postado em 16/10/2010 07:13
Luiz Estevão está oficialmente afastado da política há uma década, quando tornou-se o primeiro senador cassado do Brasil. Mesmo sem a liturgia do cargo, Estevão transita com desenvoltura nesse meétier. Apesar de não aceitar o título de coordenador, financiador ou mesmo colaborador da campanha rorizista, ele é frequentemente solicitado no grupo de apoio à candidatura de Joaquim Roriz e, agora, de Weslian. "Nunca deixei de falar com Roriz. Quando ele me liga, nós conversamos. Mas não sou pessoa qualificada para desempenhar esse papel", diz. Um dos motivos para a atuação coadjuvante seria a condição financeira de Estevão. Não que lhe falte capital. Ele estima patrimônio de R$ 12 bilhões. O problema é que a bolada está interditada pela Justiça, que indisponibilizou os bens do ex-senador como garantia do pagamento de suposto desvio de recursos da construção do Fórum Trabalhista de São Paulo. "Roriz jamais me pediu suporte financeiro para campanha, até porque ele é conhecedor das dificuldades do meu dia a dia. Me tornei um administrador de reveses", diz . Mesmo respondendo ainda a oito processos de um total de 41 que o acusam de corrupção, Luís Estevão se sente à vontade para avaliar a atuação de deputados que se elegeram no último dia 31 com a bandeira da ética, como José Antônio Reguffe (PDT) e Chico Leite (PT). "A operação Caixa de Pandora e a tragédia do governo Arruda tornaram o discurso deles muito adequado para as circunstâncias. Mas eles tiveram um trabalho que primou pela mediocridade e a omissão. Para mim, são os tiriricas do DF", avalia o senador, que qualifica o conjunto de ações a que responde como a "maior mentira jurídica do país". Estevão atribui o principal revés de sua trajetória pública a personagens como José Roberto Arruda e Paulo Octávio. "Eles me viam como um adversário. Quando tiveram a oportunidade de me jogar dentro de uma história mal contada, não hesitaram", relembra. Mesmo torcendo para a eleição de Roriz, o ex-senador diz que, numa eventual vitória de Weslian, jamais voltaria a atuar publicamente. "Não quero voltar à política e não desempenharei, nem formal, nem informalmente, qualquer cargo no governo", assegura.O senhor coordena a campanha de dona Weslian Roriz?
Não sou um personagem do mundo político e nem pretendo ser. Não quero voltar à política e não desempenharei, nem formal nem informalmente, qualquer cargo no governo. Não sou uma pessoa qualificada para desempenhar esse papel. Disputei a minha última eleição em 1998, quando a cidade tinha aproximadamente um milhão de eleitores. De lá para cá, entraram mais 900 mil votantes. O perfil do eleitorado que eu conhecia não é o mesmo de hoje. Depois de 12 anos afastado da política, perdi o contato com o público que você tem que atingir numa eleição: o eleitor.
Por que, então, mantém relação tão próxima com a campanha de Roriz e agora de Weslian?
Nunca deixei de falar com Roriz. Quando explodiu a Caixa de Pandora, voltamos a conversar com mais frequência porque todo o cenário se modificou e o grande adversário em 2010, que seria Arruda, o então governador, desapareceu do tabuleiro. As forças começaram a se rearranjar e Roriz também se arranjou do ponto de vista do espaço para disputar uma campanha eleitoral. Periodicamente, ele ou o Valério (presidente do PSC e braço direito de Roriz) me telefonam e eu vou lá. Converso com eles porque são pessoas amigas e porque fiz a minha carreira política perto deles.
Nos bastidores, circula informação de que o senhor financia a candidatura rorizista. Roriz jamais me pediu suporte financeiro para a campanha, até porque ele é conhecedor das dificuldades do meu dia a dia. Tenho gestão do meu patrimônio muito complicada por força do bloqueio de bens que eu sofro desde 2000, então o que era para ser uma carreira empresarial muito bem-sucedida passou a ser uma defesa do meu patrimônio, estimado em R$ 12 bilhões, feita com muita tenacidade. Me tornei um administrador de reveses.
O senhor alega que não coordena a campanha, mas tem dado muitos palpites na candidatura rorizista. Qual a sua opinião sobre a performance do grupo?
Roriz fez uma articulação brilhante quando empurrou o Filippelli (Tadeu Filippelli, o vice de Agnelo Queiroz) para cima do PT, porque Roriz tem como uma marca de sua trajetória política a pecha de governo permissivo com a corrupção. Tadeu foi o secretário de Obras e braço direito de Roriz durante oito anos. Se havia corrupção no governo Roriz, Tadeu tinha obrigação de saber. Se o PT aceitou o Tadeu como vice de Agnelo, das duas uma: ou o PT reconhece que de concreto essa corrupção não existia ou, se existia, para o PT essa questão não é tão importante quanto o discurso procura alegar.
Por que, depois de 10 anos afastado da política, as pessoas o levam tanto em consideração?
Você precisa perguntar pra elas. Imagino que seja pelo fato de que, quando fui candidato a deputado distrital, em 1994, tive 46 mil votos sobre um eleitorado de 600 mil pessoas. Foi um período em que o meu discurso se encaixou perfeitamente para aquele momento. Alguém para ter essa proporção de votos em 2010 teria de ter alcançado 140 mil votos e o mais votado não chegou a 40 mil. Mas nada daquilo teria adiantado se eu não tivesse uma atuação muito forte na Câmara, que eu reputo ter sido boa. Fazer trabalho de oposição é difícil, especialmente para arregimentar apoiadores. Além do mais, ter sucesso na política depende muito das circunstâncias.
Como assim?
Chico Leite e Reguffe foram os políticos mais bem votados aqui no DF, para a Câmara Legislativa e a Câmara dos Deputados. Eles sempre tiveram o discurso da moralidade. A operação Caixa de Pandora e a tragédia do governo Arruda fizeram do discurso deles mais do que adequado para as circunstâncias, por isso receberam as maiores votações. Trata-se de um trabalho que primou pela mediocridade e omissão. Eles tiveram a oportunidade de denunciar tudo aquilo que acontecia de errado no governo Arruda, mas não há uma só investigação da Caixa de Pandora que tenha como decorrência alguma ação do Reguffe ou do Chico Leite. Assim como tem gente que acha que a política é uma bandalheira e por isso votou no Tiririca, tem gente que acha que política é uma imoralidade e por isso votou no Chico Leite e no Reguffe. Para mim, eles são os tiriricas do DF.
Não acha que eles, que se elegeram com a pauta ética, vão ficar ;tiriricas; é de ouvir cobrança de postura do senhor, que foi processado em 41 ações, a maioria delas por envolvimento em corrupção?
Uma coisa não tem nada a ver com a outra. De fato, fui processado 41 vezes, 33 das quais fui absolvido. O maior deles, que ainda perdura, é o do TRT(SP). A maior mentira política que se transformou na maior mentira jurídica dos últimos anos no país. Dados como o suposto desvio de R$ 169 milhões foram obtidos em cima de premissas falsas, mas são repetidos à exaustão. Não ando com motorista, segurança, vou a todos os lugares de Brasília e do Brasil e nunca tive nenhum tipo de problema, as pessoas nunca me abordaram de uma maneira deselegante. Se você quiser, vamos agora na Rodoviária.
O senhor está querendo dizer que apesar de tudo o que passou ainda é popular?
Não é popularidade. Mas será que as pessoas acreditam nisso? Eu trabalho desde 1968 e nunca tive como interface dos meus negócios o governo. Comecei a vida como revendedor de pneus, depois de automóveis, e ingressei no setor agrícola e de empreendimentos.
O senhor acha que o ex-governador Arruda tem a ver com o seu insucesso político?
Vigorosamente. Não só Arruda, como o Paulo Octávio e o PT. Cheguei ao Senado fazendo ferrenha oposição ao PT, que me via como um dos principais responsáveis pela derrota de Cristovam (Buarque) ao Senado. O Arruda era o líder de Fernando Henrique Cardoso na Casa e via em mim o potencial adversário para suas pretensões de sagrar-se governador do DF. Paulo Octávio, da mesma forma. Então, quando eles tiveram a oportunidade de me jogar dentro de uma história mal contada, não hesitaram.
O senhor se arrepende de não ter renunciado?
De jeito nenhum. Renunciar seria uma confissão de culpa e eu sou inocente. Eu preferi enfrentar.
Roriz e Arruda foram covardes?
Arruda fugiu do Senado porque sabia que era culpado. Quanto a Roriz, renunciou por conveniência. Ele não se sentia confortável. Não tinha a menor vocação para aquele trabalho.
Ninguém passa pelo vexame de renunciar porque não leva jeito com o Legislativo. Não faz sentido. A situação dele ficou insustentável. O telefonema, o cheque, a bezerra;
A história da bezerra é tão fraca que até hoje não tem nem denúncia contra Roriz.