postado em 01/11/2010 08:12
Agnelo Queiroz (PT) terá muito trabalho a partir de agora para montar o novo governo, principalmente para manter uma base forte entre os deputados distritais. Nos próximos quatro anos, ele precisará negociar com os 17 partidos que ocupam a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Uma negociação que começou antes da eleição e se configurou em cada apoio recebido na campanha ou mesmo na retirada de aliados da então adversária. De toda sorte, o novo governador começará o mandato com um grupo oficial formado por 15 dos 24 representantes eleitos. O Partido dos Trabalhadores será a maior bancada da Casa, com cinco cadeiras.É entre os petistas que surgem os nomes mais cotados para assumir a Presidência da Câmara nos dois primeiros anos da próxima legislatura. Cabo Patrício (PT) tem a seu favor o fato de ser o atual vice-presidente e de ter assumido, interinamente, o comando em um período de grande atribulação política. Com a saída de Leonardo Prudente (sem partido) por conta da Operação Caixa de Pandora, que o flagrou com dinheiro nas meias, Patrício teve a difícil tarefa de conduzir os trabalhos em meio a um clima de instabilidade e dúvidas. Sobreviveu, saiu fortalecido do episódio e agora tem status de favorito.
Outro nome do próprio partido é de Arlete Sampaio (PT), ex-vice-governadora do DF e uma das principais colaboradoras para o lançamento da candidatura de Agnelo. A distrital teve uma passagem marcante pelo parlamento local ; de 2003 a 2006 ; e concorreu ao Buriti na penúltima eleição. Chico Leite seria outra opção da legenda, uma vez que foi o mais votado em 3 de outubro, mas está cotado para assumir uma secretaria no próximo governo.
Os parlamentares eleitos juram não ter tratado do assunto, mas as conversas começaram nos dias seguintes ao resultado do primeiro turno. ;Quem vai dar início às articulações é o governador. Primeiro, tivemos de esperar a eleição, agora vamos aguardar o início das negociações;, diz Patrício. Segundo o deputado, Agnelo será o personagem principal na definição do próximo presidente, uma vez que as tratativas dependem da formação do próximo governo. ;Se o nome tiver de ser do Partido dos Trabalhadores, aí teremos de reunir a bancada para tomar essa decisão;, diz.
Contra o PT pesa o argumento, entre deputados das demais legendas, de que será devidamente representado com o posto máximo do GDF e o presidente deveria ser de outra sigla. O problema é encontrar um distrital com experiência, trânsito entre os colegas e longe de acusações que contaminem a imagem da próxima legislatura. Os peemedebistas Rôney Nemer e Benício Tavares cumprem os dois primeiros requisitos, mas ambos figuram nas investigações do suposto esquema de corrupção no governo de José Roberto Arruda (sem partido).
Alírio Neto (PPS) também aparece como nome forte para chefiar a CLDF. Foi o presidente da Casa de 2007 a 2009 e trabalhou para mudar o regimento interno a fim de aprovar a reeleição e conseguir se manter no poder. O único meio para tirá-lo da disputa é com uma vaga no primeiro escalão do Executivo, hipótese em negociação. De resto, a bancada governista é formada por estreantes e por nomes menos expressivos, como Cristiano Araújo (PTB), que só nos últimos dias de campanha resolveu promover um ato de apoio a Agnelo.
Novatos
O índice de renovação na Câmara Legislativa foi de 54,1%, ou seja, apenas 13 vagas serão ocupadas por novatos. Nove distritais conseguiram a reeleição, três suplentes foram eleitos titulares e outras três pessoas regressam à Casa. Dos cinco candidatos vitoriosos no primeiro turno que permaneceram fiéis a Joaquim Roriz (PSC), nenhum tem experiência como parlamentar (veja quadro na página 33). Eles deverão formar a base da bancada oposicionista. ;Todo governo precisa de alguém que o fiscalize. Muitas denúncias surgiram na campanha e precisam ser investigadas. Vou fazer uma oposição coerente, tranquila e ao lado do povo de Brasília. Os novos deputados precisam chegar com vontade de transformar a Câmara;, disse Celina Leão (PMN).
Deputados que não se aliaram formalmente ao governo poderão ter papel decisivo para a governabilidade. Eliana Pedrosa (DEM) e Benedito Domingos (PP) são experientes e com grande poder de influência entre os colegas. Apesar de terem feito parte da coligação de Weslian Roriz (PSC) no primeiro turno, ambos evitaram declarar qualquer apoio na reta final. Nos bastidores, mesmo sob a negativa de ambos, eles foram contabilizados do lado petista. Eliana viajou após votar neste domingo e disse, por meio da assessoria de imprensa, que deseja boa sorte ao novo governador, mas que só pensará sobre a própria atuação depois de regressar a Brasília.
Mudança
Segundo o resultado do primeiro turno
54,1% - É o índice de renovação na Câmara Legislativa
Do total eleito em 3 de outubro, 13 Distritais não figuram nesta legislatura
Base forte também no Congresso
Enquanto na Câmara Legislativa há espaço para negociação, a base governista começará o próximo ano mais consolidada no Congresso Nacional. Para os oito cargos de deputado federal, o PT conseguiu eleger três membros do partido ; Paulo Tadeu, Geraldo Magela e Érika Kokay. Além deles, a bancada contará com outros dois parlamentares: Reguffe (PDT) e Luiz Pietschmann (PMDB). No Senado Federal, os dois nomes eleitos para o DF neste ano, Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB), e o representante que ainda tem quatro anos de mandato, Gim Argello (PTB), fizeram parte da coligação formada para eleger Agnelo Queiroz.
Esta foi a melhor participação da chapa composta, tradicionalmente, pelos partidos de esquerda. Na eleição de 2006, sob os efeitos das denúncias do mensalão no governo federal, o grupo do lado petista elegeu apenas dois deputados federais e perdeu a vaga no Senado para Joaquim Roriz. Neste ano, a crise gerada pela Operação Caixa de Pandora enfraqueceu o outro lado e deu espaço ao grupo de Agnelo, inclusive com a adesão do PMDB ; que possui membros denunciados como envolvidos no suposto esquema.
Mesmo com uma base forte feita para as eleições, o trabalho do próximo governador não deverá ser fácil, diz David Fleischer, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB). A fragmentação partidária no próximo governo exigirá muita articulação. ;São inúmeros interesses particulares em jogo;, diz. Ele explica que os políticos usam duas formas para manter a bancada: a distribuição de cargos comissionados e a liberação de recursos previstos no orçamento. Governos passados são investigados por, supostamente, ter utilizado um terceiro método: o pagamento de propina. (RT)
MEMÓRIA
Imagem desgastada
A atual legislatura da Câmara foi alvo de denúncias durante a Operação Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Federal em novembro do ano passado. O ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, Durval Barbosa, delator de um suposto esquema de corrupção no Distrito Federal, entregou aos investigadores vídeos que comprometeram alguns parlamentares, entre eles Eurides Brito, Leonardo Prudente e Júnior Brunelli. Os dois últimos renunciaram para escapar do processo de quebra de decoro. Eurides manteve-se no cargo, mas acabou cassada. As denúncias de corrupção provocaram a manifestação popular. No começo de dezembro, estudantes ocuparam a sede da Câmara , localizada à época no fim da Asa Norte. A série de protestos continuou e, nas comemorações do aniversário dos 50 anos de Brasília, em 21 de abril, os estudantes voltaram a ocupar o prédio da Casa, desta vez no Setor de Indústrias Gráficas. A obra foi entregue este ano e custou R$ 120 milhões, três vezes mais que o previsto inicialmente. O prédio é suntuoso e possui gabinetes de até 90 metros quadrados, maiores que muitos apartamentos espalhados pelo Distrito Federal.