indica que esse placar não será diferente. Só não se sabe em favor de quem. A última pesquisa feita pelo Datafolha e divulgada em 17 de setembro apontou Beto Richa com 45% das intenções de voto e Osmar Dias com 40%. Nenhum dos demais candidatos atingiu 1% e 11% dos eleitores continuam indecisos.