postado em 11/10/2010 08:59
Quem vencer a eleição em 31 de outubro terá nas costas não apenas o peso dos compromissos que assumiu durante a campanha, mas a missão de concluir projetos pendentes anunciados por suas legendas há anos e que empacaram no fisiologismo dos políticos e nas reais condições financeiras do país. Essas promessas antigas são recheadas de metas nunca atingidas pelos governos do PT e do PSDB durante os oito anos em que estiveram no poder. Mesmo assim, ganham fôlego nos discursos populistas de última hora feitos tanto pela petista Dilma Rousseff quanto pelo tucano José Serra.A lista de promessas pendentes é grande dos dois lados. Na herança do PT estão juramentos feitos por Lula nas campanhas de 2002 e 2006 que estão longe de se tornarem realidade. Dentre as grande áreas destacadas pelo atual presidente estavam a redução ou o fim do deficit habitacional, a revolução da educação pública e a política de inclusão digital. Nem mesmo o programa Minha Casa, Minha Vida ; apresentado pelo governo como alavanca para resolver o problema da falta ou precariedade das moradias dos mais pobres ; chegou perto da ambição petista. Em 2002, o programa de Lula falava que no comando do governo estratégias seriam usadas para acabar com o deficit de 5,5 milhões de habitações. Lula entregará a faixa ao novo presidente com um milhão de casas concluídas. Mesmo conhecendo as dificuldades de implementar o projeto, Dilma promete construir em quatro anos o dobro de habitações que o governo ao qual pertence conseguiu em dois mandatos.
Há oito anos, o acesso universal à tecnologia digital era uma bandeira do então candidato Lula. O uso da internet, contudo, ainda se concentra nas grandes cidades. No fim do primeiro mandato, 1.200 municípios tinham banda larga. Agora, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), 4.600 cidades têm a estrutura necessária para acessar a rede em alta velocidade. Número inflado em relação ao apontado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que mostra 2.600 cidades brasileiras com acesso à banda larga. Apesar de a promessa de Lula ainda estar distante, Dilma garante que nos próximos quatro anos vai levar internet a 100% dos municípios.
Com o mote da atenção social às mulheres, Dilma tenta alcançar o eleitorado feminino prometendo uma espécie de PAC da Creche. A candidata afirma que em seu governo serão construídas 6 mil unidades para atender crianças carentes. Durante os oito anos do atual governo, 1.780 creches ou pré-escolas foram entregues.
A promessa de Dilma de formar 220 mil mestres e doutores durante o mandato também parece distante das realizações de Lula. O governo tinha meta de qualificar 16 mil professores por ano, o que somaria 64 mil diplomados em quatro anos. A média brasileira atual fica entre 12 mil e 13 mil doutores e mestres por ano.
Tucanato
O discurso de José Serra (PSDB) também mergulha em números ideológicos e metas mirabolantes, principalmente se comparados ao que foi realizado por Fernando Henrique Cardoso durante os oito anos no poder. O tucano promete, por exemplo, a criação de uma política econômica capaz de gerar 20 milhões de empregos em quatro anos. FHC conseguiu criar pouco mais de 7 milhões de novas vagas durante os dois mandatos tucanos. O candidato em campanha se empolga ao garantir que vai viabilizar um milhão de vagas em escolas profissionais públicas.
A era FHC prometeu 500 mil e não conseguiu atingir a meta.
Também entre as propostas do tucano está o aumento de vagas nas universidades públicas. Sem especificar o percentual, Serra terá de trabalhar muito para tirar do papel a pendência em relação ao que pretendia FHC. Durante sua campanha, o ex-presidente disse que iria ampliar o número de vagas em 40%, alcançando 560 mil alunos em cursos de graduação em 2002. Índices que ficaram só no discurso.
O salário mínimo proposto por Serra também caminha em patamar distante dos índices do governo tucano anterior. Durante os dois mandatos de FHC o valor do mínimo foi reajustado em 19%. O candidato promete alcançar a marca de 17,6% já no primeiro ano de governo.
Estratégias
Na avaliação do cientista político Ricardo Caldas, repetir promessas feitas em governos anteriores faz parte de uma estratégia política para demonstrar persistência na busca das metas citadas em campanhas de aliados. ;Creio que faz parte de uma estratégia de longo prazo. Quem não recebeu uma casa popular, por exemplo, tem a esperança de entrar na nova estatística prometida por um candidato. Os que recebem salário mínimo ficam com a esperança de que o reajuste finalmente se consolide. Politicamente, faz sentido insistir nas metas;, avalia.
Para o professor, no universo de brasileiros, em que quase metade tem nível fundamental, o que importa na avaliação de um governo e na escolha do sucessor é o conjunto de propostas que interferem na vida de cada eleitor. ;Cada um olha o pacote do que interferiu na sua vida. Acho que no Brasil não se leva em conta as metas que não foram cumpridas em determinados setores. O que vale é o conjunto das ações;, diz.