Brasília e São Paulo ; A tônica do penúltimo debate entre os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) foi, mais uma vez, a agressividade. A estratégia durante todo o tempo de embate era a de ressaltar os calos de cada um, enquanto os dois candidatos tentavam se desvencilhar dos temas espinhosos para entrar nos discursos propositivos. Se do lado tucano os assuntos relacionados ao ex-funcionário do governo paulista Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, e à privatização eram evitados, a petista se esquivava de temas ligados à ex-ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra e aos aliados, como os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor (PTB-AL).
Logo no primeiro bloco, para surpresa dos convidados de ambos os lados, que esperavam um tom mais ameno, Dilma e Serra tocaram em questões delicadas para as campanhas. Quando, na primeira pergunta, a candidata do PT perguntou a Serra sobre a continuidade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe de Dilma durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano classificou o programa como uma simples lista de obras. ;É mais saliva que realização;, provocou. ;Acho que o senhor está enrolando. Lista de obras era o Avança Brasil;, rebateu Dilma, aposentando a expressão tergiversar, que tanto usou em debates anteriores, e citando o programa criado durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A partir daí, a ironia e o sarcasmo tomaram conta dos dois lados. Serra lembrou que Erenice, ;braço direito; de Dilma na Casa Civil, segundo ressaltou o tucano, depôs ontem na Polícia Federal numa investigação de um esquema de corrupção. Ela contra-atacou: ;E o Paulo Preto, que não é só o braço direito de Serra. É o esquerdo e, se bobear, a cabeça, porque foi responsável por obras importantes de São Paulo, como o Rodoanel;. Na tréplica, o tucano definiu o apelido ;Paulo Preto; como preconceituoso.
Outro assunto usado insistentemente por Dilma Rousseff foi a política de geração de empregos. Quando perguntou pela primeira vez sobre o assunto para Serra, ela afirmou que ;tenta ouvir, sem sucesso, uma resposta do candidato há três debates;. Serra não respondeu. Na última pergunta, Dilma voltou ao tema. Serra citou que ampliou os empregos na área da saúde quando foi ministro de Fernando Henrique Cardoso e que os 15 milhões de empregos da era Lula têm mais a ver com a ;quantidade maior de empregos formais, e não com a geração de novos postos;.
Economia
A Petrobras foi um dos tópicos que mais rendeu divergência. Serra enfatizou que durante a gestão de Dilma no Conselho de Administração da Petrobras, a ex-ministra de Lula teria facilitado o acesso ao petróleo brasileiro a dezenas de empresas estrangeiras, o que qualificou como um ;tipo de privatização;. Dilma respondeu que até a descoberta do pré-sal o Brasil tinha um modelo de exploração do petróleo baseado em concessões, mas que, quando foi descoberto o pré-sal, o país recebeu um ;bilhete premiado de loteria;, o que justificava uma nova abordagem em relação ao tema.
O clima ficou quente quando Serra afirmou que Dilma ;é uma profissional na arte de mentir;, numa referência à política incerta dela em referência às privatizações, e questionou a candidata sobre a relação dúbia quanto ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Segundo Serra, numa hora a candidata usava o boné do movimento e em outra, rechaçava a postura. A ex-ministra defendeu-se dizendo que não concordava com todos os comportamentos do movimento, mas que não considerava o MST caso de polícia, mas, de política pública. Sem evoluir muito nas questões levantadas, os dois candidatos deixaram o estúdio da emissora paulista acusando um ao outro de não responder às perguntas.