Igor Silveira
postado em 17/10/2010 07:32

Tomando como exemplo as peças publicitárias dos presidenciáveis do PT, Dilma Rousseff, e do PSDB, José Serra, as disparidades ficam ainda mais claras. Na propaganda do tucano, divulgada na última quarta-feira, uma narradora contava a tentativa malsucedida da petista como empreendedora em uma loja que comercializava produtos a R$ 1,99. Em seguida, a mesma mulher questionava a capacidade da ex-ministra de administrar o Brasil usando a experiência ruim no comércio. No mesmo dia, ainda no horário de Serra, durante conversa numa oficina mecânica fictícia, um amigo pergunta para o outro em qual ;das duas Dilmas; ele votou: na que fala uma coisa de manhã ou na que tem outra opinião à tarde.
A criação dos programas de Dilma também beira a hostilidade. Na sexta-feira, para responder a afirmações de Serra, a propaganda do PT subiu o tom. ;Eles não param, continuam com esse método sujo de repetição de mentiras;, diz um locutor. ;Eles faltam com a verdade e sem a mínima vergonha;, completa outro. Um dos jingles de Dilma Rousseff faz uma paródia de uma música de José Serra cujo refrão é ;Serra é do bem;. A versão da petista proclama: ;Serra é do bem... Do bem rico, do bem ganancioso, do bem desempregado;. Outros jingles apresentam frases como ;esse tal de Serra não trabalha legal, só dá pedágio e porrada em professor; e ;Zé promessa, Zé conversa (;) quando estava no governo não fez nada pro povão;.

Popular?
Para os políticos dos dois partidos, as campanhas preparadas para o rádio estão dentro do esperado. De acordo com parlamentares que fazem parte das coordenações de campanha, o tom mais agressivo é ;normal; e pode ser explicado pela diferença de linguagem dos meios e pela audiência desses programas. ;Concordo que as críticas são mais agudas. É uma questão de linguagem entre os meios de comunicação. Cada mídia tem seu meio de se expressar e, no rádio, é desse jeito. As campanhas, normalmente, têm seus exageros e suas faltas, mas, na média, não acho que passe do ponto;, afirma o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).
O deputado André Vargas, secretário de comunicação do Partido dos Trabalhadores, considera a linguagem utilizada na corrida ao Palácio do Planalto normal. ;É comum. Não é o melhor, mas é comum. No rádio não tem imagens. Agressão é ruim, mas a crítica política é razoável. É igual quando dizemos que a Dilma lutou contra a ditadura e o Serra fugiu. É uma linguagem popular, mas é um efeito de dois lados porque mostra uma visão preconceituosa também;, explica. ;A audiência é mais popular no rádio;, emenda.
Desrespeito
A justificativa para o baixo nível das propagandas eleitorais gratuitas no rádio não é tão simples assim, segundo Emmanuel Publio Dias, especialista em marketing político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). ;As propagandas de rádio são ruins ou, pelo menos, piores das que são apresentados na televisão. Os estrategistas colocam essas agressões no rádio porque a audiência, na verdade, é menor. Eles atendem ao lado da campanha que quer ver sangue, atendem à militância, que assiste a todos os programas;, pondera.
Dias classificou como um equívoco a explicação de que a audiência de rádio é mais popular. ;É uma grande bobagem, além de ser um desrespeito à audiência. Achar que o público pode ser mais maltratado é ofensivo. Aliás, a baixa audiência pode ser explicada pela baixa qualidade dos programas;, diz. ;A propaganda eleitoral já foi muito boa. Foi revolucionária quando foi criada, mas continua a mesma há 25 anos. Não houve avanço. Atualmente, é preciso mais integração com as novas mídias.;