Às 19h30 de 28 de outubro de 2006, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já tinha apurado 90% dos votos dos brasileiros no segundo turno da eleição presidencial. Àquela hora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorava a reeleição para o Palácio do Planalto, derrotando Geraldo Alckmin (PSDB) por uma diferença que, ao fim da apuração, foi de mais de 20 milhões de votos. Mesmo com os escândalos que pipocaram em seu primeiro mandato e lhe causaram desgates políticos, Lula teve uma vitória tranquila, enquanto seu adversário teve menos votos do que no primeiro turno.
Os escândalos do mensalão da base parlamentar governista, dos petistas que tentavam comprar dossiês contra o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra (PSDB) ; os chamados aloprados ; e até mesmo o episódio da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa não foram suficientes para impedir a reeleição de Lula. Quando os fatos ocorreram, a popularidade do presidente despencou, mas não a ponto de nocauteá-lo, embora a disputa presidencial tenha sido levada a segundo turno.
Passado o turno inicial, Lula praticamente não precisava do apoio de outros partidos, mas teve a adesão do PDT, cujo presidenciável foi Cristovam Buarque e que, no primeiro mandato de Lula, acabou demitido do Ministério da Educação. Das legendas derrotadas no primeiro turno das eleições presidenciais, apenas o PSol ; cuja candidata à Presidência, a então senadora Heloísa Helena (AL), ficou na terceira colocação ; não se alinhou aos petistas. Parte do PMDB ficou com Lula e Alckmin permaneceu com o DEM.
No ano em que o cinema brasileiro perdeu seu mais famoso cafajeste, o ator Jece Valadão, e a música nacional ficou sem grandes personagens, como Sivuca, Braguinha e Mario Zan, a internet começou a ser uma arma de propaganda política. Sites de relacionamento social viraram instrumento de envio de mensagens dos dois candidatos e também palco de ataques mútuos e de calúnias.
Debates
Nesse contexto, os debates do segundo turno passaram a ser a tônica da campanha. E foram justamente esses confrontos televisivos que fizeram a diferença para Lula. Seu vice, José de Alencar, após o resultado do primeiro turno, alertou que o presidente deveria aceitar os convites e enfrentar Alckmin, o que não fizera na primeira etapa da campanha. Lula deixara de responder aos ataques e às cobranças de seus adversários em torno dos escândalos que marcaram seu primeiro mandato. Mas, na etapa final, compareceu a todos os debates, o que aumentou o seu número de votos, enquanto o candidato tucano teve um declínio na preferência do eleitorado.
Ao fim da votação, Lula foi o presidenciável mais bem votado em 19 estados e no Distrito Federal, enquanto Alckmin ganhou em sete unidades da Federação. Começava, em 28 de outubro de 2006, o segundo mandato do primeiro presidente operário do país, que conquistou nas urnas mais quatro anos de governo em um partido que fora oposição a todos os regimes que passaram pelo Brasil, inclusive depois da redemocratização.