Ivan Iunes
postado em 23/10/2010 08:00
Donos de um capital eleitoral avaliado em 1,2 milhão de votos, Paulo Maluf (PP-SP) e Anthony Garotinho (PR-RJ) seriam, na prática, alvos preferenciais na disputa travada por Dilma Rousseff (PT) e por José Serra (PSDB) em busca de apoios para o segundo turno presidencial. Seriam, não fossem os altos índices de rejeição ostentados pelos dois políticos ; que participaram da eleição para deputado federal em seus estados. Ao passo em que o ex-governador fluminense esteve às voltas com a Justiça, mas conseguiu garantir a candidatura à Câmara Federal e a eleição com 700 mil votos, o atual deputado federal paulista não obteve a mesma permissão para validar os quase 500 mil votos que recebeu das urnas. Ele foi enquadrado nos critérios da Lei da Ficha Limpa. Maluf ainda aguarda o julgamento do caso pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).Nas últimas semanas, tanto Garotinho quanto Maluf dizem ter sido procurados pelas campanhas petista e tucana, mas os comandos das duas campanhas não admitem qualquer conversa em busca de apoio. Envolvidos em condenações judiciais recentes, os dois políticos têm peso considerável em seus estados, mas há o temor, tanto de Dilma quanto de Serra, de que uma eventual aproximação acabe por tirar mais votos do que agregar, por conta dos índices de rejeição que os acompanham. ;Falei com Garotinho e com Maluf por telefone, mas não vamos nos pronunciar sobre querer ou não o apoio deles. Eles é que devem anunciar se querem ou não apoiar alguém;, despista o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Em 2006, o ex-governador fluminense chegou a apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência, mas o tucano evitou aparições ao lado de Garotinho.
Nos últimos meses, Maluf foi condenado pela Justiça paulista por ter superfaturado uma compra de frangos quando era prefeito de São Paulo (1992-1996). Já Garotinho teve que se defender de uma acusação de abuso de poder econômico durante as eleições municipais de 2008, aceita pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). Inicialmente com as candidaturas barradas à Câmara dos Deputados, os dois acabaram com votações expressivas nas urnas, mas somente o ex-governador fluminense conseguiu ser liberado pela Justiça depois de recorrer da condenação.
Neutralidade
Deixado à deriva por Dilma no primeiro turno, a tendência de Garotinho é de adotar a neutralidade. ;A Dilma recebeu nosso apoio no primeiro turno e sequer gravou mensagem para o nosso candidato ao governo do Rio de Janeiro, que teve um milhão de votos;, reclama o ex-governador. Embora tenha desembarcado da campanha petista, ele também não admite apoiar Serra, porque o presidenciável não respondeu a algumas exigências. ;O apoio a Serra fica difícil porque ele hesita em garantir a manutenção das regras para a distribuição dos royalties do petróleo e não consegue ser enfático em relação ao aborto, à legalização da prostituição e à mudança de sexo com dinheiro do SUS, todas propostas do PNDH (Plano Nacional de Direitos Humanos). Ele tergiversa em tudo isso;, critica Garotinho.
A mesma tendência de neutralidade deve ser adotada por Maluf, que ainda trava uma guerra judicial para consegui tomar posse na Câmara em 1; de fevereiro. Ex-governador e ex-prefeito de São Paulo, o atual deputado federal garante que também tem sido cortejado por ambas as campanhas. Em plano nacional, a decisão do PP foi por reforçar a campanha de Dilma, mas o diretório paulista do partido ainda não se definiu. ;Em princípio, não estamos alinhados com nenhuma candidatura. Temos votos suficientes para atender qualquer um dos dois lados. Estamos confortáveis pelo aspecto eleitoral. Muita gente está fazendo contatos conosco, mas a posição oficial é deixar para que somente em uma reunião conjunta a decisão seja tomada;, diz Maluf.