postado em 03/10/2010 21:10
As eleições para Presidência da República só serão decididas no segundo turno, entre a candidata petista, Dilma Rousseff, que está com 46,21% dos votos e o candidato tucano José Serra, que tem 32,92% dos votos válidos, com 94,27% das urnas apuradas. Para que a corrida presidencial fosse decidida no primeiro turno, o candidato mais votado teria que obter 50% dos votos mais um. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não há mais chances matemáticas de Dilma se eleger no primeiro turno.O fator surpresa desta eleição foi o crescimento da candidata verde, Marina Silva, na reta final do primeiro turno. Esse crescimento chegou a ser indicado pelas pesquisas nas últimas semanas e pode ter sido o principal fator da disputa presidencial ter ido para o segundo turno. Marina tem 19,69% dos votos válidos. Após as suspeitas de tráfico de influência na Casa Civil, envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra e seus parentes, as pesquisas indicaram uma migração de votos de Dilma para Marina.
As pesquisas de intenção de votos, no entanto, não apontaram um percentual tão representativo para o candidato Serra. Seu desempenho nas urnas foi muito melhor do que o apontado pelas pesquisas.
A candidata petista nasceu em Minas Gerais e atuou na política gaúcha, tendo Porto Alegre como seu domicílio eleitoral. Ela é economista, nascida em 14 de dezembro de 1947 em Belo Horizonte, filha de mãe brasileira, a professora Dilma Jane Rousseff, e pai búlgaro naturalizado brasileiro, o advogado Pedro Rousseff.
A militância política de Dilma Rousseff começou na universidade, em Belo Horizonte, onde cursava economia. Foi presa em 1970, ficando dois anos e meio na cadeia. Ao sair, foi viver no Rio Grande do Sul, onde se casou com Carlos Araújo, um dos fundadores do Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Em Porto Alegre, Dilma participou de diversas campanhas eleitorais, e quando Alceu Collares assumiu a administração da capital gaúcha, ele foi sua secretária municipal da Fazenda. No governo de Alceu Collares no Rio Grande do Sul (1991 a 1995), Dilma chefiou a Secretaria de Estado de Minas e Energia, cargo que voltou a ocupar no governo petista de Olívio Dutra (1999 ; 2003). Em 2001, Dilma deixou o PDT e se filiou ao PT.
A participação de Dilma Rousseff na política nacional começou a se desenhar em 2001, durante a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela participou da equipe que elaborou o plano de governo na área energética e depois, com a vitória de Lula, integrou a equipe de transição. Nas suas falas, durante a campanha, o próprio presidente Lula lembrou quando esteve com Dilma na elaboração do plano energético. ;Quando vi aquela mulher entrar na sala, abrir o laptop e explicar tudo pensei: já tenho minha ministra de Minas e energia;, disse Lula.
A administração Dilma no Ministério de Minas e Energia foi marcada pela defesa de uma nova política industrial para o Brasil. Um exemplo disso foi a decisão de estipular um conteúdo nacional mínimo para as compras realizadas pelas plataformas da Petrobras. Outro ponto defendido por Dilma foi a aceleração das metas de universalização do acesso à energia elétrica. A meta tinha como prazo final 2015 e Dilma propôs que 1,4 milhões de domicílios rurais fossem iluminados até 2006. O programa Luz Para Todos foi lançado em novembro de 2003, com a meta de atender, até 2008, 2 milhões de famílias.
Em 2005, Dilma Rousseff deixa o Ministério de Minas e Energia para assumir a Casa Civil da Presidência da República, com a saída José Dirceu. A grande tarefa de Dilma na Casa Civil é a de gerenciar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O trabalho incessante da ministra na cobrança das obras do programa a torna conhecida como a ;Mãe do PAC;.
Em abril de 2009, Dilma Rousseff torna público o seu tratamento contra um câncer no sistema linfático, que incluía sessões de quimioterapia. No início de setembro do mesmo ano, a equipe médica que tratou a ministra informou sobre o fim do tratamento de radioterapia e a cura da doença.
Aos 68 anos, o ex-ministro, ex-governador e ex-prefeito de São Paulo José Serra, da coligação O Brasil Pode Mais (PSDB, DEM, PPS, PTB e PT do B), tenta pela segunda vez a Presidência da República.
De família de pequenos comerciantes de São Paulo, Serra estudou em escolas públicas e construiu uma história que inclui passagens pelo governo de São Paulo, pela capital paulista, os ministérios da Saúde e da Fazenda no governo Fernando Henrique Cardoso, além do Senado Federal. Na oposição, o candidato alternou momentos de críticas e elogios ao governo Lula. ;Não fico jogando no ;quanto pior melhor;, disse Serra, em uma entrevista concedida à EBC, em julho.
;O governo Lula é forte pelo prestígio do presidente, mas no Congresso é fraco. O governo é popular por causa do presidente, não é porque tem uma base no Congresso;, disse o candidato. ;Em geral a projeção do Brasil [no exterior] foi positiva por causa dos ;bolsas; [alguns programas sociais cujos nomes nomes começam com a palavra ;bolsa;]. [Se eleito] eu fortalecerei o Bolsa Família e o Saúde da Família, que eu implantei, não estão coordenados [a ideia é coordenar].;
Com fama de mal-humorado, Serra tentou mudar essa impressão sobre ele. Passou a sorrir mais, usar camisas de cor clara, preferencialmente azul, e aproveitava a cada oportunidade para brincar com sua falta de humor. ;Dizem que sou mal humorado. Mas isso não é verdade;, disse ele, em um dos comícios, que fez no Nordeste, arrancando risos dos presentes.
Em um eventual governo, o candidato disse que não vai permitir a ;gula; de partidos aliados que levam ao loteamento de cargos e da máquina pública. Segundo ele, o pior erro de seus antecedentes foi subestimar a força e o poder do Congresso Nacional. Serra prometeu que com ele, na Presidência, o tratamento será diferente.
;Eu acho que todos os presidentes, sem exceção, subestimaram sua força junto ao Congresso. Quando tive no Executivo, eu não fiz isso [e lembrou que Executivo e Legislativo devem manter uma relação saudável e equilibrada];, disse Serra.
Nos comícios que fez, em geral priorizando os estados do Nordeste e Sudeste, Serra optou por temas diretamente ligados com cada região. No Nordeste, o candidato disse que sua prioridade é o desenvolvimento equânime do Brasil, eliminando diferenças e dificuldades que hoje faz a distinção entre os estados. No Rio de Janeiro, defendeu a melhoria do sistema de segurança pública e a geração de empregos.
;A questão da droga é gravíssima;, disse ele, prometendo buscar parcerias com a iniciativa privada, os grupos religiosos e as organizações não governamentais para o tratamento de dependentes químicos. ;A base do crime organizado é o contrabando de armas e drogas. Por isso quero criar o Ministério da Segurança. Se a segurança vai mal, o governo se desgasta com os governadores. O crime organizado é um crime nacional.;
Em todos os locais por onde passou durante a campanha eleitoral, Serra reiterou que a educação será sua prioridade. Segundo ele, o Programa Bolsa Família vai ser ampliado e aperfeiçoado. A ideia é incluir no programa um projeto de profissionalização para os jovens que acabarem o ensino médio. Pensando nos jovens, que demonstraram baixo interesse nestas eleições, o candidato tentou chamar a atenção deles, advertindo que é a juventude o futuro do Brasil.