postado em 10/10/2010 10:50
Com um capital de 20 milhões de votos concedidos a ela no primeiro turno das eleições presidenciais, Marina Silva (PV) terá a capacidade de influenciar os programas dos candidatos que conseguiram chegar à segunda ; e última ; etapa da corrida pelo Palácio do Planalto. Em busca do apoio de Marina e dos eleitores dela, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) analisam aquilo que podem incorporar do projeto dos verdes, inclusive em questões econômicas. Temas como gasto público e reforma tributária constam da Agenda por um Brasil justo e sustentável, documento divulgado pelo PV na última sexta-feira e que servirá de base para as negociações com o tucano e a petista.;Nossa proposta é a de limitar o crescimento do gasto público à metade do crescimento do país;, diz ao Correio o coordenador do programa de Marina, Tasso Azevedo. ;A lógica disso é que quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresce, aumenta a arrecadação, elevando a capacidade de poupança e investimentos do setor público. Isso permite a redução da taxa de juros e um círculo virtuoso para a economia;, explica.
O assessor de Marina admite, porém, que essa estratégia diverge da tendência expansionista das despesas com o custeio da máquina do Estado observada nos últimos anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gastança que Dilma defende sem constrangimento. ;Nossa proposta coloca em xeque o que está sendo feito pelo governo atual;, diz Azevedo. Integrantes do PV, como Fernando Gabeira, defendem abertamente apoio a Serra, que teria uma visão de Estado mais enxuto e eficiente como forma de manter a inflação sob controle e os juros, em patamares aceitáveis ; longe dos atuais 10,75% ao ano.
De olho nessas manifestações de apoio, logo após a divulgação do programa dos verdes para os candidatos que disputam o segundo turno, o tucano não perdeu tempo. ;Vamos abraçar, sim (os projetos do Partido Verde), sem dúvida alguma. Basta lembrar que, em São Paulo, o PV esteve comigo, tanto na prefeitura quanto no governo do estado;, declarou Serra, durante campanha em Vitória da Conquista (BA).
Anseio da sociedade
A decisão de Marina Silva pode não acompanhar a do Partido Verde (PV) ; que tem convenção marcada para o dia 17, na qual definirá seu apoio a Dilma Rousseff ou a José Serra. Por isso, petistas já preparam o terreno para que possam avançar as conversas entre ela e a candidata da legenda. A tramitação do projeto que altera o Código Florestal Brasileiro, por exemplo, foi paralisada na Câmara dos Deputados. Prevendo anistia aos que desmataram até 2009, ele é criticado por ambientalistas, mas o governo estava disposto a ceder aos ruralistas ; antes do fator Marina.
;Nosso desenvolvimento continuará sendo ambientalmente equilibrado, como demonstram os êxitos que tivemos no combate ao desmatamento e na construção de alternativas energéticas limpas;, diz texto de manifesto para o segundo turno assinado por aliados de Dilma. O presidente Lula, por sua vez, alterou a sua agenda na última hora e começa amanhã, pela Ceilândia (DF), uma peregrinação por redutos que deram vitória à sua ex-ministra do Meio Ambiente no primeiro turno.
Um diálogo entre Marina e Dilma, no entanto, não será fácil. As duas tiveram uma rotina de conflitos enquanto ministras de Lula. No programa da candidata verde está prevista, por exemplo, a criação de um índice que meça a densidade de emissões de carbono na economia brasileira. Dilma precisaria estar disposta a explicitar seu compromisso em incorporar ideias como esta. A maior dúvida ainda é se falará mais alto a mágoa de Marina ou a origem petista dela.
Há também a opção de que Marina ; hoje fortalecida ; mantenha-se neutra e invista em uma nova corrida ao Planalto em 2014. Mas tudo dependerá da habilidade que Dilma e Serra terão para convencê-la de que a sua agenda será incorporada. ;O voto na Marina mostra o anseio da sociedade nas agendas ambiental e ética. O bom líder é o que souber capturar isso;, avalia a economista sênior do Royal Bank of Scotland (RBS) para América Latina, Zeina Latif.