postado em 05/10/2010 08:25
Brasília e São Paulo ; O Partido Verde (PV) e Marina Silva, candidata da legenda que recebeu 19,6 milhões de votos na disputa presidencial, podem ter posições diferentes no segundo turno da eleição para a Presidência. A senadora saiu das urnas com uma votação expressiva e foi a responsável por provocar um segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Marina admitiu ontem que sua posição ; a mais provável é a neutralidade ; poderá ser diferente da adotada pelo PV em convenção nacional. ;O resultado que tivemos de aprovação ao meu projeto e do (vice) Guilherme Leal é muito maior que o nosso partido;, disse.O PV está mais próximo ao PT no Nordeste, ao PSDB no Sudeste e tem mais isenção na Região Sul. A tendência da Executiva Nacional é fechar apoio a Serra. Em São Paulo e em Minas Gerais, por exemplo, o PV participa dos governos locais.
A preferência de 19,3% do eleitorado por Marina Silva, surpreendente para a própria candidata, desencadeou uma intensa procura de PT e PSDB pelo apoio da senadora no segundo turno. Dilma e Serra ligaram para Marina ainda na noite de domingo. Ambos manifestaram o interesse de conversar com a verde. Petistas e tucanos graúdos das duas campanhas também passaram a cortejar a senadora do PV, que disse ontem que só deve anunciar uma posição em 15 dias ; a 13 dias, portanto, da votação.
Pelas regras da legenda, uma convenção deverá ser marcada. Marina, entretanto, não abre mão de conversar com os ;núcleos vivos da sociedade;, que, segundo ela, garantiram seus votos. A priori, a senadora diz não ter uma posição. ;Vou firmar uma convicção ao longo do processo.;
Os prazos do PV parecem ser mais curtos do que os adotados por Marina. Tanto a ala mais próxima ao PT quanto a maioria de verdes ligada aos tucanos já estão em campo para apoiar as candidaturas que permanecem na disputa. O Correio conversou com sete representantes do PV nos estados onde a legenda lançou candidatos próprios ao governo. A maioria dessas lideranças diz que seguirá a decisão da Executiva Nacional, que tende a declarar apoio a José Serra. O PV lançou candidatura própria em 11 estados. Nenhum filiado foi eleito para governador. Juntos, obtiveram quase 3,5 milhões de votos.
Aposta
Marina deve se reunir hoje com a coordenação nacional do partido. A principal aposta é na neutralidade de Marina e a aproximação natural do partido com Serra. O tucano já indicou Eduardo Jorge, do PV, para o cargo de secretário do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo. O PSDB também esteve coligado ao PV no Rio de Janeiro nestas eleições. Fernando Gabeira, segundo nome mais importante do partido, declarou ontem mesmo seu apoio pessoal a Serra. ;Ele disse que é a manifestação pessoal dele. Eu vou preferir fazer a minha manifestação na instância partidária;, disse Marina.
Se em São Paulo e em Minas Gerais o PV tem espaço nas gestões do PSDB, a aproximação na Bahia e no Ceará é com gestões do PT. O governador baiano Jaques Wagner (PT), reeleito no domingo, teve no primeiro mandato um secretário de Meio Ambiente do PV. A sigla também já integrou o governo da prefeita petista Luizianne Lins, de Fortaleza.
;O casamento de Marina com o PV foi perfeito. Não queremos a separação;, afirma Teresa Britto, que disputou o governo do Piauí pela legenda. Ela integra a Executiva Nacional da sigla e diz que o apoio a Serra não está decidido, como chegou a afirmar o presidente nacional do PV, José Luiz Penna. Candidato do partido derrotado no Distrito Federal, onde Marina Silva teve mais votos que os rivais, Eduardo Brandão defende que a legenda tome uma posição. ;Há uma tendência que sempre prevalece.;
Militantes do PV em Brasília já estão engajados na campanha de Dilma, segundo o ministro da Cultura, Juca Ferreira. ;É uma mobilização normal, como já ocorre em relação a Serra.; Juca licenciou-se por um ano do PV, em março, por discordar de alianças com os tucanos e para fazer parte da campanha de Dilma à Presidência.
O número
19,3%
Percentual do eleitorado brasileiro que votou em Marina Silva no domingo
Com quem será que a Marina vai casar?
Maria Clara Prates
Programas de governo de lado, está aberta a temporada de sedução política à senadora Marina Silva (PV), que saiu das urnas fortalecida, com quase 20 milhões de votos, no último domingo. De olho nesses eleitores, PT e PSDB cortejam a noiva, que faz mistério e promete decidir quem receberá seu apoio no segundo turno ; o tucano José Serra ou a petista Dilma Rousseff ; somente depois de consultar as bases de seu partido. Esse processo é um verdadeiro jogo de xadrez e de força política, já que o PV é da base aliada do governo Luiz Inácio Lula da Silva e, em vários estados, fez coligações com os tucanos, como no Rio de Janeiro.
Poucas horas depois de contabilizados os votos, o que se percebeu são os mais diferentes tipos de afagos, que vão desde os emocionais ; como o da senadora eleita Marta Suplicy (PT-SP), que pede à colega de Casa que decida ;com o coração; ; aos técnicos, como o do próprio Serra. ;Nossa lei de mudanças climáticas foi considerada a mais avançada do Hemisfério Sul e o programa ambiental que implantamos em São Paulo é o mais avançado que o Brasil tem;, ressaltou o tucano, tentando parecer alinhado a um dos principais focos do Partido Verde: o meio ambiente. Na tarde de ontem, Tarso Genro (PT), recém-eleito governador do Rio Grande do Sul, foi mais afoito, defendendo um pedido formal e público de casamento do PT com Marina e seu partido. ;Conheço a Marina há mais de 30 anos, nós militamos juntos na clandestinidade e, além disso, somos amigos. Eu adoro a Marina;, disse o candidato a cupido político.
Até agora, os tucanos têm sido mais discretos na abordagem, mas José Serra deixou escapar que tem ;afinidades com o PV;. Ontem, a informação era que, para tentar promover a união perfeita para chegar à Presidência da República, estava sendo elaborada uma manobra, com a substituição de Índio da Costa, vice na chapa tucana, pelo deputado Fernando Gabeira, candidato do PV derrotado para o governo do Rio. O objetivo era reforçar nacionalmente a aliança formada no estado fluminense entre os dois partidos. No início de sua campanha, Gabeira deixou claro seu apoio ao tucano José Serra.
Confirmando o jogo de puxa e estica, o coordenador da campanha de Dilma, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), afirmou ontem que espera pela aproximação com Marina. ;Até outro dia, ela era do PT. É natural que ocorra essa aproximação. Há setores muito próximos a Marina;, afirmou.