Eleicoes2010

Telemarketing de Serra insiste que Dilma é a favor do aborto

postado em 15/10/2010 09:09
São Paulo ; O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, decidiu apostar todas as fichas no debate religioso para tentar vencer o segundo turno das eleições. Ontem, em São Paulo, ele disse ser a favor da união civil de casais gays e ressaltou que ;casamento; é questão ligada à religião. ;A união em torno dos direitos civis já existe, inclusive, na prática, no Judiciário. Outra coisa é o casamento, que tem o componente religioso. Cabe à Igreja decidir sua posição;, ressaltou.

Enquanto fala de religião em todos os eventos que faz nessa etapa da campanha, o telemarketing de Serra opera freneticamente. Em São Paulo e em outros estados, centenas de militantes estão ligando para a casa dos eleitores. A maioria é mulher. Elas ligam em horário comercial no telefone fixo e procuram saber se há eleitor de Marina Silva (PV) na residência. Caso haja, as atendentes insistem na tecla de que a petista é a favor do aborto e que ela hoje se diz contrária apenas para ludibriar o eleitor.

A bancária Maristela Aires, 34 anos, recebeu a ligação em casa, em Osasco, Grande São Paulo, na quarta-feira pela manhã, quando saía de casa para trabalhar. Eleitora de Plínio de Arruda Sampaio (PSol) no primeiro turno, ela estava indecisa até a ligação. ;Na verdade, a atendente falou mais com a minha mãe, que me convenceu a votar no Serra;, relata.

A professora Doraci Costa também recebeu uma ligação dos tucanos em Belém do Pará. Eleitora de Marina Silva, ela decidiu votar em Dilma, mesmo reconhecendo a confusão que a petista fez ao se dizer a favor e depois contra a descriminalização do aborto. ;Acho que suscitar o debate sobre o tema já é um grande avanço;, diz a professora. Em outra frente de campanha religiosa tucana, os militantes de Serra distribuem santinhos em redutos petistas. No panfleto mais comum, há a seguinte frase ao lado da foto do candidato: ;Jesus é a verdade e a justiça;.

Mais abaixo tem a assinatura de Serra e o número de sua candidatura. Na maioria dos panfletos distribuídos em São Paulo e no Rio de Janeiro, as cores do santinho são dois tons de azul e de amarelo, que lembram o partido. No entanto, há uma versão do santinho nas cores verde-claro e verde-escuro, numa alusão à onda verde que Marina Silva instalou no Brasil no primeiro turno, conseguindo arrastar 20 milhões de eleitores. O Correio procurou o comando de campanha de Serra em São Paulo e ninguém quis se manifestar sobre o telemarketing agressivo que enfatiza o aborto nas ligações nem sobre os santinhos com temas religiosos.

Independentes
No Rio de Janeiro, o PSDB informou que os militantes mandam fazer santinhos por conta própria e distribuem voluntariamente nos bairros mais pobres e nos calçadões à beira-mar. No evento em que disse ser a favor da união civil de gays, Serra voltou a criticar Dilma e a carta aberta que a campanha dela estuda publicar afirmando ser contra a legalização do aborto. ;A Dilma tem os problemas dela. Ela diz uma coisa, depois outra;, cutucou. Na carta, a petista pretende se comprometer a não alterar a legislação que trata do aborto e considera o casamento entre homossexuais uma questão das igrejas, e não do governo.

Serra prometeu também, caso seja eleito, reforçar as campanhas de prevenção à Aids no país. Segundo ele, o grande problema da proliferação do vírus no país ainda é a falta de informação quando à transmissão. Ontem, o tucano assinou uma carta-compromisso com prioridades das entidades para o setor e criticou o tratamento feito pelo governo do PT. ;A campanha contra a Aids no Brasil começou a derrapar por falta de medicamentos. O que está por trás disso? Falta de planejamento;,ressaltou. Ele criticou a forma como é conduzida a quebra de patentes de remédios ligados ao combate à doença.

De acordo com Serra, uma das estratégias a ser mantida é a distribuição de preservativos, apesar de as entidades religiosas, como a Igreja Católica, serem contra o método. ;No Ministério da Saúde, nós fizemos uma política de difusão dos preservativos. A Igreja nunca colocou obstáculos. A Igreja sempre colocou sua posição, mas nunca fez campanha propriamente contra isso;, destacou.

PMDB gaúcho com José Serra

Capitaneado pela bancada da Câmara e por prefeitos do partido, o PMDB do Rio Grande do Sul optou por manifestar apoio à candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência. A executiva regional da legenda decidiu por maioria dos votos recomendar ao Diretório Nacional preferência pelo tucano, mas como o comando peemedebista não tem reunião marcada até o segundo turno, o pedido de apoio formal virou ;manifestação de apoio;. Os dois principais nomes do partido no estado, no entanto, permanecem neutros. Candidato derrotado ao governo gaúcho, José Fogaça preferiu não emitir posição, assim como o senador Pedro Simon, licenciado da legenda.

FHC desafia Lula, o ;mesquinho;

; Denise Rothenburg
Enviada especial

São Paulo ; Meio recolhido nos últimos dias e acusado pelo PT de ter feito um governo atrasado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abriu o encontro de 1.500 militantes do PSDB em prol da candidatura de José Serra com um discurso incisivo, em que chamou a candidata do PT, Dilma Rousseff, de ;duas caras;. FHC afirmou que os petistas ;caíram da cadeira; porque não contavam com o segundo turno. Fez, ainda, um desafio ao presidente Lula: ;Quando você (Lula) descer da pompa e perder o monopólio da verdade, está desafiado a conversar comigo em qualquer lugar do Brasil, no PT que seja. Quero ver o presidente Lula que votou contra o Real dizer que estabilizou o Brasil;, afirmou Fernando Henrique, chamando Lula de ;mesquinho;.

;Terminadas as eleições, quando você puser o pijama, será bem recebido. Você fez muita coisa boa, agiu bem na crise atual, financeira, eu reconheço. Mas para que, meu Deus, ser tão mesquinho? Você recebeu uma boa herança. Usou e aumentou. O Serra vai pegar as duas heranças. Isso diminui você? Não precisa, o Brasil é de todos nós;, declarou o ex-presidente, para delírio dos militantes que lotaram um dos salões do hotel.

Fernando Henrique falou por 10 minutos e não esqueceu o caso Erenice Guerra, a ministra que substituiu Dilma na Casa Civil e acabou fora do governo sob suspeita de tráfico de influência: ;Não queremos um Brasil de preguiçosos, de amigos do rei, um Brasil de companheiras Erenices;, afirmou. E continuou cutucando. ;Essa senhora candidata, essa que tem duas caras, que não sabe de que lado está? Ela disse outro dia que vendemos as refinarias da Petrobras. É mentira;, disse ele, que, momentos antes, havia sido mais direto: ;Agora vem falar que eu queria privatizar a Petrobras. Quem é esse Gabrielli para falar isso comigo? Fui presidente da República. Ele tem que me respeitar;, disse, referindo-se ao presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli.

Receio
Segundo o tucano, os petistas estão receosos da derrota. ;Eles estão nervosos, muito nervosos. Nunca imaginaram que haveria segundo turno. Caíram da cadeira. Se Lula foi para a segunda fase, por que Dilma não iria?;, comentou o ex-presidente. ;Só que agora, ela vai às cordas com o nosso voto.;

Fernando Henrique nem esperou terminar o encontro, que reuniu o governador eleito Geraldo Alckmin, o prefeito Gilberto Kassab, deputados estaduais, federais e líderes comunitários tucanos. Todos saíram de lá com a missão de ampliar a vantagem de Serra no estado. No primeiro turno, o ex-governador de São Paulo teve 3% de vantagem sobre Dilma Rousseff.

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