Eleicoes2010

Campanha de Serra une discurso religioso ao ambiental

Tucano prepara-se também para uma imersão no Nordeste

Igor Silveira, Ivan Iunes
postado em 07/10/2010 08:20

A campanha de José Serra (PSDB) decidiu incorporar de vez o discurso religioso a respeito do aborto na corrida eleitoral. Durante o encontro de lideranças do partido, promovido ontem para dar largada à corrida eleitoral no segundo turno, praticamente todos os aliados do tucano colocaram o tema sobre a mesa. A avaliação dos estrategistas do candidato é de que a ;guerra santa eleitoral; tirou votos preciosos da adversária Dilma Rousseff (PT) e ainda deve sangrar mais a campanha petista. Aliado ao ambientalismo, a questão também ajudaria a cooptar parte do eleitorado de Marina Silva (PV) e seria uma porta de entrada para tentar diminuir a vantagem petista no Nordeste.

Do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, ao presidente de honra do DEM, Jorge Bornhausen, passando por senadores e governadores eleitos pelas legendas oposicionistas (PPS-DEM-PSDB), a palavra de ordem é explorar a polêmica religiosa. ;Quem tem esse problema para resolver não somos nós, é a Dilma. Não temos problema em ser a favor ou contra isso. Quem tem de explicar isso é uma ex-ministra que diz quatro coisas a respeito do assunto e normalmente não fala a verdade;, provocou Guerra. ;Aborto já pesou na campanha e vai continuar pesando;, afirmou Bornhausen.

O candidato à presidência José Serra (PSDB) fala sobre a estratégia de campanha para o segundo turno


O governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, fala sobre a campanha do candidato à presidência José Serra no segundo turno


O governador eleito de Minas Gerais, Antônio Anastasia, fala sobre a campanha do candidato à presidência José Serra no segundo turno


O próprio candidato tucano à Presidência decidiu explorar o assunto durante o seu discurso de mobilização para os aliados, mas acabou cometendo um ato falho. ;Eu nunca disse que sou contra o aborto, porque sou a favor. Quer dizer, eu nunca disse que sou a favor porque sou contra;, emendou Serra. Os analistas do PSDB, no entanto, ainda não têm uma ideia exata de quanto o assunto pode influenciar a escolha do eleitorado. O próprio candidato não anunciou como será sua política sobre a descriminalização ; ele apenas diz ser contra a prática. Questionado, o candidato a vice de Serra, Índio da Costa (DEM-RJ), preferiu tergiversar: ;Sou a favor de manter a legislação como está e acabou o assunto.;

Além do espólio verde, o tema também serviria como porta de entrada para o discurso de Serra se aproximar do eleitor no Nordeste, estado em que o tucano acumulou derrotas expressivas para Dilma e só elegeu um governador ; Teotônio Villela (PSDB-AL) disputa o segundo turno. ;Para a política, existem duas coisas no Nordeste: governo e igreja;, resumiu o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Paulo Bornhausen (SC).

Entre os aliados tucanos, a crença é de que a região foi muito afetada pelas ameaças de que, no caso de vitória de Serra, ele acabaria com o programa Bolsa Família ; ação desmentida pelo tucano. ;No Nordeste existe uma verdadeira pressão em cima do Bolsa Família, uma ameaça aos mais pobres, de que sem o Lula a bolsa acabaria, uma chantagem;, acusou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que perdeu a reeleição para o cargo. Nos discursos, também sobraram críticas à campanha de Serra no primeiro turno. Os aliados bateram em teclas como a da falta de agressividade e excesso de marketing. ;Não se vence uma eleição só com ações propositivas. O véu tem de ser desnudado;, pediu o candidato derrotado ao governo de Pernambuco, Jarbas Vasconcellos (PMDB). ;A campanha foi educada demais. A política se acanalhou no Brasil. Não existe mais lado nem convicções, só conveniência e troca de favores;, disparou Tasso.

FHC
Antes do discurso de mobilização para os aliados, Serra definiu alterações na campanha, especialmente nos estados. O papel de articulador, antes restrito a Sérgio Guerra, será repartido com o senador eleito por São Paulo Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), que pautou sua campanha colado na imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Curiosamente, ao contrário do que ocorreu no primeiro turno, Serra decidiu exaltar as ações de FHC em seu discurso. Além das reiteradas críticas ao PT ; quando defendeu que o Congresso legisle para limitar a participação do presidente da República em campanhas eleitorais ;, o tucano fez algumas referências a Fernando Henrique, ao lembrar, por exemplo, a privatização do setor de telecomunicações e a implementação do real.

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