Quarto colocado nas urnas no primeiro turno, Eduardo Brandão (PV) anunciou ontem apoio à candidatura de Agnelo Queiroz (PT) ao Palácio do Buriti. Na segunda fase da corrida eleitoral, o petista concorre com a postulante Weslian Roriz (PSC), mulher do ex-governador Joaquim Roriz (PSC). Apesar de o Partido Verde ainda se manter neutro sobre sua preferência no segundo turno da disputa presidencial, a legenda preferiu marcar logo posição no Distrito Federal para dificultar o plano do clã Roriz de voltar ao poder. A expectativa é conseguir transferir para Agnelo parte dos votos recebidos por Brandão ; 78,8 mil ao todo, equivalente a 5,65% do total apurado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) no último domingo. Se o petista tivesse recebido um terço desse montante, poderia ter se saído vencedor ainda no último dia 3.
Convencer os eleitores do PV a optarem pelo petista para o GDF, no entanto, não é fácil. Cientistas políticos ouvidos pelo Correio apostam na autonomia do eleitorado. O professor aposentado da Universidade de Brasília Octaciano Nogueira acredita que o cidadão tem consciência de que o voto pertence a ele, não ao partido. ;O político não é dono do voto do eleitor. Uma coisa é ele (Brandão) querer que os eleitores o sigam, outra coisa é isso acontecer. Agnelo pode fazer até discurso ambientalista, mas se o eleitor não quiser, não votará nele;, argumentou Nogueira.
[SAIBAMAIS]
Professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), Emerson Masullo também pondera ao falar da eficácia da migração dos votos de Brandão para Agnelo. Ele chama atenção para a possibilidade de os eleitores terem votado, no primeiro turno, no PV ou no PSol como uma alternativa à polarização estabelecida entre os grupos vermelho e azul. ;Quem votou em Toninho ou em Brandão pode não se identificar com o candidato do PT. Não há garantia da transferência de votos.; Mais do que uma força à candidatura de Agnelo, o cientista político analisa que a conduta tomada pelo PV local pode sinalizar uma tendência no cenário nacional. ;É simbólico o apoio do PV na capital da República e seria paradoxal, apesar de a legislação eleitoral não proibir, que Brandão se alie a um partido contrário à vontade da executiva nacional da legenda;, explicou Masullo. Aliás, o presidente nacional do PV, José Luiz Penna estava presente à cerimônia em que Brandão oficializou o apoio a Agnelo, no Hotel Lake Side. ;Agimos de forma acertada;, comentou Penna.
Sopa de letrinhas
A incerteza sobre a transfêrencia de votos levantada pelos especialistas não parece preocupar o novo apoiador de Agnelo. Com discurso em prol da extinção da ;política do século 19 feita pela família Roriz;, Eduardo Brandão deixou de lado as críticas às alianças do ex-adversário petista e defendeu a amplitude da união partidária no segundo turno. A ;sopa de letrinhas;, apelido dado pelo ex-candidato do PV à coligação Um novo caminho ; que inicialmente uniu 11 partidos a favor de Agnelo, e hoje, conta com 14 siglas ; é considerada agora por Brandão a melhor saída para os problemas do DF. ;Não faço parte da sopa porque entendo que, no segundo turno, o político derrotado não pode virar as costas aos eleitores. Não estou nessa aliança desde o início, mas fizemos um apoiamento pragmático, pois queremos impedir que Brasília se torne uma fazenda. Essa coisa de a família Roriz se perpetuar no poder é muito ruim;, contou.
Brandão esclareceu que as críticas feitas no passado poderão ser repetidas, caso o ;amigo; Agnelo precise de conselhos. ;As questões que acharmos erradas, vamos continuar criticando, o amigo tem esse direito e dever.; O ex-adversário do petista garantiu que a aliança não foi acertada mediante negociação de cargos no eventual governo do PT. Brandão, que foi subsecretário de Meio Ambiente na gestão do ex-governador cassado José Roberto Arruda, negou que tenha interesse em ocupar alguma secretaria, mas espera que Agnelo acople as propostas do PV para o meio ambiente ao plano de governo.
Brandão entregou ao petista uma carta contendo reivindicações verdes, como investir em coleta seletiva de lixo, acabar com o lixão da Estrutural e instalar os parques vivenciais do DF. Agnelo agradeceu a contribuição, negou uma possível divisão de cargos e aproveitou para fazer discurso com tom ambientalista. ;O apoio de Brandão é um gesto de coragem e fortalece nossa unidade do ponto de vista eleitoral, mas não discutimos secretarias. Ele (Brandão) nos entregou um programa para o meio ambiente da capital. A situação hoje é preocupante devido à bagunça, à anarquia e à ilegalidade impostas há 14 anos. Vamos dar atenção à situação das nascentes, das bacias e dos parques;, afirmou Agnelo. O petista concluiu o dia fazendo corpo a corpo na Rodoviária do Plano Piloto. Estava acompanhado de políticos eleitos, mas não do novo aliado.
Colaborou Ary Filgueira
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Eduardo Brandão (PV)
Agnelo Queiroz (PT)
Faltam
23 dias
para o 2; turno
Agenda
Agnelo Queiroz tem três compromissos públicos hoje. Às 9h, grava programa de TV para o horário eleitoral. Às 15h, o candidato ao GDF se reúne com o pastor Orcival Xavier e lideranças religiosas, na Assembleia de Deus da Área Especial n; 8, Setor D, em Taguatinga Sul. Por fim, às 16h, participa de caminhada na Avenida Comercial Norte de Taguatinga, com concentração em frente à Paróquia Nossa Senhora Perpétuo Socorro (Praça Central, Setor C).