Eleicoes2010

Mulheres mostraram força e garantiram seis das 32 vagas do DF nas Câmaras

postado em 11/10/2010 09:42
Arlete Sampaio (PT) garante: O aumento da participação das mulheres nas campanhas eleitorais ainda não se reflete nas urnas. A disputa em 3 de outubro reforçou que a política no Distrito Federal continua sendo um espaço masculino. O resultado do pleito, no entanto, balança essa hegemonia. Dos 24 eleitos para ocupar uma cadeira na Câmara Legislativa, quatro são mulheres, sendo que três delas estão entre os cinco concorrentes mais votados: Eliana Pedrosa (DEM), Arlete Sampaio (PT) e Liliane Roriz (PRTB). Celina Leão (PMN), a lanterninha da lista, completa a bancada feminina a partir de 1; de janeiro de 2011. Na Câmara dos Deputados, o Distrito Federal terá duas representantes: Jaqueline Roriz (PMN) e Érika Kokay (PT).

As mulheres representam hoje cerca de 52% da população da capital, composta por 2,6 milhões de habitantes. Nas candidaturas, entretanto, viram minoria. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 118 pessoas concorreram ao cargo de deputado federal pelo DF: 91 homens (77,1%) e 27 mulheres (22,9%). Na disputa para a Câmara Legislativa, foram 884 inscritos: 660 homens (74,7%) e 224 mulheres (25,3%). A regra de que 30% dos candidatos lançados pelas coligações deveriam ser do sexo feminino não foi respeitada no DF nem em qualquer outra unidade da Federação.

Mesmo em número menor, as eleitas mostraram sua força. Na briga por uma vaga de deputada distrital, elas receberam cerca de 20% da soma dos votos dos 24 postulantes que conquistaram uma vaga. Juntas, as quatro integrantes da bancada feminina cativaram 91.533 eleitores. No ranking, Eliana Pedrosa (DEM) e Arlete Sampaio (PT) só ficaram atrás do campeão do pleito, o petista reeleito Chico Leite (PT). Para garantir uma cadeira na Câmara dos Deputados, as duas eleitas pelos brasilienses acumularam 172,5 mil votos, também cerca de 20% do total dos sufrágios que elegeram os oito representantes do DF.

A atual composição da Câmara Legislativa conta com três mulheres, uma a menos do que a próxima. A mais votada entre as eleitas, Eliana Pedrosa defende que a proporção ainda é muito aquém do ideal. "O homem tem um raciocínio mais exato e econômico, enquanto a sensibilidade feminina se volta mais para as questões sociais. Não podemos desprezar nenhum dos dois, mas precisamos chegar a um equilíbrio", acredita. Para ela, mesmo que inconsciente, o eleitorado ainda leva em conta o gênero do candidato na hora da escolha. "Ainda existe uma cultura machista", diz.

Petista, a eleita Arlete Sampaio, de volta à Câmara Legislativa, sustenta que a candidatura da correligionária Dilma Rousseff à Presidência da República incentivará a participação da mulher na vida política. "O cenário está mudando. Durante a campanha, ouvi muita gente me dizer: ;Desta vez, vou votar em mulher!'", conta. A novata Liliane Roriz defende que quanto mais mulheres no parlamento, melhor. "Os homens não sabem jogar limpo, com amor, com o coração", comenta ela, que rejeita qualquer título de musa: "Isso é uma grande tolice".

"Beleza passa"

A goiana Celina Leão, que conquistou uma vaga com a ajuda do coeficiente eleitoral, anunciou que vai trabalhar para combater o estereótipo de musa. "Beleza passa. Talvez essa seja a minha pior qualidade", diz uma das afilhadas políticas da família Roriz. "Sou mulher e jovem, o que já é difícil ver no poder. E ainda sou loira, que dizem que é burra", comenta ela. Sem querer instigar uma guerra entre os sexos, ela acrescenta que as mulheres eleitas precisam se dedicar à criação de políticas públicas voltadas para o universo feminino. "É o que elas esperam de nós", justifica.

Na corrida presidencial, as mulheres Dilma e Marina Silva (PV) tiveram, juntas, quase da 75% da preferência do eleitorado brasileiro. Na avaliação da cientista política Fernanda Feitosa, do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), o voto em mulheres quebra paradigmas, mas, por enquanto, não consegue conter a força da cultura patriarcal. "Os cargos públicos deveriam refletir a sociedade. As mulheres são mais da metade da população e do eleitorado. Como temos porcentagens tão ínfimas? É claramente um deficit democrático", avalia.

Em todo o Brasil, foram eleitas 44 deputadas federais e 12 senadoras - um total de 56 mulheres no Congresso Nacional, número que pode aumentar com o desenrolar jurídico da chamada Lei da Ficha Limpa. Para a cientista política e professora da Universidade de Brasília (UnB) Lúcia Avelar, a proporção de mulheres está dentro do previsto. "A presença feminina na política não tem crescido. O aumento do número de candidatas pode até dar essa impressão, mas não é verdade. Ainda há muitas barreiras partidárias e financeiras", argumenta.

Quem são elas:

Eliana Pedrosa (DEM) - 35.387 votos (2,51%)

Eleita para o terceiro mandato na Câmara Legislativa, Eliana Pedrosa se destacou nos últimos quatro anos por sua atuação como secretária de Desenvolvimento Social na gestão de José Roberto Arruda. Formada em química pela UnB, Eliana chegou a ser cogitada como possível candidata ao GDF pelo DEM. Mas decidiu disputar a reeleição e conquistou novamente uma vaga.

Arlete Sampaio (PT) - 26.376 votos (1,87%)
Médica, Arlete Sampaio foi candidata ao Senado em 1986, mas não se elegeu. Em 1994, foi eleita vice-governadora, quando integrou a chapa de Cristovam Buarque. Em 1998, ficou em terceiro lugar na corrida ao Senado. Chegou à Câmara Legislativa em 2003. Na
eleição seguinte, foi candidata ao GDF, perdeu e ocupou o cargo de secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Social.

Liliane Roriz (PRTB) - 21.999 votos (1,56%)
Filha caçula de Joaquim e Weslian Roriz, Liliane, 44 anos, é administradora de empresas e jornalista. Apresentou um programa de televisão e ajudou a implantar o Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida no DF. Ao fazer dobradinha com a irmã candidata a deputada federal, Jaqueline Roriz, conseguiu se eleger pela primeira vez.

Celina Leão (PMN) - 7.771 votos (0,55%)

A goiana Celina Leão chegou a Brasília em 2000. Formada em administração de empresas, ela fez parte do movimento estudantil. Trabalhou em indústrias de sua família e, nas horas vagas, dedicava-se ao hipismo. Trabalhou no Procon e, em 2006, foi nomeada secretária de Estado da Juventude durante o governo Joaquim Roriz.

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