postado em 16/10/2010 07:11
A pessoa em quem você pretende votar neste segundo turno é a favor ou contra o aborto, o casamento gay e o divórcio? E o que ela pensa sobre a pena de morte e a eutanásia? Agora, você sabe exatamente o que o candidato pode fazer sobre algum desses temas no cargo que pretende ocupar a partir do ano que vem? Praticamente nada, no caso do próximo governador do Distrito Federal. Mesmo assim, os assuntos religiosos têm entrado cada vez mais nas campanhas.A pauta foi inserida pela primeira vez pela representante do PSC, Weslian Roriz. No primeiro debate em que participou, às vésperas do primeiro turno, ela questionou o concorrente Agnelo Queiroz (PT) sobre o aborto. Depois da surpresa, o médico petista afirmou ser contra a prática e a favor da vida. A partir de então, as discussões sobre os valores cristãos só têm aumentado. Para mostrar maior engajamento com as causas de Deus, cada candidato tem procurado se cercar de líderes religiosos e participar de missas e cultos.
Em seu programa eleitoral na TV, Agnelo vem reiterando ser contrário ao aborto. O objetivo é minar boatos espalhados por adversários de que ele e o PT seriam favoráveis à prática. Weslian Roriz também tem usado a propaganda gratuita para reforçar que é a favor da vida e da família. Seu programa chegou a exibir o vídeo de um padre de São Paulo contra o PT ; a pedido da campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT), a Justiça Eleitoral proibiu a exibição das imagens.
Na disputa por apoio dos religiosos, os dois candidatos destinam boa parte de suas agendas a encontros com fieis, líderes da Igreja Católica e pastores evangélicos. Ontem, por exemplo, o petista visitou uma paróquia de Sobradinho e encontrou-se com pastores na cidade. Weslian costuma frequentar missas ao lado do marido. Na semana passada, ela e Joaquim Roriz foram a Luziânia celebrar o aniversário da candidata.
O cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Mathieu Turgeon acredita que essa discussão surge, de uma forma geral no Brasil, com a percepção popular de que outros temas, como a economia, estão bem encaminhados. ;Uma grande parcela da população brasileira é fundamentalista e acredita que o mais importante são os valores pessoais dos candidatos e não a capacidade administrativa de cada um;, afirma. Essa nova dimensão tende a crescer, alerta o docente: ;Os políticos entram nessa discussão porque é mais fácil alienar a base para conquistar os votos. Vale tudo para ganhar a eleição;.
Propostas
No último dia 12, o arcebispo de Brasília, dom João Braz de Aviz ; durante a homilia na missa em homenagem à padroeira ;, fez uma defesa da Lei da Ficha Limpa e criticou o aborto. Na cerimônia, estavam presentes Agnelo Queiroz e a esposa e o casal Roriz. No entanto, para o padre André Lima, assessor da Arquidiocese de Brasília, alguns candidatos vêm tratando os temas religiosos de forma ;oportunista;. ;Essa polarização sobre quem é a favor ou contra as questões tem deturpado as temáticas;, critica. Segundo ele, a Igreja Católica não aponta nomes a serem votados, mas critérios para balizar as escolhas dos fiéis. ;O político precisa ter experiência administrativa, liderança e defender a vida. Não adianta ser contra o aborto e depois permitir que as crianças morram de fome por falta de políticas públicas;, explica.
Tanto para o padre quanto para o pastor Euler de Oliveira, da Igreja Metodista, cristão não precisa votar em cristão. ;O voto vai além da convicção religiosa. Temos de olhar a vida pregressa e as propostas de cada candidato para ver quem é o melhor. Ter de escolher uma pessoa só porque professa a mesma fé é um voto de cabresto;, defende o pastor. Na opinião do religioso, a igreja deve fiscalizar os políticos, mas não pode ter vínculo partidário. ;Não adianta fazer um candidato ao governo assinar um documento contra o aborto, porque a lei é feita no Congresso. Temos de aproveitar as campanhas para debater outras questões fundamentais, como o crack, que está invadindo e destruindo o DF.;
;BOMBARDEIO;
A religião se tornou uma das maiores polêmicas da corrida presidencial. Dilma Rousseff (PT) vem tentando rebater intensa campanha negativa, espalhada pela internet, de que seria a favor do aborto. Ontem, a petista divulgou carta na qual afirma ser contra a prática e que vai defender a manutenção da legislação sobre o assunto. Bispos católicos e evangélicos também lançaram, na quinta-feira, manifesto em defesa da presidenciável contra o que chamaram de ;bombardeio antiético;. Por sua vez, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota, no dia 8, reafirmando que não indica nenhum candidato e que ;a escolha é um ato livre de cada cidadão.;
O VOTO DOS FIÉIS
Pesquisa do Instituto CB Data divulgada na última quinta-feira pelo Correio Braziliense mostra as intenções de voto dos eleitores e suas respectivas crenças religiosas. Agnelo Queiroz (PT) se saiu melhor entre todos os que declararam professar alguma doutrina. Tanto para católicos quanto para evangélicos, o petista ficou com 51% da preferência, contra 36% e 33% (nessa ordem) de Weslian Roriz (PSC). Entre os espíritas, o candidato da chapa Um Novo Caminho teve a maior diferença: 78% a 13%, com 9% de votos brancos. Weslian foi apontada por 36% dos eleitores que se disseram praticantes de umbanda ou candomblé, mas aí também Agnelo seria vitorioso, com 56% das intenções de voto. O candidato do PT conquistou 53% dos votantes ateus ou sem religião. A do PSC, 26%.