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Cientistas políticos analisam os desafios do novo presidente

postado em 31/10/2010 06:17
Presidente novo, Congresso novo e problemas antigos. O sucessor ou a sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumirá a cadeira com as missões de dar continuidade à política social, de desengavetar as reformas política e tributária, de formar um governo de coalizão e de ajustar o desenvolvimento econômico à agenda ambiental. O Correio ouviu análises de cientistas políticos de instituições de pesquisa e ensino das cinco regiões do país em relação aos desafios que serão enfrentados pelo novo presidente.

Dilma ou Serra, seja qual for o nome do próximo presidente, o governante será obrigado a manter a linha dos benefícios sociais herdados do governo Lula, cravam os analistas. A cientista política Céli Jardim Pinto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aponta que o fim dos programas sociais poderia gerar cenário de revolta popular. ;Não é possível a nenhum candidato simplesmente acabar com as políticas sociais, pois isso geraria uma crise.; Mas se a manutenção dos programas é uma obrigação, para Eurico Figueiredo, coordenador da pós-graduação do curso de ciência política da Universidade Federal Fluminense (UFF), o novo presidente terá como missão passar da transferência de renda para propostas estruturais.

Já o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Geras (UFMG), destaca a educação como o principal desafio do próximo presidente. Reis analisa que não é possível pensar em desenvolvimento a longo prazo se a qualidade do ensino não acompanhar as vitórias econômicas. O professor também pontua que o novo presidente não terá o mesmo peso de líder político apresentado por Lula pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A ausência da qualidade, ressalta, pode prejudicar o desempenho do eleito junto ao Congresso. Para superar a falta de popularidade e liderança ; observa o pesquisador Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco ; o ;novato; terá que ;negociar mais;.


Risco de apagão
;Na infraestrutura, o país está empacado. Principalmente o transporte aéreo, que está prestes a ter um apagão a qualquer hora. Esse é um nó que precisa ser desatado. Outra urgência é a reforma tributária, que é a mais difícil. Também há a necessidade de uma nova reforma da Previdência, para debater o aumento das idades e a cobertura. Porque a população vai ficando mais velha e as aposentadorias precoces pesam muito. A Previdência Social será um desafio, porque o PIB vai crescer muito menos no próximo ano. Esse é outro desafio. Pois tudo está bombando, agora. Inflação baixa, disponibilidade de crédito, criação de empregos. Mas no próximo ano pode ser diferente. O governo federal terá que reduzir gastos, a exemplo do que ocorreu em 2003.;
David Fleischer, professor da UnB

Necessidade de reformas
;A manutenção da estabilidade econômica, do ritmo de crescimento da economia e da política social são as principais missões do novo presidente. As reformas política e tributária foram adiadas, mas devem ser feitas ainda que parcialmente. A reforma política não depende tanto do presidente, mas o eleito tem que criar um clima favorável. O presidente terá que ter um bom diálogo com o Congresso. O fato de o presidente ser menos popular que Lula tem aspectos positivos, como o de negociar mais, isso é bom para a democracia. Um presidente que não tem essa popularidade vai ter que construir. Mas um presidente que esteja no mesmo nível dos outros poderes pode ser tomado como fraco.;
Túlio Velho Barreto, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco

Governo de coalizão
;Se o eleito for a Dilma, ela terá dificuldade com seu próprio partido, porque ela não é uma liderança partidária reconhecida. Independentemente do eleito, será mais uma vez um governo de coalizão. O Executivo sem o Congresso não existe. Se a Dilma ganhar, o país terá cenário com um vice mais forte, o Temer vai reivindicar uma posição. Nem o Marco Maciel nem o José de Alencar tiveram esse papel que o vice de Dilma poderá ter. O PMDB é muito mais complexo e muito mais forte. Na verdade, o PMDB é um partido maior do que o PT, e isso gerará uma contradição. Será um foco possível de instabilidade para ela. Ela também terá que resolver o relacionamento com Lula, no papel de ex-presidente. Ele poderá ter uma posição de estadista ou de um político que quer voltar ao poder.;
Eurico Figueiredo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF)

Maioria garantida
;Seja quem for o novo presidente, o quadro de governabilidade não é complicado, nem grave. Qualquer um tem condições de montar governos e montar maioria no Congresso. Nenhum dos dois terá problema ao estilo Collor, que assumiu o poder e não constituiu uma maioria. A questão mais a longo prazo que os governos têm que colocar são as reformas que não foram feitas. São a reforma tributária e a reforma política. O Lula tem toda essa popularidade, mas não se esforçou para aprovar as reformas porque jogou muito a favor da classe política. Quando se assume o poder é o momento certo de fazer as reformas. A reforma tributária está pedindo, está clamando e deve sair. A reforma política permitiria moralizar um pouco o cenário.;
Céli Regina Jardim Pinto, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Agenda definida
;O novo presidente seguirá uma agenda mais ou menos óbvia nas áreas econômica e social. As deficiências na infraestrutura são um embaraço ao desenvolvimento. O problema na educação também é muito importante. Houve expansão na incorporação na escola, mas a qualidade deixa muito a desejar. Em um quadro de incorporação política e econômica, de expansão da classe média, há um longo legado negativo, com séculos de escravidão, que deixou uma herança muito feia, uma população parcamente educada. Isso é algo que tem que ser atacado e tem importância econômica. A hipótese mais provável, pelo que as pesquisas indicam, é a vitória da Dilma. Aí temos uma grande interrogação. Ela pode ser uma boa gestora, mas acho uma liderança deficiente.;
Fábio Wanderley Reis, professor da Universidade Federal de Minas Gerais

Combate à miséria
;Um dos principais problemas que o novo presidente vai enfrentar é a redução da miséria. As bolsas assistencialistas minimizaram, mas não resolveram problemas. É grande o percentual dos brasileiros que vivem exclusivamente dessas bolsas, não têm emprego e renda. Continuidade não é suficiente. Continuidade é manter essa camada social à margem. Cria uma política de dependência para com o governo federal. É muito ruim para um país que quer alavancar a economia. Outro desafio é a modernização das indústrias. Nossa planta industrial ainda é a mesma dos anos 1950, excetuando a Petrobras. Mas a questão ambiental e a geração de energia é o maior conflito que o novo presidente vai enfrentar.;
Coracy Saboia, professor da Universidade Federal do Acre

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