Especial 1109

Geração 11/9: crianças convivem com heróis e vilões de carne e osso nos EUA

Agência France-Presse
postado em 11/09/2011 08:10

MIAMI - Guerras no exterior e ameaças nucleares fazem parte, hoje, dos Estados Unidos, mas os que eram crianças quando um grupo de estranhos derrubou com aviões de carreira dois arranha-céus em Nova York, no dia 11 de setembro de 2001, cresceram ouvindo falar diretamente de heróis e vilões em seu país.

Hoje, esses jovens sabem que, para entrar num avião, precisam passar por pelo menos dois detectores de metais; conhecem as cores que alertam para os níveis de risco terrorista ao viajar e estão familiarizados com um padrão da ;maldade;, misturando religião e arroubos étnicos, deixando para trás o comunismo, os nazistas e os russos que encarnaram os ;vilões; de seus predecessores.

"Meus pais cresceram no final da Guerra do Vietnã (1964-1975), pelo que estiveram um pouco em contato com esse sentido de mudança na sociedade, mas para nós é muito mais pessoal porque foi um ataque nos Estados Unidos, perto de casa", explicou à AFP Emilia Lispi, uma jovem de 20 anos da Pensilvânia, agora estudante de Biologia na Universidade de Miami.

Como Emilia Lispi, eles eram meninos e meninas de entre 8, 9 e 10 anos quando os Estados Unidos foram atacados nos centros mais emblemáticos de seu sistema, e recordam com emoção aquele dia em que suas aulas foram suspensas por professoras assustadas, anunciando que "algo de mau" acontecia no país.

Muitos não entenderam muito bem aquele dia, mas acompanharam durante uma década o que divulgavam sobre o assunto as televisões, o iPad, o iPod e todo o universo web, com a possibilidade de solucionar suas dúvidas, ano após ano, afirmam os próprios jovens.

A ;Geração 9/11", como a chamam os especialistas e os meios de comunicação, não tem apenas um rosto ou uma percepção monolítica sobre os ataques praticados pela rede terrorista Al-Qaeda contra o World Trade Center em Nova York e o Pentágono, em Washington, mas têm em comum os sentimentos contra o maior vilão de sua infância, Osama Bin Laden. Ao contrário de seus pais e avós, sabem que o ataque pode acontecer em sua própria casa.

"Quando ouvi dizer que Osama bin Laden tinha sido morto fiquei surpreendido. Tinha dúvidas sobre se seriam capazes de capturá-lo", afirmou Joshua Henderson, de 14 anos, morador de Plainfield, Illinois (norte).

Esta primeira geração de americanos, conscientes de que podem ser atacados em seu país, viveu com sentimento especial o dia 2 de maio de 2011, quando o líder da Al-Qaeda morreu, numa operação realizada pelas forças especiais dos Estados Unidos no Paquistão. "Senti-me agradecido. Mas acho que não devemos baixar a guarda só porque um terrorista muito poderoso e malvado morreu; isso não quer dizer que estejamos a salvo", disse Henderson.

Lispi admite que, para ela, Bin Laden "nem sequer era uma pessoa", era praticamente um mito e embora tenha sentido alívio com sua captura, "há muita gente por aí com as mesmas crenças e vai tentar seguir os seus passos".

Uma geração temerosa ou traumatizada?
Com noção tão clara da vulnerabilidade de seu país, ao qual também reconhecem como poderoso, surgem as dúvidas sobre se a denominada Geração 9/11 é mais medrosa, paranoica ou ansiosa por ter crescido à sombra de uma era marcada pela Guerra contra o Terrorismo.

Nem mais nem menos medos ou ansiedades que outras gerações, disseram dois psicólogos especializados em adolescência. "Os dados demonstram um aumento geral da ansiedade nos jovens que remonta a várias décadas, mas não houve um aumento (da ansiedade nem do medo) identificado especialmente depois do 11 de setembro", explicou à AFP Keith Campbell, Chefe do Departamento de Psicologia da Universidade da Geórgia (sudeste).

Campbelll refere-se à população em geral e à juventude, obviamente não os que foram afetados de perto pelos ataques. "O medo ao terrorismo está, sem dúvida, no ambiente, e sobretudo depois do 11 de Setembro. No entanto, o temor a uma guerra nuclear no passado estava muito mais presente culturalmente para os jovens de então. As escolas tiveram, durante décadas, de ensinar a ordem de ;agachar-se para se proteger;", exemplificou Campbell.

Para a psicóloga Jill Ehrenreich May, diretora de um programa de tratamento da ansiedade comportamental em crianças e adolescentes da Universidade de Miami, tampouco existem indícios de que esta geração de jovens seja mais afetada que outras que cresceram à sombra da Guerra Fria, por exemplo.

"Sabemos que as crianças educadas em ambientes cronicamente estressantes estão em maior risco de adquirir psicopatologias mais tarde em suas vidas, mas um só evento - por mais horrível que tenha sido - provavelmente não afete a maioria das crianças da mesma forma", disse Ehrenreich.

Num campus universitário, os de 20 anos ou um pouco mais jovens, expressam críticas à Guerra contra o Terrorismo, ao Governo, louvam seus militares mas, sem dúvida experimentam as impressões sociais trazidas por esse 11 de setembro. "Não, não quero tocar nesse assunto", diz Leila, uma menina muçulmana que se nega a falar abertamente sobre os ataques quando questionada.

Depois dos atentados "notei, definitivamente, um receio maior das pessoas, e muito medo. Tudo foi muito confuso depois", concluiu Lispi.

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