Naira Trindade
postado em 31/10/2010 06:01
Pirenópolis (GO) ; A escolha do próximo governador do Distrito Federal ficará nas mãos de 1,4 milhão de leitores. Isso porque a estimativa de abstenção nas urnas hoje gira em torno de 24% (440 mil), ou seja, 9% a mais que o registrado em 3 de outubro, quando houve uma ausência de 15,44% (283 mil). O cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto avalia que a renúncia do eleitorado no segundo turno será maior por três motivos: ;O primeiro deles é o feriado prolongado, quando muitos viajam. O segundo é que nenhuma das duas candidaturas entusiasmaram os candangos. Por último, os eleitores acham que o voto deles não influenciará na decisão;. Ainda assim, cidades vizinhas ao DF, como Pirenópolis (GO), receberam por enquanto menos hóspedes da capital do país.No Distrito Federal, há 1.836.280 votantes, segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). A expectativa é que a quantidade de ausentes aumente por causa do Dia do Servidor, transferido para sexta-feira, e do recesso prolongado do feriado de Finados, celebrado na próxima terça-feira. No último dia útil da semana, o movimento era intenso nas principais saídas do DF. A Polícia Rodoviária Federal calculou um aumento de mais de 300% no fluxo de veículos. Também houve acréscimo de passageiros no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek.
O Correio visitou ontem um dos destinos turísticos favoritos do público brasiliense: Pirenópolis. A cidade goiana distante 150km de Brasília não recebeu a quantidade normal de turistas em um feriadão. Costumeiramente lotadas nos recessos prolongados, as ruas continuavam mais vazias ao longo do sábado. Contrariando a expectativa, poucos brasilienses que estavam a passeio no município disseram que não voltariam à capital para votar.
Segundo informações do Centro de Atendimento ao Turista (CAT) da localidade, órgão vinculado à Secretaria de Turismo do Estado do Goiás, no sábado, apenas 50% dos cerca de 4 mil leitos disponíveis nas 120 pousadas existentes estavam ocupados. Normalmente, num feriado extenso, esse índice chega a 100%, sendo que 70% dos visitantes moram em Brasília. ;Nosso público-alvo realmente é Brasília e, com essas eleições, as pessoas deixaram de viajar para votar, mas nossa esperança é que amanhã (hoje) a taxa de ocupação chegue a 70% e na segunda-feira, perto de 100%, pois as pessoas podem votar tranquilamente e ainda curtir o restante (do feriadão) na nossa cidade;, arriscou o orientador da CAT, Marcos Vieira.
Democracia
O Correio percorreu os pontos mais badalados de Pirenópolis e conversou com brasilienses que se divertiam no lugar. A maioria deles garantiu que estariam de volta ao DF para participar do pleito. O servidor público do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) Pedro Vieira de Almeida, 45 anos, chegou à cidade histórica acompanhado da mulher na sexta-feira e decidiu pegar o caminho de volta ontem mesmo. Para ele, o lazer não pode prevalecer sobre a democracia. ;A intenção era justamente passar o sábado aqui e voltar cedo para votar;, explicou.
A mesma opinião era compartilhada pelas funcionárias públicas Sandra de Barros, 43 anos, e Severina Silva, 42. Elas deixaram de esticar mais um dia na cidade conhecida pelas belas cachoeiras para participar do momento político. ;Somos extremamente conscientes das nossas responsabilidades como cidadãs e vamos votar;, frisou Severina. ;Nossa política atravessa um momento muito delicado e acho, sim, que meu voto pode fazer falta e entrar no poder alguém sem preparo;, completou Sandra.
Mas nem todos os brasilienses de passagem por Pirenópolis neste sábado estavam dispostos a interromper os dias de folga para votar em Agnelo Queiroz (PT) ou Weslian Roriz (PSC). No grupo dos menos interessados com o cenário político do DF estavam as enfermeiras e amigas Priscila Carvalho e Zênia Guedes, 27 e 26 anos, respectivamente. Elas disseram que se importam com o futuro político de Brasília, mas optaram por não trocar os poucos momentos de diversão para votar. ;É tão raro a gente conseguir uma folga longa e, quando a gente consegue, coincide justamente com as eleições. Prefiro continuar aqui e justificar depois;, explicou Priscila.
O professor Jairo Corrêa Guimarães, 33 anos, e a analista de sistema Ivana Cristine Guimarães, 34, também prefeririam justificar a abstenção. Eles passaram o sábado em Pirenópolis e hoje seguem para Anápolis (GO). ;O fato é que não existe nenhuma motivação que me convença a votar. As duas forças que estão no páreo me desagradam e, como estou sem opção, preferi viajar;, contou Ivana.
LONGE DAS URNAS
1.836.280 - Total de eleitores inscritos no TRE-DF
15,44% - Parcela que deixou de votar no primeiro turno
440 mil - Estimativa de abstenções no segundo turno
300% - Aumento previsto no fluxo de veículos nas rodovias do DF
Mais abstenções no 2; turno
O total de eleitores que deixam de votar no Distrito Federal cresceu nas últimas eleições, segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Em 2006, 13,88% de 1,6 milhão de candangos aptos a escolher concorrentes a cargos públicos não compareceram às urnas. No primeiro turno deste ano, 15,44% de 1,8 milhão ficaram fora do pleito. E, agora, o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto calcula abstenções em torno de 24% (440 mil). Assim, o feriado prolongado pode comprometer os votos de uma categoria disputada na corrida ao GDF: a dos servidores públicos.
Barreto considera arriscado cravar se algum dos candidatos ao Buriti se beneficiaria com as abstenções durante o recesso. ;Não dá para estimar se essas ausências mudariam a decisão porque não se sabe ao certo quantas pessoas viajaram nem a origem social delas;, disse. Porém, especialistas acreditam que o Agnelo Queiroz (PT) seria o mais prejudicado com as ausências devido ao nível social do eleitorado dele. O candidato aproveitou as últimas semanas para chamar a atenção das pessoas para o dever cívico.
Para o cientista político da UnB, uma análise mais profunda da situação eleitoral candanga dependeria de estudos específicos. ;Só poderíamos adiantar tal resultado se fizéssemos uma pesquisa em rodoviárias e aeroportos;, defendeu Barreto.