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Menções a união civil homossexual são tiradas de carta de Dilma

postado em 16/10/2010 07:01

Sangria de votos por conta de boatos motivou reunião com líderes religiosos e opção pelo compromisso escritoAo ver sua aproximação com grupos religiosos sendo alvo de fogo amigo dentro do PT e entre eleitores GLBT, a candidata do PT ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, optou por excluir menções a casamento ou união civil homossexual na mensagem divulgada ontem para os evangélicos. A petista reafirmou ser contra o aborto, prometeu não violar liberdade de crença, de culto ou de expressão, minimizou o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) e pregou a valorização da família.

A campanha petista ainda tenta desvencilhar-se do polêmico debate religioso, mas esbarra em táticas redundantes. Essa é a segunda carta aos povos de Deus. No fim de agosto, Dilma Rousseff divulgou uma carta aberta em que dizia que questões como aborto e união estável são da esfera do Congresso Nacional e não do Executivo. A avaliação é que a primeira mensagem não foi clara o suficiente para conter a sangria de votos que acabou por levar a disputa ao segundo turno e ameaça uma vitória da petista.

Intitulado Mensagem da Dilma, o documento é considerado definitivo contra a "campanha de calúnias e boatos espalhados" pelos adversários eleitorais. Foram impressas 2 milhões de cópias e serão divulgadas em cultos e missas de todo o país hoje e amanhã. "Sou pessoalmente contra o aborto e defendo a manutenção da legislação atual sobre o assunto", consta do texto. A manifestação contrasta com a posição de quando era ministra da Casa Civil. Em duas oportunidades, Dilma disse ser favorável à descriminalização da prática, por entender que o caso era uma questão de saúde pública.

;Eleita presidente da República, não tomarei a iniciativa de propor alterações de pontos que tratem da legislação do aborto e de outros temas concernentes à família e à livre expressão de qualquer religião;, diz Dilma no documento finalizado ontem. A mensagem promete ainda que, caso o projeto de lei que trata de proibição à homofobia seja aprovado pelo Senado, ela vetará artigos que violem a liberdade de crença. O temor dos pastores era a proibição de pregações contra homossexuais. Dilma trata ainda o PNDH, plano que inclui aborto e outros temas, apenas como uma carta de intenções, que está sendo revista, e não como um programa de orientação de políticas públicas do governo federal.

Tolerância
Dilma decidiu retirar a menção a casamento gay, debatida em reunião na quarta-feira com cerca de 50 líderes religiosos, depois da manifestação de grupos representativos da área. A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) divulgou carta ontem condenando o rumo do debate eleitoral. ;Nos últimos dias, temos assistido, perplexos, à instrumentalização de sentimentos religiosos e concepções moralistas na disputa eleitoral. Não é aceitável que o preconceito, o machismo e a homofobia sejam estimulados por discursos de alguns grupos fundamentalistas e ganhem espaço privilegiado em plena campanha presidencial;, afirma o texto.

Segundo a presidenciável, o conceito da carta é servir como uma manifestação que dê aos pastores condições de combater a central de boatos. "No tempo da ditadura, como dizia Sebastião Ponte Preta, tínhamos o festival de besteiras que assolava o país. Agora, temos a central de boatos", disse, trocando o nome de Stanislaw por Sebastião. "O Brasil respeita a liberdade religiosa. Não se pode fustigar o ódio para ganhar eleição. Não se pode falar que uma candidata é a favor da morte de crianças. Isso é, de fato, medieval."

Outros manifestos
A campanha de Dilma divulgou outro manifesto, assinado por 168 pessoas, entre religiosos, intelectuais, políticos e artistas em defesa da candidata. "Não aceitamos que se use da fé para condenar alguma candidatura", diz o texto. O MST também divulgou carta de apoio à ex-ministra, dizendo que, apesar de ver com preocupação as alianças da petista, Serra é um inimigo por seu caráter autoritário e pela visão antidemocrática dos partidos que o apoiam.

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