postado em 28/10/2010 08:09
Os milhões investidos nas campanhas dos dois candidatos ao Palácio do Buriti não foram suficientes para convencer uma parte do eleitorado do Distrito Federal. De acordo com as últimas pesquisas, a poucos dias do segundo turno do pleito que decidirá quem será o próximo governador da capital, de 7% a 9% dos cerca de 1,8 milhão de eleitores ainda não escolheram entre Agnelo Queiroz (PT) e Weslian Roriz (PSC). O percentual pode não ser suficiente para ameaçar a vantagem do petista em relação à adversária nas sondagens recentes, mas indica que muita gente não está satisfeita com o cenário político brasiliense. O baixo nível na disputa, a ausência de propostas concretas para resolver problemas de setores vitais, como saúde, educação e segurança, e o clima de instabilidade jurídica com a substituição de Joaquim Roriz pela mulher ; em razão do impasse em torno da Lei da Ficha Limpa ; são alguns dos fatores apontados por especialistas ouvidos pelo Correio para considerar elevado o patamar de indecisos na reta final desta campanha.
Na última terça-feira, levantamento do Instituto DataFolha mostrou que, entre o eleitorado do petista, 7% afirmam que podem mudar o voto na última hora. Já 6% dos simpatizantes de Weslian declararam que podem desistir de dar o voto à ex-primeira-dama do DF.
[FOTO2]Nas ruas, os indecisos justificam a neutralidade às vésperas do pleito com duras críticas às duas campanhas. Para o publicitário Breno David Souza Medeiros, 25 anos, a postura dos postulantes a chefe do Executivo local não contribuiu para que a população tomasse uma posição antecipada. ;O que estamos vendo são debates vazios de ideias. Até agora, nenhum deles me convenceu que merece meu voto, não conseguiram focar em nada que seja bom para a população. Não quero votar em quem faz mais denúncias e, sim, naquele que defende as melhores propostas. Infelizmente, eles estão empenhados apenas em se atacar;, critica Breno.
Bombardeio
A opinião é compartilhada pelo bombeiro civil Antônio Rocha Filho, 25 anos. Para ele, o confronto de propostas perdeu lugar, principalmente no segundo turno, para ataques pessoais. O bate-boca, segundo ele, dificulta a escolha. ;A única preocupação deles é criar um bombardeio de acusações. Se continuar desse jeito, com esse nível tão baixo, vou acabar anulando meu voto;, ameaça.
Apesar de o número de indecisos ser expressivo, o cientista político Leonardo Barreto considera pouco provável que o resultado das eleições contrarie as pesquisas de opinião que colocam Agnelo Queiroz mais de 20 pontos à frente de Weslian Roriz. ;Na corrida presidencial, os indecisos podem até reverter o cenário, mas, no caso do DF, mesmo que todos os indecisos votassem em Roriz, Agnelo venceria. As pessoas que manifestaram a intenção de votar no petista
já garantem a vitória dele. Teria que acontecer muita coisa para Weslian virar o jogo;, considera Barreto.
Na avaliação do cientista político, as duas chapas falharam na construção da imagem dos candidatos, o que teria deixado o eleitor desiludido e confuso. ;A verdade é que nenhuma campanha empolgou. O grupo de Roriz ficou enfraquecido com a troca do cabeça de chapa. Já Agnelo, ao firmar uma aliança com o PMDB, não convenceu petistas tradicionais. O mais interessante é que as dúvidas giram em torno de votar em Agnelo ou anular, ou votar em Weslian ou anular;, analisa Barreto.
À FRENTE
Segundo o Instituto DataFolha, 91% do eleitorado está totalmente decidido. Na pesquisa anterior, o índice era de 87%. Entre as 1.112 pessoas entrevistadas em 26 de outubro, 55% afirmaram que votarão em Agnelo Queiroz (PT), enquanto 30% disseram preferir Weslian Roriz (PSC). Se considerados apenas os votos válidos, a diferença é de 65% a 35% em favor do petista.
RESULTADO DO PRIMEIRO TURNO
Candidato - Total de votos - Percentual
Agnelo Queiroz (PT) - 676.394 - 48,41%
Weslian Roriz (PSC) - 440.128 - 31,50%
Brancos - 58.332 - 3,76%
Nulos - 95.130 - 6,13%
Abstenção - 283.177 - 15,44%
ENTRE NULOS E BRANCOS
No primeiro turno, parte da população demonstrou a insatisfação com as opções nas urnas. Foram 153.462 votos inválidos, o que representou 9,89% do total. Agnelo recebeu 676.394 votos e Weslian, 440.128 (veja quadro).
Na largada para o segundo turno, a estratégia dos responsáveis pelas campanhas era conquistar essa parcela de eleitores, mas nem todos foram convencidos. A professora Asenati Teixeira Leite, 34 anos, é uma delas. Ela se diz decepcionada com a falta de propostas para melhorar a educação no DF, confessa que tende a escolher Agnelo, mas não descarta anular o voto. ;Não acho bom para a democracia votar nulo, mas na situação em que se encontra a política do DF fica difícil não tomar essa decisão.;
O dilema da diarista Michele de Brito Pereira, 32 anos, é entre votar em branco ou em Weslian. ;Acho que os dois são despreparados, mas admiro a coragem da Weslian em fazer o que ela fez pelo marido, sem contar que gosto do que Joaquim Roriz fez pelos mais humildes;, diz Michele.
Para o coordenador de pesquisa do Instituto CB Data e cientista político, Adriano Cerqueira, mesmo que as pesquisas deem vantagem a Agnelo, pode haver surpresas no segundo turno. ;Uma coisa que aprendi na política é que intenção de voto é uma coisa e voto é outra totalmente diferente.;
Cerqueira ressalta dois aspectos que podem afetar o resultado das eleições do dia 31: o feriado prolongado e o tempo menor que as pessoas passarão na fila da seção eleitoral. ;Se no primeiro turno as pessoas ficavam 20, 30 minutos na fila, agora vai ser bem mais rápido. Isso significa que elas têm pouco tempo para ser convencidas na fila por alguém;, explica o pesquisador. (SA)