Eleicoes2010

Marina Silva lamenta o fato de candidatos não discutirem temas relevantes

postado em 29/10/2010 08:15

O voto é secreto, diz a senadora Marina Silva (PV), mas esse ;benefício democrático; não esconde por completo as posições da ex-presidenciável no segundo turno. Em entrevista ao Correio, a ex-candidata afirma que Dilma Rousseff (PT) demonstrou maior envolvimento com as propostas apresentadas pelo PV após o primeiro turno. ;A ministra Dilma comprometeu-se um pouco mais com as propostas, o que não impede que possa se comprometer mais;, diz. Responsável direta por levar a disputa presidencial para uma segunda etapa, Marina afirma que Dilma e Serra desperdiçaram a chance de debater ideias e propostas ao fazerem opção pelo ;vale-tudo eleitoral;. Mesmo assim, a senadora considera que a realização do segundo turno foi uma ;conquista; dos eleitores. A dois dias da votação, Marina segue hoje para o Acre, onde vota. Ela evita falar diretamente em 2014, quando um novo sucessor será escolhido. ;Eu não gosto de fazer as coisas pensando no próximo pleito;, justifica. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Ouça entrevista com a senadora Marina Silva (PV-AC) sobre o segundo turno


A senhora foi o fiel da balança no primeiro turno e a decisão de se manter independente tem uma importância grande para a isputa final. Como acompanha esse processo?
Acompanho com muito interesse. Trabalhei muito com o Guilherme (Leal, ex-candidato a vice), com o Partido Verde e com as pessoas que contribuíram para a campanha para que tivéssemos a chance de, no segundo turno, debater com mais profundidade as questões relevantes para o Brasil. Lamentavelmente, os candidatos partiram para o vale-tudo eleitoral e não aproveitaram a segunda chance que tiveram. Dessa vez, foi um desperdício enorme de tempo. Eles tinham todo o tempo para fazer o debate, para aprofundar as questões. Mesmo as críticas poderiam ser feitas, mas não como trampolim. Estamos aí próximos da decisão e lamentavelmente o tempo já foi perdido.

Serra prometeu desmatamento zero na Amazônia e Dilma passou a citar as fontes limpas de energia. A senhora acredita em algum dos dois?
Espero sinceramente que não sejam medidas eleitoreiras. Um ato declaratório por parte dos candidatos não é suficiente, inclusive pedimos para que eles respondessem por escrito (às propostas do PV). A ministra Dilma encaminhou a própria resposta. O governador Serra o fez por meio do presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Era fundamental que fosse por escrito para que fôssemos justos com a manifestação de cada um, para que os nossos convencionais pudessem fazer as avaliações sobre as respostas de cada um sem cometer qualquer injustiça. A avaliação é de que a ministra Dilma comprometeu-se um pouco mais com as propostas, o que não impede que possa se comprometer mais.

O fato de Dilma ter chegado mais perto do que a senhora propôs pode influenciá-la a votar na petista?
Essa não é apenas uma questão declaratória. É fundamental que os candidatos integrem a questão em seus programas de governo para além do discurso. A sociedade brasileira avalizou essa proposta com quase 20 milhões de votos. Meu voto vai gozar do benefício democrático em que o voto é secreto. O segundo turno ofereceu a oportunidade de os candidatos convencerem os eleitores. Decidimos ficar independentes, sem declarar voto a nenhum dos candidatos, sem envolvimento com as campanhas. Ainda assim, aqueles no PV que desejam manifestar seu voto individualmente podem fazer e muitos estão fazendo. Quando eu tomei essa decisão foi exatamente por discordar de que você tem de induzir o eleitor para votar num ou noutro candidato. Eles é que têm de convencer os eleitores. Eles nem sequer apresentaram um programa de governo no primeiro turno. Não se pode ser presidente de um país como o nosso sem ter um programa de governo.

A senhora foi a mais votada no Distrito Federal, onde a maioria dos eleitores terá de fazer uma nova opção. Daria alguma orientação a esse eleitor?
Que preste atenção nos candidatos e votem de acordo com sua consciência. É preciso ter uma clareza muito grande daquilo que é o melhor para o Brasil. Cada cidadão deve se colocar como sujeito de sua história. A decisão por votar é o melhor caminho.

As pesquisas mostram que a maioria de seus eleitores deve fazer opção por Serra no segundo turno. Concorda com esses levantamentos?

A gente precisa ter um pouco de cuidado com as pesquisas, que erraram muito no primeiro turno. Diziam que eu não estava crescendo e eu sabia que estava crescendo. A gente não deve ter um olhar no sentido de sacralizá-las, endeusá-las, porque se mostraram muito falhas em relação a esse processo. A decisão é tomada na urna.

Como pensa o seu futuro? Já definiu sua atuação no terceiro setor?
Agora, estou retornando ao Senado. Vou trabalhar até o último minuto e voltarei para o meu trabalho na sociedade, nos movimentos de desenvolvimento sustentável. Já atuava no Instituto Democracia e Sustentabilidade e no Instituto da Cidadania, que é um pouco voltado para a questão do desenvolvimento sustentável, da gestão pública de qualidade, da ética na política. Vou retomar essas atividades e obviamente vou dedicar meu tempo a estudar, que é uma coisa que eu gosto muito de fazer.

A senhora está com a cabeça em 2014?
Ainda tenho muito a trabalhar e a fazer. Não só o partido, mas a sociedade brasileira pode construir essa terceira via. O que vai acontecer em 2014 seria uma consequência das condições sociais, históricas e políticas que teremos quando chegar lá. Eu não gosto de fazer as coisas pensando no próximo pleito. Tinha me preparado para sair da política nesses próximos quatro anos e recebi um chamado que não poderia recusar, como ficou provado com a votação que tivemos.

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