Eleicoes2010

Partidos que apoiaram Dilma começam a emitir a fatura da parceria

Querem cargos estratégicos em órgãos que movimentam R$ 700 bilhões por ano

postado em 01/11/2010 09:17
Ainda no calor da comemoração pela vitória, a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) terá que sentar com representantes dos partidos que a apoiaram para fatiar cargos importantes de empresas e bancos públicos, agências e departamentos. Antes mesmo da proclamação do resultado, os interesses dos aliados tinham endereço certo. Alguns pressionam para continuar em postos conquistados durante o governo Lula, outros argumentam que saíram maiores das urnas e, por isso, têm poder para barganhar mais espaço. Os 15 principais postos em discussão na Esplanada e nas autarquias movimentam mais de
R$ 700 bilhões por ano, entre recursos do Orçamento e investimentos de empresas privadas.

Integrantes do partido do vice-presidente Michel Temer (PMDB) pleiteiam se espalhar em direção à área econômica. O alvo são os bancos públicos. O secretário-geral do partido, deputado Mauro Lopes (MG), defende a maior utilização da estrutura do Banco do Brasil para desafogar a Caixa. ;A Caixa está com tanta incumbência que não está dando conta. Poderíamos dividir o trabalho: o Banco do Brasil ficaria com a parte de liberar financiamento para equipamentos e a Caixa, com a parte de obras, pois tem um bom plantel de engenheiros;, projeta o secretário-geral.

Mas o PMDB quer mais. Além de lutar para manter o controle de órgãos ligados à comunicação, como os Correios, o setor de infraestrutura interessa ao partido. O problema é que a área pertence atualmente ao PP e ao PR. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) é a noiva cobiçada. Isso porque tem orçamento anual de R$ 14 bilhões e a responsabilidade de inaugurar, após 2011, as maiores e mais demoradas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Apesar da movimentação, o PMDB corre o risco de perder espaço para o PT em áreas como a Defesa e a Saúde, analisa o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). O petista observa que o diferencial da participação do partido no governo Dilma será a substituição de nomes técnicos por quadros políticos. ;O PMDB é um partido grande. E o PT também. Não existe uma luta de bastidores. Mas a tendência é que quadros mais orgânicos assumam os cargos. Os ministros (Nelson) Jobim e (José Gomes) Temporão foram escolhas mais pessoais do presidente, não tiveram um desempenho mais orgânico, como o partido poderia querer;, afirma.

Não é só o PMDB que cobrará a fatura do apoio. O PSB lembrará a Dilma que, além de ter sacrificado a candidatura de Ciro Gomes (PSB-CE) para apoiar o projeto do PT, a legenda ampliou o número de governadores, senadores e deputados federais. O partido, que comanda três pastas, quer mais duas. As preferenciais são Educação, Esportes e Trabalho, mas a sigla também gostaria de atuar no setor de infraestrutura de transportes. ;Nós temos muitos projetos na área de educação. Educação é interessantíssima. Esportes e Trabalho também;, afirma o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). O PSB também tenta emplacar Ciro no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o deputado Márcio França (PSB-SP) no Ministério de Relações Institucionais.

O PP já se ressente da possibilidade de perder o comando do Ministério das Cidades, mas espera ser recompensado. ;Ouve-se muito que o partido A e o partido B estão de olho no nosso ministério. Se houver uma troca, espero que seja para um ministério do mesmo tamanho, pois a legenda teve um crescimento;, afirma o senador eleito Ciro Nogueira (PP-PI).


OS PREFERIDOS
Confira onde estão os principais cargos que serão disputados pelos aliados de Dilma

AGROPECUÁRIA, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO
Órgão - Dinheiro movimentado anualmente
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - R$ 1,7 bilhão
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) - R$ 1 bilhão
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) - R$ 3 bilhões

COMUNICAÇÕES
Órgão - Dinheiro movimentado anualmente
Correios - R$ 500 milhões
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) - R$ 1 bilhão

TRANSPORTE E DEFESA
Órgão - Dinheiro movimentado anualmente
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) - R$ 14 bilhões
Valec - R$ 2,3 bilhões
Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) - R$ 2,2 bilhões
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) - R$ 410 milhões

ÁREA ECONÔMICA
Órgão - Dinheiro movimentado anualmente
Banco da Amazônia - R$ 1,8 bilhão em ativos financeiros
Banco do Brasil - R$ 350 bilhões em ativos financeiros
Banco do Nordeste - R$ 30 bilhões em ativos financeiros
Caixa Econômica Federal - R$ 150 bilhões em ativos financeiros
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - R$ 135 bilhões

SAÚDE
Órgão - Dinheiro movimentado anualmente
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - R$ 662 milhões

PETRÓLEO
Órgão - Dinheiro movimentado anualmente
Agência Nacional de Petróleo (ANP) - R$ 3,1 bilhões


Tranquilidade na Câmara e no Senado
>> Bertha Maakaroun

Com uma base de apoio consistente de 311 deputados federais e 50 senadores ; 60% e 62% das casas, respectivamente ;, a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) não deverá ter problemas de governabilidade. Com o suporte apenas dos 10 partidos que compuseram formalmente a sua coligação majoritária (PT, PMDB, PR, PSB, PDT, PSC, PCdoB, PRB, PTC e PTN), dos quais nove conquistaram representação na Câmara e oito no Senado, Dilma terá sustentação para aprovar, inclusive, emendas constitucionais, para as quais é necessário o quorum qualificado de três quintos.

A esses apoiadores somam-se partidos que racharam durante a campanha, como o PP, o PV e o PHS, ou mesmo que integraram a coligação formal de José Serra (PSDB), como o PTB, o PMN e o PTdoB, mas sem tradição oposicionista não optarão pelo embate político. Eles contam com 91 parlamentares ; 18% da Câmara; e 10 senadores ; 26% do Senado.

O núcleo do enfrentamento do governo ficará por conta de três dos seis partidos que integraram a coligação majoritária de José Serra: PSDB, DEM e PPS. A esses se unirá o PSol. A oposição somará 111 deputados federais ; 22% da Câmara ; e 21 senadores ; 12% do Senado. ;A oposição será dura e consistente;, diagnostica Antônio Augusto de Queiroz, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). O embate do núcleo duro da oposição com o governo justifica-se porque esses partidos não ocuparão nem indicarão cargos na administração e terão de enfrentar a fila institucional para liberação de verbas.

Se por um lado a correlação de forças políticas no Congresso será favorável a Dilma, por outro é preciso avaliar como a presidente se sairá no campo da negociação política. ;Ainda não a conhecemos como líder político. Foi técnica, ministra e gestora eficiente. Mas não sabemos qual é a sua capacidade de composição;, avalia o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Para ele, a relação de Dilma com o PT poderá ser complicada, uma vez que, diferentemente de Lula, a presidente não tem o comando do partido.

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