Ivan Iunes
postado em 23/10/2010 08:00
Em uma disputa ainda indefinida, com uma guerra virtual instalada e acusações mútuas, tucanos e petistas concordam em um mesmo prognóstico para o fim da corrida presidencial: os últimos dias de disputa pela sucessão serão marcados por um José Serra (PSDB) e uma Dilma Rousseff (PT) focados em agendas negativas. A opinião comungada por políticos dos dois lados é de que o abandono da versão ;paz e amor; do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o acirramento do conflito entre as duas militâncias colocaram os candidatos em posição de ataque sem espaço para expor propostas.O clima conflagrado de tensão entre as campanhas cresceu especialmente com as acusações de tucanos a institutos de pesquisas e com a agressão da militância petista contra Serra, no Rio de Janeiro, na quarta-feira. Imerso na tarefa de eleger a sucessora, o presidente Lula acabou alvo de críticas ; incluindo fogo amigo ; pela agressividade e impulsividade com que tratou o tucano, a quem acusou de ter fingido uma agressão no caso bolinha de papel x rolo de fita-crepe.
Segundo um ex-ministro do governo, hoje parlamentar, a atitude do presidente reforça uma ação antidemocrática e um clima de conflito exagerado. ;Deveria ter havido uma condenação daquilo por Lula e uma manifestação de solidariedade a Serra. Um candidato não pode ser agredido, de nenhuma forma, nem verbalmente nem fisicamente;, dispara o político.
De acordo com a análise de políticos petistas, a ação efetiva de Lula, especialmente no segundo turno, apenas reforça uma fragilidade detectada pela campanha: a inabilidade de Dilma em conseguir adequar o discurso a uma postura defensiva. O excesso de agressividade precipitou a derrota em Santa Catarina, onde o presidente pediu que os eleitores ;extirpassem; o DEM da política brasileira, e tem custado alguns tropeços à petista nas pesquisas de intenção de votos. ;O presidente chegou num ponto de popularidade em que perdeu a noção do limite. Qualquer um que fingisse uma agressão seria desacreditado na campanha. Serra jamais faria isso. É uma acusação grave;, critica o deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR).
No ninho tucano, o tom tem sido cada vez mais de críticas ao governo federal e à candidata petista, em detrimento das propostas. Há, no entanto, a preocupação crescente de que as críticas se tornem excessivas e acabem por tirar votos de Serra, em vez de dar um fôlego à campanha. Ontem, o programa tucano destinou-se a criticar a atitude de Lula e a tentar capitalizar em votos a agressão contra o candidato. ;Este não é apenas mais um acidente de campanha, ele foi simbólico. Tentar impedir um adversário político de andar na rua, como fez o PT, é inaceitável; e ;o presidente pode apoiar quem quiser, é direito dele como de qualquer cidadão, mas não pode atropelar a lei, utilizar a máquina;, diz Serra nos programas.
Revisão
O resultado das pesquisas eleitorais mais recentes, com o leve crescimento de Dilma, levou os tucanos a reverem a estratégia para os últimos dias da corrida presidencial. O foco anterior, de diminuir a vantagem no Nordeste, acabou substituído. A intenção de Serra agora é tentar ultrapassar a petista e abrir uma vantagem considerável no Centro-Sul ; tarefa considerada mais fácil do que reverter votos na região onde Dilma lidera por mais de 30 pontos. ;É primordial reforçar a campanha no Centro-Sul. O Serra já tinha ido suficientemente para o Nordeste, por isso decidimos modificar a agenda;, afirmou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.
Serra abandonou a ideia de fazer um giro por sete estados nordestinos para se concentrar em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. A cúpula tucana colocou como metas conquistar 1,5 milhão de votos no eleitorado mineiro com a ajuda do senador eleito Aécio Neves; diminuir a vantagem de Dilma no Rio de Janeiro, tendo Fernando Gabeira (PV) com principal cabo eleitoral; e ampliar a votação entre os paulistas.
Há possibilidade de Serra ir à Bahia e a Pernambuco. A região que concentra os maiores índices de popularidade do presidente Lula e vantagem de Dilma Rousseff será tarefa do senador eleito Aécio Neves. A meta no início do segundo turno era Serra conquistar seis milhões de votos na região. As pesquisas de intenção de votos mostram que a diferença em favor de Dilma aumentou.
Por isso, se depender da dupla petista, o esforço do senador eleito por Minas será em vão. Haverá um esforço extra em cima de Minas, onde está previsto o encerramento da campanha numa caminhada por Belo Horizonte. Além disso, haverá reforço na campanha pelo Nordeste para ampliar os índices de votação do primeiro turno.
Dilma batizou a caravana eleitoral que passará por três estados como ;superterça;. Nesse dia, fará carreatas em Fortaleza, Caruaru (PE) e encerra o dia com um comício em Vitória da Conquista (BA). Esses são os três maiores colégios eleitorais na região, onde os petistas esperam que ela alcance uma média de votação superior a 70%. Na quarta-feira, Dilma deverá ir a Manaus, e a Recife no próximo dia. Sexta-feira, permanece no Rio de Janeiro para o debate da Rede Globo.
Terrorismo
Líder do PT na Câmara, Fernando Ferro disse que a campanha de Serra está desesperada: ;A Al-Qaeda vai pedir curso para o Serra para saber como atacar rivais;, disse. Ferro criticou ainda setores da Igreja. ;Uma coisa é a Igreja militar por causas sociais, a outra é financiar campanha;. A PF recolheu panfletos impressos pela Diocese de Guarulhos com texto que prega voto em candidatos contrários ao aborto.
Faltam santinhos
Petistas reclamam que em Pernambuco e na Bahia está faltando material e dinheiro. A demanda por adesivos, bandeiras, santinho e faixas está aquecida. Na Bahia, a falta de material acertou em cheio o PMDB, que reclama de falta de dinheiro para imprimir materiais. ;Estamos fazendo carreatas e reuniões com prefeitos. Dinheiro é complicado porque há burocracia para chegar aqui;, disse o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).