Eleicoes2010

Dilma e Lula participam hoje à noite em SP do último comício da campanha

postado em 27/09/2010 08:30
O militante que tivesse a disposição de assistir a todos os comícios da campanha de Dilma Rousseff (PT) desde o período pré-eleitoral chegaria a uma conclusão: tirando pequenas adaptações, os atos eleitorais têm uma dinâmica repetitiva. Os discursos da candidata e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se enquadram num roteiro com as mesmas imagens, frases e até metáforas. Um roteiro que será seguido à risca hoje à noite, no Sambódromo de São Paulo, onde a partir das 19h30 será realizado o último comício da campanha da candidata petista ao Planalto.

Analistas políticos e especialistas em eleições dizem que os comícios não são eficazes para mudar ou decidir voto do eleitor como ocorria nos anos 1980. Hoje, a decisão é feita com base majoritariamente na propaganda eleitoral gratuita. Os atos políticos servem para inflamar os soldados partidários e espalhar cabos eleitorais acesos pelas ruas da cidade e do estado onde o comício é feito.

Como é um partido com mais militância do que as legendas adversárias, o PT não abre mão de colocar Lula e Dilma num palanque para discursar para uma claque afável. E talvez por isso a lógica é sempre a mesma. Quantidade igual de pessoas que vão usar da palavra e de discursos repetitivos. A campeã de mesmices é a candidata petista, mas o presidente não fica atrás sempre usando imagens recorrentes.

Valparaíso (GO), Betim (MG), Salvador, Porto Alegre, São Paulo e Curitiba, em todas as cidades por onde passou, Dilma utilizou a mesma dinâmica como se estivesse decorado um script. Ela abre com uma saudação às ;companheiras mulheres;, saúda seu mentor como o ;maior presidente da República que o país já teve; e elogia as conquistas do governo. Com talvez pequenas alterações de verbo, a mensagem é a mesma. ;Estamos olhando para o futuro e percebendo que o nosso país está mudando cada dia mais. Depois do governo do presidente Lula, o nosso país vem se transformando. Somos hoje um povo com autoestima e com confiança, e com a certeza que a gente tem um rumo que podemos e vamos ser um país desenvolvido;, essa frase foi dita em Valparaíso, em 6 de setembro, mas poderia ter sido pinçada de qualquer outro comício.

Como o de Salvador, em 26 de agosto: ;O governo do presidente Lula trouxe a certeza que o Brasil vai cada vez mais ser um país desenvolvido nos nossos sonhos, sonhos que viraram realidade. Nós podemos transformar o Brasil e fazer desse país um país desenvolvido;. Depois dos minutos elogiosos, Dilma faz referências ao local

Discurso raivoso
A lógica cartesiana dos discursos de Dilma refaz o modelo dos comícios. A abertura é feita por um político local, depois os candidatos a senador discursam abrindo o espaço para a presidenciável que esquenta o microfone para o presidente Lula encerrar o comício. Aliás, essa decisão de colocar Lula por último ocorreu depois do ato eleitoral do Rio de Janeiro, o primeiro da campanha, quando mesmo os cabos eleitorais abandonaram a Cinelândia depois que o presidente discursou deixando Dilma falar para uma plateia esvaziada.

Lula também atende um script, cabe a ele mudar um pouco a rotina e fazer um discurso mais raivoso diante das denúncias na Receita Federal e da queda de Erenice Guerra, que tentam ser capitalizadas pela oposição. Na abertura, ele pede que o povo vote em candidatos a deputado e senador que apoiam Dilma e os parceiros nos estados, lembra-se das dificuldades que passou no Senado por não ter maioria na Casa e duas histórias iguais: a defesa das ambições das mulheres na sociedade e como ele conheceu Dilma.

Essa pregação consta em quase todos os atos eleitorais: ;A mulher trabalha que nem uma condenada dentro de casa. Cuida dos filhos, do marido, prepara café da manhã, arruma cama, limpa banheiro, faz almoço, dá almoço, limpa o fogão, cozinha janta, dá janta, lava louça. Daí chega um pesquisador do IBGE e pergunta: ;Você trabalha?; E ela fala que não. Ela fala que não porque ela aprende que esse trabalho não tem importância, é obrigação. Ela acha que nasceu para isso, para lavar louça;, diz Lula. Essa história surge sempre depois que ele lembra por que escolheu Dilma como ministra de Minas e Energia e como candidata a presidente da República. Esse último conto é um emarranhado da história de Nelson Mandela, na África do Sul, de Evo Morales, na Bolívia, de Barack Obama, nos Estados Unidos, e dele próprio: o metalúrgico que chegou ao posto mais alto do país.

CONFUSÃO EM SÃO CRISTÓVÃO
A equipe de campanha de Dilma Rousseff (PT) precisou encurtar a visita da candidata ontem de manhã à Feira de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, depois que a passagem dela provocou confusão no pavilhão dedicado à cultura nordestina. Houve queda de mesas e cadeiras. Dois homens chegaram a trocar empurrões. Os militantes que acompanhavam o evento ficaram espremidos quando seguranças tentaram fechar o portão por onde Dilma e seus aliados saíam. O objetivo era conversar com visitantes e sentar à mesa de um restaurante para comer pratos típicos, mas a passagem pelos corredores estreitos da feira foi dificultada por dezenas de militantes que tentavam se aproximar dos candidatos. No local, ela falou em incentivos à cultura. ;Você tem que garantir uma produção de bens culturais descentralizada, que respeite nossa fantástica diversidade cultural;, afirmou.

O número
30 de setembro
Último dia para os candidatos realizarem comícios pelo país

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