Eleicoes2010

Animado pelo segundo turno, José Serra parte para o combate final

Decisão da disputa presidencial levada para o segundo turno dá novo fôlego ao tucano, que terá quatro semanas para convencer o eleitorado a abrir as portas do Palácio do Planalto novamente ao PSDB

Ivan Iunes
postado em 04/10/2010 08:00

José Serra (PSDB) começa o dia de hoje debruçado sobre as próximas estratégias para tentar transformar em pó os quase 15 milhões de votos que o separaram de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno da eleição presidencial. Alvejado pelo fogo amigo por não endurecer o discurso e manter distância da adversária nos últimos debates, o tucano conseguiu, na conta do relógio, prorrogar a definição do sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o último fim de semana de outubro. A partir das projeções dos institutos de pesquisa, Serra conseguiu, nas últimas semanas, o que parecia praticamente impossível: chegou à casa dos 30% do eleitorado e fez sangrar 5 milhões de votos da campanha petista.

Com a prorrogação da disputa, Serra se debruça agora sobre o planejamento de uma estratégia agressiva para o segundo turno. O tucano precisa chegar aos 51 milhões de votos em quatro sema-nas ; 18 milhões a mais do que conseguiu no primeiro turno ; para ganhar as chaves do Palácio do Planalto. Com a virada de jogo, nos últimos dias do primeiro turno, ele tem agora duas importantes armas para enfrentar a candidata petista. A primeira é o tempo de televisão, que será dividido igualmente com Dilma.

A segunda arma de Serra são as contas de campanha, que terão um importante incremento. No primeiro turno, a arrecadação presidencial tucana não chegou a R$ 50 milhões ; cifra bem inferior à previsão do partido, que estimou alcançar até R$ 180 milhões ao fim dos dois turnos. ;Essa importância desmesurada dos institutos esfriou a campanha no primeiro turno, inclusive no quesito arrecadação. Um dos donos de instituto já tinha até declarado um vencedor, no caso, vencedora. Agora, o segundo turno vai ser um deus nos acuda atrás de recursos. Para eles é mais fácil também arrecadar, porque eles são governo federal, mas vamos correr atrás;, afirma o coordenador financeiro da campanha tucana, José Gregori.

A primeira medida tida como essencial para a virada é garantir a transferência de votos da terceira colocada nas eleições, Marina Silva (PV), para o ninho tucano. Os especialistas do partido acreditam que o eleitorado conservador da candidata verde pode migrar naturalmente para Serra ; a aposta maior recai sobre os evangélicos. A outra parcela que entregou votos à Marina, composta em boa parte por ambientalistas e jovens, seria o foco da campanha virtual tucana. A ida do tucano ao segundo turno pode ainda reforçar a presença de nomes fortes do partido, já eleitos nos estados, na campanha presidencial.

Da cúpula do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador eleito por Minas Gerais Aécio Neves já foram escalados para tentar a aproximação com Marina em busca de uma declaração de apoio oficial da candidata verde. O partido da senadora, o PV, deve embarcar na campanha serrista, mas o apoio da ex-ministra do Meio Ambiente de Lula, filiada ao PT até o ano passado, ainda não passa de uma possibilidade.

Governadores
Alguns nomes do PSDB que saíram vitoriosos das urnas no primeiro turno são tidos como essenciais para impulsionar o esforço final da campanha de Serra. Além de Aécio Neves, a lista inclui Geraldo Alckmin, governador por São Paulo; e Beto Richa, novo chefe do Executivo paranaense. O DEM aporta o apoio do senador reeleito José Agripino (RN). ;Os novos governadores, especialmente, terão papel fundamental na sobrevivência do projeto da oposição de voltar à Presidência, assim como em uma eventual oposição à Dilma. Cometemos alguns erros, mas todos trabalhamos muito para que a eleição não terminasse já no primeiro turno;, aponta o líder da minoria na Câmara dos Deputados, Gustavo Fruet (PSDB-PR), que encerra seu mandato em dezembro e não conseguiu uma cadeira no Senado.

A sobrevida na eleição presidencial, no entanto, não esconde a dificuldade que Serra enfrentará, caso consiga uma virada histórica e chegue ao poder. Nomes fortes dos tucanos e aliados oposicionistas na Câmara dos Deputados e no Senado não conseguiram a reeleição e enfraquecem a presença do partido no Congresso. Os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE), Arthur Virgílio (PSDB-AM), Heráclito Fortes (DEM-PI) e Marco Maciel (DEM-PE) estão na lista dos que não conseguiram renovar seus mandatos. Já os deputados Raul Jungmann (PPS-PE), Arnaldo Madeira (PSDB-SP) e José Carlos Aleluia (DEM-BA) saíram derrotados nas urnas e não permanecem no Congresso Nacional a partir de janeiro.

Resultado melhor do que o esperado
José Serra esperava vencer Dilma Rousseff somente no Paraná e em Santa Catarina. Tinha ainda esperanças de que pudesse estar um pouco à frente da petista em São Paulo. O resultado das urnas, no entanto, foi melhor do que o esperado. O ex-governador paulista terminou na frente da ex-ministra da Casa Civil em Mato Grosso do Sul, em Mato Grosso e em Rondônia, além de confirmar as previsões iniciais no Sul do país e em seu domicílio eleitoral. Os melhores desempenhos, no entanto, vieram em dois estados pequenos: Acre e Roraima. Nesses locais, Serra abriu vantagem de quase 30 pontos e 23 pontos, respectivamente, sobre a petista. O impacto da vantagem só não foi maior por conta do tamanho do eleitorado nas duas regiões, pequeno em comparação ao
cenário nacional.


Enfim, programa de governo pode sair da gaveta
A sobrevida na campanha presidencial deve fazer com que José Serra (PSDB) finalmente traga à tona uma versão final de seu programa de governo, guardado no cofre desde o início da corrida eleitoral. O documento foi finalizado há pelo menos um mês, mas o tucano preferiu não divulgar o material, com receio de que as propostas fossem ;copiadas; pela rival Dilma Rousseff (PT). A recusa em apresentar o trabalho, coordenado por Xico Graziano, chegou a provocar uma crise interna dentro do ninho tucano.

O documento tem 270 páginas e foi todo revisado por Serra ; uma exigência do presidenciável. Dividido em três partes, o material contou com a colaboração de técnicos e especialistas ligados ao partido, além de opiniões dos internautas que acessaram o site do tucano na internet. O primeiro trecho traz pensamentos e propostas programáticas do PSDB para temas variados. A segunda matriz reúne as ideias concebidas por internautas. Ao todo, pouco mais de 5 mil propostas foram feitas, muitas repetidas. O trabalho de triagem selecionou de 300 a 400 para a formatação final.

O terceiro anexo detalha as propostas segundo visões estaduais. ;O nível de detalhamento do programa feito para Pernambuco, por exemplo, é tão minucioso que até as duplicações necessárias em rodovias foram explicitadas;, afirma um dos assessores de campanha que participaram da formulação do programa de governo.

Segundo a minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso Nacional no ano passado, todos os candidatos à Presidência deveriam ter apresentado os programas no ato do registro das candidaturas. Nenhum, no entanto, cumpriu com a obrigação à risca ; já que a própria lei não estabeleceu os parâmetros que os documentos deveriam obedecer. Serra apresentou apenas um apanhado de discursos.

Dilma entregou duas versões diferentes, sendo que nenhuma delas era o programa final de governo. ;Fazia sentido apresentar o documento antes do início da propaganda de televisão. Como isso não aconteceu, preferimos divulgar as propostas nos programas em cadeia nacional e em discursos;, explica o presidente do PT e um dos coordenadores da campanha de Dilma, José Eduardo Dutra. Dos três principais candidatos à Presidência, o que se aproximou mais de um programa final de governo foi Marina Silva (PV). (II)

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