Eleicoes2010

Com direito a padre acompanhando e santinhos, Serra faz carreata em Goiânia

postado em 12/10/2010 07:31

Goiânia ; Sob um intenso calor de 35;C que marcou o evento realizado pelo candidato do PSDB à Presidência, José Serra, ontem, na capital de Goiás, os tucanos deram mostras de que a religião continuará sendo um dos principais temas em pauta na campanha visando o segundo turno das eleições presidenciais. O que mais chamou a atenção durante a carreta nas ruas de Goiânia nessa segunda-feira não foi Serra ou o séquito de correligionários, mas o apelo à fé. Citações bíblicas como ;Jesus é a verdade e a Justiça; estavam impressas nos santinhos distribuídos entre os eleitores. No carro de som em que o presidenciável desfilava, um padre o acompanhava. Em certo momento, Genésio Ramos, da Paróquia de São Francisco de Goiás, em Anápolis, deu um terço a Serra, que beijou o artefato.

Ao lado do candidato ao governo de Goiás Marconi Perillo (PSDB) ; que disputa o segundo turno com Íris Rezende (PMDB) ;, Serra percorreu diversas ruas da cidade. No início do percurso, ele caminhou entre a população, mas, devido a um início de tumulto, subiu em um carro de som.

José Serra começou a campanha com uma caminhada pelas ruas de Goiânia, mas subiu em um carro de som após um princípio de tumultoDe cima do trio elétrico, Serra fez um discurso de 20 minutos, no qual insistiu no tema religião. O candidato disse que faz uma ;campanha de fé;. ;A fé vem dentro da gente;, afirmou, acrescentando: ;Nosso povo é de fé;. Mas ele também brincou com o público quando o assunto foi futebol. Ele disse que torce para todos os times, mas ressaltou que é palmeirense desde que nasceu.

Apesar do pano de fundo religioso, não faltaram promessas, nem críticas à rival, Dilma Rousseff (PT). Serra disse que, caso seja eleito, fortalecerá as empresas estatais, rebatendo os ataques de que promoveria uma nova onda de privatizações, especialmente em relação à exploração de petróleo na camada pré-sal. ;É um factoide petista, eu nunca ouvi falar disso;, afirmou o tucano, prometendo dar novos rumos às companhias públicas. ;Vou fortalecer empresas estatais que hoje estão enfraquecidas pela privatização política, como é o caso dos Correios, que estão aí consumidos pela corrupção, pelo empreguismo e pelos negócios;, criticou.

Sobre o debate de domingo passado, Serra voltou a ironizar o tom agressivo adotado pela rival. ;Eu gostei do debate, mas teria feito um evento baseado na discussão de propostas, de programas de governo, o que cada um fez e o que pensam;, afirmou. ;A postura ofensiva é uma estratégia dela (Dilma) e, para mim, foi até uma surpresa que volte a atacar minha família. Atacar família não é bom em campanha eleitoral. Campanha é para se discutir propostas, comparar os candidatos e para que apresentem o que fizeram e o que vão fazer. Esse é o lado melhor da campanha, e não atacar reiteradamente a família de em candidato;, acrescentou.

Irritação
Até então tranquilo, José Serra só ficou irritado quando foi indagado sobre Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, que seria um dos arrecadadores de dinheiro para sua campanha. Segundo reportagem da revista Istoé , Preto teria sumido com R$ 4 milhões da campanha tucana. O presidenciável disse desconhecer o assunto, mas ficou nervoso. ;Eu sou o candidato, você acha que eu não saberia se tivesse havido isso?;, questionou.

Igrejas
A questão religiosa começou a entrar no debate político com a discussão sobre o aborto. Acusações de que a petista Dilma Rousseff seria a favor da prática levaram a candidata a ter problemas com setores das igrejas evangélicas e católica. Desde então, os dois presidenciáveis têm tomado cuidado especial com o tema, que pode ter grande impacto nas urnas.

Tucanos se reúnem em busca de organização

Denise Rothenburg

Enviada especial
São Paulo ; Se os problemas de Dilma Rousseff (PT) antes do primeiro turno foram, em parte, por uma campanha concentrada em três pessoas, os de José Serra (PSDB) tiveram como diagnóstico o excesso de paulistas. Para mudar isso e ampliar a base de busca de votos, os tucanos fizeram ontem uma reunião no quartel-general de campanha para organizar a etapa final. A ordem é concentrar os esforços especialmente no Sudeste e no Sul do país, onde consideram mais fácil José Serra ampliar a vantagem ou tirar alguns votos da candidata do PT. E, ao mesmo tempo, não deixar ataques sem respostas. Com a entrada de Ciro Gomes (PSB-CE) na campanha de Dilma, por exemplo, o senador Tasso Jereissati (PSDB) se prontificou a responder a todos os golpes que Ciro desferir contra Serra. A impressão no ninho tucano é a de que a disputa no segundo turno galvanizou o partido e seus aliados que, da descrença total, passaram a acreditar que podem chegar lá. ;A luta será muito dura, mas, do nosso ponto de vista, estamos na frente. Afinal, candidato que está bem na pesquisa não entra agressivo como ela entrou;, comentou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), que vai ;morar; essas três semanas em São Paulo.

Discurso com foco regional

Na visita a Goiânia, onde esteve outras três vezes durante a campanha presidencial deste ano, o tucano José Serra prometeu levar a Ferrovia Norte-Sul até São Paulo para melhor escoar a produção agrícola de Goiás, além de melhorar o sistema viário da capital e do interior do estado. Logo ao chegar ao Aeroporto Santa Genoveva, o candidato tucano falou sobre a necessidade de uma nova pista de pouso e também da implantação de um sistema de metrô.

;O que se precisa é de um aeroporto moderno para Goiânia, à altura do desenvolvimento do estado. Também é necessária a construção de um metrô, de um anel viário na cidade, e é preciso ligar o estado com Mato Grosso por uma estrada duplicada, além de levar a Norte-Sul para São Paulo, para de lá poder levar os produtos até os portos. A exportação é importante para o Brasil e para gerar empregos para Goiás;, salientou o tucano durante o discurso que fez de cima de um carro de som.

Cara-pintada
Com o rosto pintado de verde e amarelo por um grupo de jovens, Serra se entusiasmou ao falar sobre seu programa de governo, ressaltando a necessidade de se combater o tráfico de drogas. No discurso, o candidato tucano voltou a falar na criação de um ministério que cuide da segurança pública, além de uma guarda nacional para atuar nas fronteiras do país. ;O tráfico anda solto pelas fronteiras;, ressaltou Serra.

No palanque improvisado, o presidenciável tucano ainda comentou a composição do Congresso Nacional a partir do ano que vem, quando PT e PMDB terão as maiores bancadas, tanto na Câmara quanto no Senado. Segundo Serra, ele não terá problemas com o parlamento ;Para mim, o adversário não é inimigo. A oposição tem que ser respeitada;, disse o tucano.

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