postado em 08/10/2010 08:00
A turbulência deste início de segundo turno foi minimizada por caciques de PT e PMDB. Eles atribuíram as reclamações de ambos os lados a uma insatisfação passageira gerada por uma sensação de perda temporária de poder. ;É hora de somar;, pregou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). O colega de Congresso Eunício Oliveira (PMDB), senador eleito pelo Ceará, ecoou. ;As pessoas querem ajudar para vencer.;
O aparente descompasso foi causado, segundo a avaliação disseminada entre PT, PMDB e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por uma expectativa além do normal de vitória no primeiro turno. Ao não alcançá-la, criou-se a sensação de casa desarrumada na campanha. Desarranjo que, com ajustes no programa de televisão que vai ao ar a partir de hoje e a aceleração da campanha, tende a se dissipar.
;O Ciro é importante para a campanha. A ampliação para novos partidos ajuda;, afirmou Vaccarezza. ;Se tem petista criando problema, ele está errado. Nessa polarização de dois projetos, entre o que representaram os anos Fernando Henrique Cardoso, quem melhor representa o presidente Lula é a Dilma;, emendou o líder do governo.
Ventos
Políticos aliados que estiveram com o presidente avaliaram conjuntamente que o erro crucial do primeiro turno foi tratar na televisão que a eleição poderia ser fechada em 3 de outubro e não numa segunda fase. Quando perceberam que os ventos estavam mudando, já era tarde. O resultado disso é que, hoje, apesar de Dilma ter ficado com 47% dos votos no primeiro turno, os petistas não conseguiram capitalizar a vitória e ainda têm que responder sobre as convicções religiosas da candidata, tema que já tinha sido objeto de carta aos evangélicos um mês antes do pleito.
A meta agora é ampliar a participação da petista em atos de corpo a corpo com eleitores em locais que ela tem chance de aumentar sua votação. ;Quando a Dilma sobe num caminhão para passar pelas ruas, as pessoas ficam felizes. Quem está varrendo a rua, lavando a calçada, vai aplaudir. O que dá voto é a rua;, afirmou o senador.
O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, minimizou as insatisfações e culpou a imprensa por tentar ;criar arranhões; no acordo eleitoral. ;O PT, o PMDB e os demais partidos fizeram uma aliança vitoriosa no primeiro turno. Estão querendo criar arranhões nessa aliança, mas ela é vitoriosa;, afirmou Padilha. E disse, em tom diplomático, que a participação de todos os aliados contribuirá para a vitória.
"Se tem petista criando problema, ele está errado"
Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara
Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara
Bater em quem "merece"
Carolina Khodr
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, ontem em Angra dos Reis, que, depois da entrada das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) no Rio de Janeiro, ;a polícia só bate em quem tem que bater;. O presidente alegou que, antes da atuação do grupo, a população carioca vivia com medo da polícia. Agora, a corporação, segundo Lula, além de proteger o cidadão, leva cultura e educação às favelas. A afirmação foi dita no mesmo dia em que a Polícia Militar da cidade trocou o comando de 17 batalhões e unidades da corporação em função dos arrastões ocorridos na última semana. No sábado, no Rio de Janeiro, policiais militares atiraram em um juiz do trabalho que tentava desviar de uma blitz. Os tiros atingiram, além do juiz, duas crianças que estavam no veículo.
A declaração do presidente ocorreu durante evento de batismo da plataforma P-57, em um estaleiro da Petrobras. Foi o primeiro discurso de Lula depois de divulgados os resultados do primeiro turno das eleições. Recém-reeleito ao governo do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) foi elogiado pelo presidente. Lula disse que a violência no Rio de Janeiro não aparece mais nas páginas dos jornais e convidou os presentes a subir nas favelas cariocas. ;Lógico que tem criminoso, lógico que tem bandido, mas estou convidando vocês para subirem comigo e com o Sérgio (Cabral) à favela de Manguinhos, ao Complexo do Alemão, Pavão e Pavãozinho, para vocês perceberem que nós estamos dizendo para aquele povo de lá: ;Nós não vamos mandar pra cá polícia apenas para bater. A polícia vai vir para cá para bater em quem tem que bater, proteger quem tem que proteger, mas o Estado tem que trazer para cá cultura, educação, emprego e decência. E é o que estamos fazendo nas favelas do Rio de Janeiro;;, afirmou.
Em maio, um homem foi baleado por engano no bairro da Tijuca durante operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Hélio Ribeiro, 47 anos, estava no terraço de casa e usava uma furadeira para fazer reparos. A ferramenta acabou confundida com uma arma. De acordo com o Bope, antes do tiro houve um grito de alerta ignorado pela vítima.
"A polícia vai vir para cá para bater em quem tem que bater, proteger quem tem que proteger, mas o Estado tem que trazer para cá cultura, educação, emprego e decência"
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República