postado em 28/09/2010 08:05
Enquanto o país aguarda o desfecho da polêmica jurídica em torno da aplicação (1) da Lei da Ficha Limpa, a migração de votos de políticos enquadrados na regra mostra um movimento de reação popular contra os acusados. Pelo menos seis candidatos a cargos majoritários que foram barrados pela Justiça Eleitoral estão tendo de amargar índices mais tímidos na preferência do eleitorado. Quedas que resultam principalmente dos ataques de adversários nos programas eleitorais e da divulgação das pendências judiciais que resultaram nas impugnações das candidaturas.A queda de Joaquim Roriz (PSC) nas pesquisas é uma demonstração da força do marketing em torno da nova regra e do sucesso dos ataques dos concorrentes que usam como argumento as acusações que pesam nas costas dos políticos barrados. Liderando a disputa com quase metade da preferência dos eleitorado em julho, Roriz caiu e abandonou o jogo, pelo menos formalmente, quando corria o risco de perder já no primeiro turno. ;Essa queda nas pesquisas dos políticos cuja conduta não é compatível com a Ficha Limpa nos anima. Ainda não é o ideal. O objetivo é barrar todas essas candidaturas desde o início. Mas, por enquanto, estamos comemorando a queda dos fichas sujas nas intenções de votos. Já é uma melhoria significativa. Um avanço;, avalia o coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, Márlon Reis.
Perdas
Exemplos das desvantagens que políticos ficha suja estão tendo nessa disputa se espalham pelo país. No Pará, o candidato ao Senado Jader Barbalho (PMDB) iniciou a campanha nadando numa liderança de 50% da preferência dos eleitores. Depois de meses de acusações ; e da campanha intensa de opositores para conectar sua imagem a de um ficha suja ;, o peemedebista continua na liderança, mas, agora, com 42% da preferência dos eleitores, segundo a última pesquisa Ibope. Considerando o número total de pessoas aptas a votar no Pará, a perda de Barbalho chega a 190 mil votos em um mês.
No mesmo estado, também está outro candidato ao Senado prejudicado pela nova lei. Paulo Rocha (PT-PA), que se envolveu no escândalo do mensalão e renunciou ao mandato na Câmara em 2005 para escapar do processo de cassação, continua com 29% da preferência do eleitorado, segundo a última pesquisa Ibope. No entanto, a campanha Ficha Limpa lhe rendeu a queda para o terceiro lugar na disputa pelo Senado, sendo ultrapassado por Flexa Ribeiro (PSDB).
Abuso
Dificuldade maior tem sido enfrentada pelo candidato ao governo de Rondônia, Expedito Júnior (PSDB). Cassado pela Justiça Eleitoral por abuso de poder econômico e por compra de votos nas eleições de 2006, o tucano iniciou a disputa com 26%, na dianteira da preferência dos eleitores. Meses de campanha se passaram e o cenário mudou, segundo a pesquisa Ibope divulgada no início do mês. Júnior tem agora 22% e foi ultrapassado pelo atual governador João Cahulla (PPS), que aparece com 24%. A queda do tucano representa a perda de mais de 43 mil votos, considerando o número de eleitores do estado.
Em Alagoas, Ronaldo Lessa (PDT) também tem enfrentado um marketing intenso de adversários para divulgar suas pendências judiciais. Acusado quase diariamente nos programas como ficha suja, perdeu a posição de vantagem que tinha no início da campanha e agora briga para sobreviver a uma disputa embolada com Fernando Collor (PTB) e Teotônio Vilela (PSDB).
Para Márlon Reis, as mudanças nos cenários são um reflexo de que a população começou a avaliar a conduta pregressa dos candidatos. Segundo ele, independentemente da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a aplicação imediata da lei, os próprios eleitores poderão deixar de lado candidatos fichas sujas. ;O futuro é promissor. O eleitorado está ficando consciente e esperamos que cada vez mais os políticos fichas sujas fiquem de fora das disputas eleitorais;, diz.
1 - Retomada do debate
O TSE encaminhou ao Supremo Tribunal Federal o segundo recurso contra a Lei da Ficha Limpa. O candidato a deputado estadual Francisco das Chagas (PSB-CE) questionou a decisão do TSE que o tornou inelegível por ter sido condenado, em 2006, por compra de votos. O primeiro candidato a questionar a validade da Ficha Limpa no Supremo foi o ex-governador do DF Joaquim Roriz. O STF não chegou a entendimento e Roriz desistiu da candidatura e do recurso. Com isso, instalou-se a dúvida se o STF se pronunciaria sobre a validade da lei. O recurso de Chagas fará com que a Corte retome o debate sobre o Ficha Limpa.
A cruz do STF
Um manifestante de Ponte Nova, em Minas Gerais, passou o dia de ontem ;crucificado;, em protesto contra a ;não decisão; do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à validade da Lei da Ficha Limpa para estas eleições. André Luiz dos Santos, 50 anos, chegou a Brasília de manhã, depois de 15 horas de viagem de ônibus. Às 7h, já chamava a atenção de quem passava em frente ao Congresso, ao carregar nas costas uma cruz de 50kg.
À tarde, ele seguiu para a Praça dos Três Poderes, em frente ao STF. Ele reclama do fato de os ministros do Supremo não terem definido a aplicação da Ficha Limpa, embora tenham passado dois dias julgando um recurso do então candidato a governador Joaquim Roriz (PSC-DF). Figura famosa em manifestações Brasil afora, ele estava em março na porta do fórum onde houve o julgamento do casal Nardoni.
Na cruz, o mineiro fixou cartazes em que cobrava do Supremo uma posição. ;STF não suja a vontade do povo brasileiro;, destacou. Ele entrou em greve de fome às 14h20 de ontem na tentativa sensibilizar os ministros. ;É um absurdo notar que as maiores autoridades da Justiça do país não souberam desempatar o julgamento sobre a validade de uma lei popular. É uma covardia com o povo brasileiro;, criticou.