Eleicoes2010

DF registra 19,31% de abstenção

Pela primeira vez, número de brasilienses que deixam de votar supera 300 mil. Para TRE, ausência ficou dentro do esperado

postado em 01/11/2010 08:43
>> Ary Filgueira
>> Mariana Sacramento
>> Naira Trindade
>> Rosana Hessel

O feriado prolongado não afastou a grande maioria dos eleitores brasilienses das urnas, mesmo assim o Distrito Federal registrou o maior índice de abstenções desde 1994, segundo dados disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ontem, 354.146 pessoas deixaram de votar, o que representa 19,31% do eleitorado. O índice ficou próximo do esperado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que estimava uma taxa de 20%. A ausência também foi maior que a observada no primeiro turno, quando 15,44% dos votantes (283 mil) não compareceram às urnas.

Segundo o levantamento de abstenções para eleições ao GDF feito pelo Correio, esta é a primeira vez que o número de ausentes ultrapassa os 300 mil eleitores. Fazendo uma analogia, é como se todos os moradores de Ceilândia, cidade mais populosa do DF, abrissem mão de seu direito de votar. Porém mesmo que todos os faltosos optassem pela candidata derrotada Weslian Roriz (PSC), o resultado do pleito para governador não seria diferente. A vantagem de Agnelo Queiroz sobre a adversária foi de 426.502 votos.

Para o corregedor e vice-presidente do TRE-DF, Mário Machado, as comparações com anos anteriores são inviáveis devido à mudança no contingente eleitoral. ;Havia uma expectativa e o número ficou dentro disso. O que se mostrou é que nessas eleições o percentual se manteve estável;, afirmou. Na avaliação do cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto, o alto índice de abstenção já era esperado. Segundo ele, a crise política desencadeada pela Operação Caixa de Pandora e a histórica polarização da disputa pelo poder no DF são os responsáveis pelo desânimo. ;Depois de todo o processo político e eleitoral pelo qual o Distrito Federal passou recentemente, é natural que haja um certo ceticismo por parte da população;, analisou.

Movimento
Em muitas seções eleitorais, a impressão era de que a abstenção seria bem maior. No Centro de Ensino Fundamental n; 11 (CEF 11), em Ceilândia, o supervisor do Partido Social Cristão (PSC) Cesar Rodolfo chegou a calcular 50% de ausência. A impressão era dividida pela professora Keila dos Santos Araújo, 31 anos, presidente de mesa da seção 199, do CEF 11. Segundo ela, pela manhã, menos de um terço dos que deveriam votar em sua seção tinham aparecido.

Com o passar do dia e o fim da chuva que caiu sobre a cidade, no entanto, a situação mudou. Às 17h03, ao imprimir o Boletim da Urna (BU), Keila constatou que 325 dos 391 eleitores compareceram, ou seja, a abstenção foi 17%. ;Acho que a chuva espantou os eleitores de manhã, mas eles acabaram vindo à tarde;, comentou. Nas salas ao lado, como a das seções 66 e 64, a abstenção foi um pouco maior, de 18,8% e 18%, respectivamente

Na 18; zona eleitoral (Colégio Mackenzie) do Lago Sul, mais de 300 pessoas deixaram de votar. Até às 16h, a seção 119 tinha registrado 100 faltosos. Ao lado dela, na 122, dos 302 votantes previstos, 85 deixaram de comparecer. No Centro de Ensino Fundamental, na 912 Norte, quase 200 eleitores também faltaram. ;A abstenção aqui está maior que no primeiro turno, pelo visto. Há ausências em todas as 11 seções;, afirmou o supervisor do TRE da 14; Zona Eleitoral, Jorandir de Andrade.

Tranquilidade nos postos de justificativa
>> Maria Vitória
>> Naira Trindade

As 34 seções de justificativa organizadas pelo TRE-DF tiveram um movimento tranquilo. Por ali passaram turistas, passageiros em trânsito, trabalhadores e eleitores residentes no Distrito Federal e com títulos em outros estados. O movimento foi maior no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, por onde, até as 16h, haviam passado cerca de 1.800 pessoas. Entre elas estava o casal de namorados Ana Cecília Dantas e Basile Christopoulos, de Maceió. Eles chegaram a Brasília na quinta-feira para um congresso sobre direito constitucional e ficaram para conhecer a cidade. ;Decidimos passear. A avó dele viajou antes para votar;, contou Ana, que tinha preferência por Dilma Rousseff.

Os postos de justificativa também atenderam um grupo especial de trabalhadores: aeronautas e motoristas de ônibus e caminhão, profissionais que atuam em viagens e nem sempre estão nos locais onde possuem domicílio eleitoral nos dias de pleito. Foi o caso dos comissários de bordo Juventino de Paula, Djukayane Notoro e Tarsila Soares, que não chegariam a São Paulo, onde votam, a tempo de participar da disputa presidencial. A situação incomodou a descendente de croatas Djukayane, que defendeu uma regra especial para eleitores em situações idênticas à dela. ;Somos cidadãos e temos direito de votar. Acho que a Justiça Eleitoral deveria criar um voto em trânsito especial (para nós);, defendeu a simpatizante de José Serra.

Até dezembro
Quem não conseguiu votar no segundo turno das eleições tem 60 dias justificar a ausência. O prazo para esclarecer os motivos de não comparecimento no primeiro turno do pleito termina em 2 de dezembro. Já os que faltaram no segundo turno têm até 30 de dezembro para se explicar. Para isso, o eleitor deverá comparecer ao Cartório Eleitoral em que estiver inscrito munido de documentos que comprovem o motivo da ausência ou enviar o requerimento de justificativa eleitoral preenchido e assinado, acompanhado da documentação comprobatória ao cartório em que estiver inscrito. As agências dos Correios não fazem mais justificativas. É possível obter informações e imprimir o requerimento de justificativa no site www.tre-df.jus.br. Aqueles que não prestarem contas com a Justiça Eleitoral ficarão impedidos, entre outras medidas, de tomar posse em concurso público, receber remuneração em emprego público e tirar passaporte.


Urna eletrônica para exportação
>> Ana Clara Brant

Representantes de 26 países, entre embaixadores, diplomatas e ministros, conheceram o processo eleitoral brasileiro em um projeto realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF). Eles passaram todo o domingo percorrendo várias zonas eleitorais. Além de acompanhar a votação e a apuração, o grupo teve um encontro com o presidente do TRE-DF, desembargador José Mariano.

O embaixador do México no Brasil, Alejandro De La Peña, afirmou que está fascinado com a urna eletrônica. Ele revelou ainda que seu país e o Brasil estão trocando experiências sobre o processo eleitoral e que, aos poucos, a votação mexicana está aderindo ao modelo eletrônico. ;No primeiro turno, eu acompanhei por conta própria as eleições em Brasília, e outros mexicanos estiveram em São Paulo e no Rio de Janeiro também. O processo eleitoral brasileiro é muito interessante, porque é rápido, seguro e transparente;, declarou.

Confiável
Joram Mukama Biswaro, embaixador da Tanzânia no Brasil, onde também foram realizadas eleições presidenciais ontem, disse que seu país também pode aderir ao sistema brasileiro. ;É extremamente confiável. Praticamente sem riscos de fraude, apesar dos hackers;, frisou Biswaro.

Já a embaixadora de Barbados, Yvette Goddard, também elogiou o modelo adotado pela Justiça Eleitoral brasileira. Para ela, é um grande avanço para qualquer nação ter um sistema de votação eficaz que permite conhecer em pouco tempo os eleitos. ;Espero que outros países sigam esse exemplo, porque ele só tem vantagens;, ressaltou.

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