Eleicoes2010

Abstenção deve aumentar por seca e migrações neste segundo turno

PSDB e PT usarão a última semana para incentivar o comparecimento às urnas no domingo. Nos dois lados há estimativa de prejuízo, seja com romarias de Finados no Nordeste, efeitos da estiagem no Norte, deslocamentos de trabalhadores no Sudeste ou feriado emendado em vários estados

Luiz Ribeiro/Estado de Minas - Enviado especial
postado em 26/10/2010 09:10
Jenipapo de Minas ; Preocupados com a alta taxa de abstenção no segundo turno, PT e PSDB vão passar a semana tentando reforçar a importância do comparecimento às urnas no domingo. Tucanos querem evitar a debandada de eleitores em virtude do feriado prolongado em alguns estados. Petistas temem por romarias no Nordeste, como a de Finados, em Juazeiro do Norte, no Ceará. As duas campanhas, entretanto, terão que lidar com dois fenômenos comuns: a seca no Norte do país e as migrações sazonais, que levam milhares de eleitores do norte de Minas para o corte de cana no interior de São Paulo. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 24,6 milhões de pessoas deixaram de votar no primeiro turno. O índice de 18,12% foi o mais alto desde 1998. E, historicamente, a tendência é que o percentual seja maior no segundo turno (veja quadro).

Levantamento do TSE mostra que, em 3 de outubro, os ausentes estavam concentrados em cidades pequenas, como Guajará, no Amazonas. Dos 7.818 eleitores aptos no município, 3.722 votaram. A seca que atinge a região é apontada como motivo pela abstenção de 52,3% dos eleitores. Outras seis cidades do estado também tiveram alto número de faltosos. De acordo com a Defesa Civil estadual, 38 dos 62 municípios do estado decretaram situação de emergência. Mais de 72 mil famílias já foram atingidas pela estiagem e o baixo nível dos rios.

;Com a seca, o eleitor tem muita dificuldade. Precisa se dirigir a uma cidade e o trajeto normalmente leva duas horas de lancha. Agora, ele tem que caminhar. A situação desestimula o comparecimento e a tendência é que se agrave;, afirma o diretor do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM), Pedro Batista. No estado, a Justiça organiza seções especiais para atender as comunidades ribeirinhas. Por turno, essa logística custa R$1,1 milhão e envolve entrega de urnas, frete de hidroaviões, contratações especiais de funcionários, aluguel de pista de pouso, entre outros. ;É uma eleição muito cara e por conta da seca estamos com gastos extras;, admite o diretor do TRE-AM, que estava ontem redigindo um pedido de suplementação para o TSE. O município de Iranduba solicitou a inclusão de três comunidades no segundo turno e precisa de R$ 50 mil.

Em Minas Gerais, o alto percentual de ausentes no Vale do Jequitinhonha pode atrapalha os planos petistas. A abstenção é motivada pela saída de trabalhadores que vão buscar sustento nas usinas de açúcar e álcool no interior paulista. Os cortadores de cana saem de casa, entre abril e maio, deixando para trás mulheres (as chamadas viúvas da seca), com os filhos. Só retornam em dezembro, ou seja, depois da eleição. Em Jenipapo de Minas, a ausência foi de 41,32%, uma das mais altas do país. A perspectiva é de que o índice se repita no domingo.

;É uma consequência de um flagelo social, que se repete a cada ano em nossa região, representado pela migração. Os pais saem para o corte de cana, deixando para trás as mulheres e os filhos, pela falta de uma alternativa econômica e outro meio de sustentabilidade;, lamenta o prefeito de Jenipapo de Minas, Márlio Costa (PDT). Segundo ele, a cada ano cerca de 2,5 mil pessoas deixam o lugar em busca do sustento temporário nos canaviais paulistas. Na cidade, é explícito o apoio a Dilma Rousseff, com propaganda da petista espalhada pelas ruas.

Cabresto
Teresa da Silva Santos, mãe de seis filhos, conta que o marido não votou porque está trabalhando no corte de cana. Ela revela, porém, que em eleições municipais o marido voltou a cidade somente para votar, contando com a ajuda extra de candidatos a vereador da cidade.

Assim como no restante do Vale do Jequitinhonha, embalada pelo Bolsa Família e outros programas sociais e favorecida pela própria barragem de Setúbal, Dilma ganhou com folga em Jenipapo de Minas no primeiro turno: 2.029 (71,8%), contra 680 votos (24%) do tucano José Serra e 108 votos (3,8%) de Marina Silva (PV). No entanto, mesmo com a larga vantagem, a petista ;perdeu; para as abstenções, que somaram 2.226. O município tem um total de 5.282 eleitores.

Um dos coordenadores da campanha petista, o deputado Cândido Vacarezza (PT-SP) tentou minimizar o provável aumento da abstenção no segundo turno. ;O nosso adversário está muito preocupado com a ausência. É natural que no segundo turno haja um índice maior, mas nossos eleitores vão votar, tenho certeza;, afirma. Os tucanos estão apreensivos com a possibilidade de os eleitores paulistas, onde Serra lidera as pesquisas, viajarem no feriado prolongado. O PSDB prepara um levantamento sobre o possível impacto da abstenção nos estados. Ontem, o próprio Serra reforçou: ;Perca um feriado e ganhe um feliz ano novo;.


NÚMEROS INFLADOS
O alto índice de abstenção no primeiro turno foi inflado pela Justiça Eleitoral com a inscrição de títulos de pessoas mortas. Entres os 24,6 milhões que deixaram de votar, o Correio mostrou que estão celebridades como o escritor Fernando Sabino, o ex-governador Miguel Arraes e a médica Zilda Arns, vítima do terremoto do Haiti. A Corregedoria do TSE abriu procedimento para apurar possíveis irregularidades no cadastro nacional de eleitores.

ANÁLISE DA NOTÍCIA

Ausências crescentes

Denise Rothenburg

Os candidatos têm mesmo que estar preocupados com as abstenções. No primeiro turno, o não comparecimento ficou bem próximo dos 18% do eleitorado. E, no segundo, a perspectiva é atingir a casa dos 20%. Isso porque, além de uma certa apatia do eleitor com a sucessão presidencial, o percentual daqueles que deixam de votar cresce desde 2002. E, no segundo turno, a ausência sempre tem sido maior. Especialmente em regiões onde o transporte é mais difícil ou não há eleição de governador para ajudar a empolgar a população, caso de 18 estados brasileiros neste pleito de 2010.

Em 2002, entre o primeiro e o segundo turno, o percentual daqueles que deixaram de votar cresceu de 19,72% para 26,18% no Norte; de 20% para 21,43% no Nordeste; de 18,7% para 21,27% no Centro-Oeste; de 16,33% para 18,71% no Sudeste; e de 14,5% para 16,10% no Sul. Em 2006, não foi diferente. A abstenção total no país cresceu de 16,75% para 18,99%. Tanto em 2002 quanto em 2006, o segundo turno ficou mais distante do feriado de Finados, o que dificultou ao eleitor ;emendar; com o fim de semana eleitoral. Desta vez, está pertinho.

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