Num momento de tensão em sua campanha, a presidenciável petista Dilma Rousseff seguiu à risca a cartilha sugerida por governadores de partidos aliados para o segundo turno. Baixou o tom de autoridade e estabeleceu uma agenda de contato direto com o eleitor. Em visita a um orfanato em Brasília, Dilma carregou a equipe do marqueteiro João Santana para filmá-la abraçando e beijando crianças e discorrer sobre o tema do momento eleitoral: valores cristãos e a instituição familiar.
A candidata usou termos como ;esgarçamento;, ;destruição; e ;corrosão; para se referir aos problemas enfrentados pelas famílias nas comunidades mais pobres sujeitas à interferência das drogas e da violência. Pela primeira vez citou os principais programas sociais do governo ; o Bolsa Família e o Luz Para Todos ; como instrumentos para fortalecer a coesão dos lares brasileiros.
;Os programas sociais são importantes para a recomposição dos laços familiares;, afirmou Dilma, após visitar o Lar da Criança Casa de Ismael. A presidenciável disse ser legítima a discussão sobre aborto. Afirmou, no entanto, que a campanha deve abordar outros temas. ;Você pode fazer a discussão do aborto, mas ela não pode ser o centro de todo o debate no Brasil. É ela e mais um porção de outras questões;, disse.
Antes de começar a entrevista, a petista disse estar entusiasmada. ;Nunca estive tão animada;, sustentou. Mas, ao ser questionada sobre a desvalorização das ações da Petrobras, a ex-ministra do presidente Lula fechou a cara, elevou o tom e deu respostas ríspidas aos jornalistas. Um contraste com o espírito ;paz e amor; do primeiro turno.
Triunvirato
A irritação é explicada em parte por uma tensão na campanha devido à incapacidade das lideranças de encontrar um eixo propositivo e sair da defensiva, sobretudo na questão do aborto. Com esse nervosismo, surgiu uma disputa por espaços. O fogo amigo se espalhou contra o triunvirato que comanda a campanha ;José Eduardo Dutra, Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo. Primeiro, as insatisfações vieram do PMDB. Agora, integrantes da cúpula trocam alfinetadas. O marqueteiro João Santana primeiro foi alvo e depois fez críticas internamente.
O senador eleito pelo Rio de Janeiro Lindberg Farias (PT) disse que a tensão deve-se à expectativa em relação à divulgação da próxima pesquisa de intenção de votos. ;Se a diferença estiver abaixo de 10 pontos, dá uma tensão;, afirmou, reforçando que os eleitores da Baixada Fluminense serão alvos primordiais da campanha nacional. ;Estamos vendo esse voto da Marina. Ela tem muitos na Baixada e esse voto é próximo da Dilma. O voto da Marina na Zona Sul é mais do Serra.;
O presidente Lula dedicou parte do dia à campanha. Ele passou a tarde fora do Palácio do Planalto gravando cenas para o programa eleitoral. Cancelou três compromissos. No fim da tarde, a Secretaria de Comunicação divulgou que Lula recebeu ministros na residência do Alvorada.
Colaboraram Josie Jeronimo e Igor Silveira
CNBB: VOTO LIVRE E CONSCIENTE
; Questionado sobre o cenário atual das eleições à Presidência, o secretário-geral da CNBB, dom João Dimas Lara, disse lamentar que manifestações de aspecto religioso sejam usadas em nome de interesses ideológicos e partidários. Em nota, dom Geraldo Rocha, presidente da entidade, defendeu que é dever de cada bispo orientar os diocesanos em assuntos que dizem respeito à fé e à moral cristã. A nota esclarece que a CNBB não indica nenhum candidato e que a escolha é um ato livre e consciente.
Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência