postado em 08/10/2010 08:00
Depois de sair do primeiro turno com quase o dobro de votos de José Serra, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ainda não conseguiu dar a essa vantagem o gosto de vitória. Todas as ações feitas nesta largada do segundo turno causaram problemas entre aliados ou estresse com setores do PT. Da ampliação da coordenação de campanha, ordenada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até a simples tentativa de virar a página de assuntos polêmicos ; como o aborto ; nada foi tranquilo ou unânime. Embora todos trabalhem pela eleição da ex-ministra, ainda não colocaram a campanha nos trilhos.
No caso da ampliação do comando político, por exemplo, bastou Ciro Gomes aparecer em Brasília para que o PT estrilasse. O partido resiste à diluição do poder de José Eduardo Dutra, Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo, que acompanharam a candidata nessa fase em que ela saiu das urnas com 47% dos votos. Apesar das reclamações ; em especial da prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins ; Ciro entrará na campanha. Ao lado de PMDB, PSB, PR e PRB, atuará na tarefa de atrair os votos que elegeram governadores aliados e de ainda recuperar o eleitorado evangélico que escoou no fim do primeiro turno para a candidata Marina Silva (PV).
Em relação aos evangélicos, a coordenação de campanha fez chegar a representantes de todos esses partidos a minuta de um documento que será distribuído nas igrejas. O texto faz referências, por exemplo, a ;lares desestruturados; como uma das razões para que o país atravesse tantos problemas sociais e defende a valorização da família como ponto de partida para o desenvolvimento das pessoas.
O PT, os aliados e o presidente Lula esperam que esse documento vire a página e ajude a dissipar os boatos que abalaram a campanha de Dilma(1). Ocorre que há um pequeno grupo contrário a sua divulgação. Ontem mesmo, enquanto esse documento era submetido aos aliados, o ministro Alexandre Padilha, de férias para ajudar na campanha, dizia que Dilma e Serra têm a mesma posição sobre o aborto. Portanto, é preciso dar prioridade a outros temas que possam marcar as diferenças entre os candidatos.
Teleprompter
Ao mesmo tempo em que trabalham os votos evangélicos, os partidos começam a buscar espaço em cima do PT. Logo no início da semana, o PMDB fez chegar ao presidente sua insatisfação com os coordenadores da campanha. Integrantes do partido reclamaram que Dutra não cumpria acordos ; caso da visita de Dilma ao Ceará, desmarcada duas vezes ; disseram que Cardozo não se interessava pela política e que Palocci estava mais empenhado em ajudar na arrecadação de recursos do que em azeitar a convivência na coligação. Por isso, o PMDB sugeriu a Lula que o triunvirato não seria o mais indicado para fazer com que os insatisfeitos de outros partidos trabalhassem pela eleição de Dilma e que esse esforço deveria ser feito por cada partido individualmente. ;Presidente, o senhor tem popularidade, você é o cara, mas, na nossa visão, não podemos concordar que os rumos da campanha agora sejam ditados por três pessoas e um teleprompter;, disse um peemedebista.
Para mostrar que não está brincando na hora de atrair seus insatisfeitos para a campanha de Dilma e de Michel Temer, o PMDB ameaça punir quem ;trair o seu presidente; e fizer campanha para o adversário. ;É como lei de trânsito. Quem não cumpre, tem penalidades;, afirmou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que foi candidato a vice-governador na chapa de Osmar Dias e agora terá a missão de tentar conquistar votos no estado onde perdeu a eleição para o governo.
Em seu primeiro esforço, Michel Temer conseguiu a neutralidade de André Puccinelli, governador reeleito em Mato Grosso do Sul contra o PT e ainda a promessa do candidato derrotado ao governo da Bahia, Geddel Vieira Lima (BA), de trabalhar por Dilma. Outro que entrou na campanha foi Eliseu Padilha, (PMDB-RS) deputado que não conseguiu se reeleger, que foi ministro dos Transportes de Fernando Henrique Cardoso. O PT não gostou de ver Padilha, com quem tem divergências desde os tempos de FHC, instalado entre os comandantes da campanha. ;O PT está reclamando porque perdeu espaço. Quem mandava e agora não manda está chiando, é natural;, lamentou um petista.
A avaliação é a de que essa ciumeira tende a se aplainar (leia mais na página 3) porque, em vez de ficarem brigando, cada partido vai trabalhar ;no seu quintal;. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB),por exemplo, terá que conquistar 700 mil votos a mais para Dilma no estado. Ele reuniu ontem os senadores eleitos Humberto Costa (PT) e Armando Monteiro Neto (PTB), além do deputado eleito João Paulo Lima e Silva (PT), ex-prefeito de Recife. A diferença entre os votos de Campos e Dilma é apontada por petistas como consequência da falta de empenho do governador no primeiro turno. ;Como ele sabia que iria ganhar com mais de 80%, parou de fazer campanha. Ia do gabinete para a produtora e só;, criticou um parlamentar pernambucano. O presidente Lula, entretanto, não pensa assim. A todos avisou que, em vez de ficar procurando culpados, a hora é de todos se unirem para eleger Dilma.
Direito de resposta contra a Canção Nova
A coligação da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, protocolou ontem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um pedido de direito de resposta contra a TV Canção Nova, da Igreja Católica.
A defesa da petista acusa a emissora de ter exibido, ao vivo, uma homilia na qual o padre teria pedido aos fiéis que não votassem em Dilma no segundo turno.
A coligação acusa o padre de ter feito afirmações falsas, entre outros motivos, por ter dito que o PT é ;a favor da interrupção de gestações indesejadas;. Na ação, os advogados de Dilma pedem para usar 15 minutos da programação matutina da emissora.
"Sou contra a forma, o conteúdo e a ideia das privatizações"
Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência
Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência
O número
Faltam
23 dias
para o 2; turno
Em Minas, defesa da vida
Isabella Souto
Leonardo Augusto
Em frente a uma imagem de Cristo na cruz e ao lado de representantes de quatro congregações católicas de Belo Horizonte, a candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, aproveitou para anunciar que é contra o aborto. Ela creditou a uma campanha ;clandestina; e ;oculta; as informações de que ela seria favorável à pratica, que é ilegal e combatida pela Igreja Católica. Em visita à capital mineira, a petista participou de um ato na capela de Nossa Senhora de Fátima, no Mercado Central, onde recebeu apoio dos religiosos, condicionado à adoção de práticas que ;defendam a vida;.
;Sou contra o aborto, até porque seria estranho que, quando há uma manifestação de vida no seio da minha família, porque meu neto acabou de nascer, defender uma posição a favor. Sou contra porque o aborto é uma violência contra a mulher;, afirmou Dilma, que falou sobre o assunto antes mesmo de ser questionada pela imprensa. A petista assegurou ainda que o programa de governo não traz qualquer menção a uma suposta descriminalização da prática.
Se eleita presidente no dia 31, ela disse que terá que encarar o fato de que milhares de jovens praticam o aborto por não ter o apoio de seus companheiros e familiares. ;O Estado não considerará essas mulheres como uma questão de polícia, mas uma questão de saúde pública e social;, argumentou. Em uma tentativa de se identificar com os católicos, Dilma afirmou que foi bom ouvir a ;voz cristalina; dos seminaristas. ;Eu represento esse processo que vai resgatar as pessoas e a família.;
Desde o fim do primeiro turno, a candidata tem sido pivô de boatos que circulam na internet, entre eles o de que ela seria a favor da interrupção da gravidez e que teria declarado que ;nem Cristo; a impediria de vencer as eleições. Temendo perder votos no setor religioso, o PT produziu um documento, que será entregue à militância, em que prioriza o combate à onda de versões sobre assuntos polêmicos atribuídos a Dilma. O texto convoca os militantes a repelir o que chamou de ;guerra suja;.
Ao comentar declarações do candidato adversário, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), sobre as privatizações feitas no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), entre 1995 e 2002, a petista disse que se trata de uma ;tentativa de vacina;. E disse ser ;contra a forma, o conteúdo e a ideia das privatizações;.