Eleicoes2010

Caminhada para o GDF foi marcada por crises políticas e começou em 2009

postado em 03/10/2010 06:07
Quem for às urnas hoje vai fazer história. Opinará sobre o processo de sucessão mais importante e inusitado desde a construção da nova capital. Quase um ano após o tornado que varreu a política candanga, chegou a hora da reação dos eleitores. Um contingente de 1,8 milhão de pessoas é aguardado para definir o futuro de Brasília. Tamanha responsabilidade, no entanto, se impõe em meio a um cenário conturbado, atopetado de dúvidas jurídicas e carente de respostas que, em outros tempos, seriam óbvias. A apuração das urnas produzirá um resultado legal e legítimo?

As incertezas de hoje são a consequência de uma série de eventos que começaram no apagar das luzes de 2009, mas, desde então, não param de provocar efeitos no cenário político distrital. Em novembro do ano passado, ação conjunta do Ministério Público e da Polícia Federal destamparam a Caixa de Pandora. As revelações deram conta de um suposto esquema de corrupção incrustado no coração do governo e da Câmara Legislativa. Ganharam projeção nacional denúncias filmadas cujo enredo derrubou o então presidente da Câmara, Leonardo Prudente, o então governador, José Roberto Arruda, e o vice Paulo Octávio. A delação do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa tirou do Executivo local três distritais, comprometeu 10 e jogou suspeição sobre 19 parlamentares, muitos deles candidatos à reeleição.

Queda
Até 27 de novembro do ano passado, Arruda era o grande favorito a ganhar a disputa de hoje. A reeleição dele era dada como certa. A queda do governador democrata reacendeu as chances adormecidas de Joaquim Roriz (PSC) de recuperar a chefia do Executivo. Ao mesmo tempo, criou perspectivas de poder a um leque de partidos marginalizados, muitos dos quais se uniram ao PT, que voltou a brilhar com a possibilidade de ser protagonista no debate de sucessão. Depois de uma temporada do verde de Arruda, o DF voltaria à polarização entre o vermelho e o azul.

A sucessão de escândalos sem precedentes teve o peso para desmanchar uma teia de poder vigente até 2009, o que já seria suficiente para embaralhar as eleições. Mas a edição da Lei Complementar n; 135 conseguiu o improvável. A repercussão das regras da Ficha Limpa no DF atingiu a candidatura de Roriz e emaranhou ainda mais o cenário que já reunia todos os elementos de ineditismo. Na quarta investida para liderar o GDF, o ex-governador tentou o registro para concorrer, mas teve a inscrição rejeitada pelo Tribunal Regional Eleitoral em agosto.

Como a legislação autoriza, Roriz manteve-se no páreo ao Palácio do Buriti e recorreu à instância superior. Mas foi vencido. A Justiça Eleitoral considera que Roriz não pode disputar o governo pois há entre as normas da Lei da Ficha Limpa dispositivo impedindo a candidatura de políticos que renunciaram a mandato para evitar uma eventual cassação. Em 2007, Roriz cumpria o primeiro ano como senador quando decidiu abandonar o cargo. Ele havia se envolvido no escândalo da bezerra de ouro. Foi flagrado em escutas da Operação Aquarela negociando a divisão de um cheque no valor de R$ 2,2 milhões com o empresário Nenê Constantino.

Desistiu porque seria levado à forca política pelos colegas do Senado e perderia direito de concorrer em 2010. Evitou em 2007 o que três anos depois se mostraria inevitável com o surgimento da LC n; 135. As regras da Ficha Limpa fisgaram no passado os políticos com histórico duvidoso, retroatividade que provocou acalorada disputa judicial. O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal, de onde se esperava uma resposta definitiva. Até duas semanas antes das eleições, a candidatura de Roriz era uma incógnita. O recurso do ex-governador foi o primeiro a ser julgado entre os ministros do STF. E o entendimento sobre Roriz seria também parâmetro para outros casos de dúvida gerados com a Ficha Limpa.

Racha
Mas o STF ficou dividido e decidiu não decidir. Roriz não se deu por vencido. Numa manobra inesperada, desistiu e escalou a própria mulher para concorrer em seu lugar. Weslian Roriz, que nunca ocupou nenhum cargo público e jamais havia sido testada nas urnas, disputará o governo com a identidade do marido. Além da mulher do ex-governador, concorrem ao Buriti Agnelo Queiroz (PT), Toninho do PSol, Eduardo Brandão (PV), Rodrigo Dantas (PSTU), Frank Svensson (PCB), Ricardo Machado (PCO) e Newton Lins (PSL). Esse abriu mão de concorrer há apenas três dias do pleito. Abandonou o slogan ;Chega de vermelho e de azul também; para apoiar o petista. Lins, no entanto, poderá receber votos, pois sua candidatura ainda estava de pé quando as urnas eletrônicas foram lacradas. Mas esses votos serão considerados inválidos.

Com o foco da campanha voltado para os tribunais, a disputa na capital federal se pautou pela insegurança jurídica, deu um nó na cabeça do eleitor e desidratou o debate de ideias entre os concorrentes. Pouco se falou sobre propostas para resolver problemas graves no DF. Durante quase toda a corrida eleitoral, o assunto principal foi o embate entre ficha limpa e ficha suja. O que deveria ser um pré-requisito entre os concorrentes tornou-se o centro da discussão, por isso, esse critério pode acabar sendo decisivo para produzir um desfecho das eleições.

OUTROS CONCORRENTES

Rodrigo Dantas (PSTU)
Natural do Rio de Janeiro, Rodrigo Dantas, 42 anos, é professor de ética e filosofia política na Universidade de Brasília (UnB). Presidiu o sindicato dos professores da instituição. Militante do PSTU há dois anos, foi candidato ao Senado pelo PSol em 2006, mas não se elegeu. Defende projetos radicais, como a estatização do transporte do DF e o não pagamento da dívida pública.

Frank Svensson (PCB)
Aos 75 anos, o professor aposentado da Faculdade de Arquitetura da UnB concorre ao GDF pelo PCB. Foi a primeira vez em que a legenda lançou um nome próprio para o Executivo local. Está com a candidatura impugnada, mas se mantém na disputa em virtude de um recurso ainda pendente de julgamento.

Ricardo Machado (PCO)
Bancário do Banco do Brasil, tem 49 anos e, em 2006, disputou o cargo de vice-governador pelo Partido da Causa Operária (PCO). O TRE indeferiu sua candidatura, mas Machado ainda tem um recurso a ser julgado por instância superior. Em julho, chegou a dizer: ;Não temos ilusão de vencer as eleições, mas queremos mostrar a nossa postura em defesa da classe oprimida;.

Colaborou Lucas Tolentino

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