postado em 18/10/2010 08:51
O mapa da votação pelo país no primeiro turno mostra o que foi decisivo e os caminhos que os candidatos José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) precisam percorrer em busca da vitória. Levantamento feito pelo Correio a partir da base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que a maior vantagem da petista foi tirada nos municípios com até 50 mil habitantes na Região Nordeste. Dali saiu quase a metade da diferença de 14,5 milhões de votos de Dilma para Serra no primeiro turno. Os números apurados mostram que a eleição será decidida nas grandes cidades, onde estão 10,5 milhões de eleitores que votaram em Marina Silva (PV).O cruzamento de dados revela que o percentual de votos de Dilma em cada faixa do eleitorado (pequenos, médios e grandes municípios) diminui na medida em que cresce o número de eleitores. Serra mantém um desempenho estável nos pequenos e médios colégios, mas sofre uma redução acentuada nas grandes metrópoles, chegando a ficar atrás de Marina nas cidades com mais de 1 milhão de eleitores. A candidata do Partido Verde tem desempenho inverso ao da petista: o seu percentual de votos cresce nos grandes municípios.
O PT não briga com os números. O presidente nacional do partido, José Eduardo Dutra, disse que a campanha agora será focada nas maiores cidades de São Paulo, de Minas, do Rio de Janeiro e do Paraná. Essa será a fórmula para tentar aumentar a diferença para o candidato tucano. Nesses quatro estados, Dilma fez 9,5 milhões de votos nas localidades com mais de 200 mil eleitores. Mas a petista foi acompanhada de perto pelos seus concorrentes. Serra conseguiu 6,4 milhões de votos e Marina alcançou mais 5,8 milhões no mesmo reduto.
Outra estratégia do PT é reforçar a busca de votos no Nordeste. Como a maior vantagem de Dilma concentra-se em pequenos municípios dessa região, a coordenação da campanha que levar a candidata à Bahia, a Pernambuco e ao Ceará, nas próximas duas semanas, para tentar aumentar a votação nas capitais. A avaliação é que ela consegue crescer 20 pontos percentuais entre os eleitores pernambucanos e apenas dois entre os baianos.
A estratégia tucana no segundo turno se concentra em atrair os votos conservadores e os eleitores situados em estados onde a candidatura de Serra ainda tem margem de crescimento considerável. Por coincidência, foram apontados como prioridade Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro ; os três maiores colégios eleitorais do país ; e o Rio Grande do Sul. O planejamento, nos quatro estados, passa pela atuação de aliados de peso, como Geraldo Alckmin (PSDB), Gilberto Kassab (DEM) e Aécio Neves (PSDB), que tiveram a tarefa de reunir prefeitos e fazer corpo a corpo, como foco especial nas cidades do interior.
No Sul, o partido trabalhou para conseguir o apoio majoritário do PMDB gaúcho, que havia ficado neutro no primeiro turno. Mas os dois principais nomes da legenda no estado, o senador Pedro Simon e o ex-prefeito de Porto Alegre José Fogaça, mantiveram a neutralidade.
Bolsões
O levantamento feito pela reportagem mostra que Dilma fez 55% dos votos nos municípios brasileiros com até 50 mil eleitores. Foram 21,5 milhões de votos contra 9,8 milhões de votos de Serra. Mas a diferença foi pequena nas cidades do Sul e do Sudeste. Nessas duas regiões, a petista livrou apenas 800 mil votos do tucano nos municípios até 50 mil habitantes. Em compensação, no Nordeste, foi um massacre de 9,8 milhões contra 2,9 milhões do adversário.
Essa diferença é explicada em grande parte pelo programa Bolsa Família, que concentra os benefícios nos pequenos municípios nordestinos. Outro estudo feito pelo Correio mostrou que Dilma venceu com larga vantagem nos 100 municípios que, proporcionalmente, mais recebem o programa. Ela obteve 76,3% dos votos nessas cidades. Por coincidência, em média, 76,8% dos moradores são diretamente beneficiados pelo Bolsa Família nesses municípios. Em Itainópolis (PI), na Chapada do Araripe, onde 74% da população recebe o benefício, a petista atingiu 82,5% dos votos válidos. O pequeno agricultor Abílio de Araújo, 45 anos, com renda anual de R$ 600, afirma que os R$ 102 pagos mensalmente pelo governo são fundamentais para garantir o alimento da família. Em Santa Cruz (PE), a votação da petista alcançou 90% dos votos válidos.
A coordenação do PT considera os maiores municípios mineiros como pontos críticos, porque Serra deverá focar toda a sua artilharia nesses redutos para tentar diminuir a vantagem de Dilma. Para isso, o tucano conta com a mobilização do senador eleito Aécio Neves. Não bastasse a investida do PSDB, a relação entre PT e PMDB ficou azedada por conta das derrotas de Hélio Costa ao governo e Fernando Pimentel ao Senado. O deputado Michel Temer (PMDB-SP), vice na chapa petista, desembarcou no estado na última sexta-feira para tentar convencer Costa a mobilizar a sua base em favor de Dilma.
Apesar do receio dos petistas em relação aos grandes centros, a maior diferença de votos pró-Dilma em Minas foi nos pequenos municípios. Nas cidades até 50 mil eleitores, ela livrou quase 1 milhão de votos sobre o tucano. Esses municípios representaram 70% do colégio eleitoral mineiro, que ficou em 10,6 milhões de votos válidos para presidente no primeiro turno.
Em São Paulo, a expectativa petista é conquistar o eleitor mais pobre concentrado na periferia da capital. O Rio receberá o reforço de Sérgio Cabral (PMDB) a partir da próxima semana. O governador reeleito tirou alguns dias de folga e deixou a campanha nas mãos de aliados.
Colaborou Ivan Iunes