Especial para o Correio
postado em 20/09/2014 16:21
A única animação da mostra competitiva, em exibição neste sábado, tem 12 festivais nacionais e internacionais no currículo, dentre os destaques o Festival de Veneza. É o primeiro filme do gênero na carreira do jovem diretor Pedro Harres. Os traços rústicos, como se fosse um desenho mal finalizado, mostram o estilo orgânico adotado para dar vida à história do curta-metragem Castillo y el armado. A aposta dos idealizadores do filme é se diferenciar das animações que se aproximam da representação real para criar uma obra única e cheia de identidade.
O roteiro do curta foi baseado em história real que aconteceu com o diretor de arte Ruben Castillo. Outra particularidade do filme é a língua. Os diálogos são narrados em um dialeto fronteiriço do Uruguai com o Brasil. ;A faísca surgiu de uma camiseta do Ruben com um peixe desenhado à mão. A imagem atiçou minha curiosidade. Ele me contou a história e o resto foi consequência;, revela Harres. O filme conta a história de um homem que, em uma noite de ventania, encontra sua própria brutalidade na linha do anzol.
Trabalhar com animação era um desejo que o diretor tinha desde a faculdade. ;O filme foi a realização daquilo que eu já ensaiava desde a produção do Até que a Sbórnia nos Separe. Eu já conhecia os animadores e a equipe já iniciou o projeto entrosada, já sabia exatamente quem era mais indicado para fazer o quê no filme. A experiência, apesar de trabalhosa e cansativa (pois qualquer animação toma bastante tempo para ser feita) foi muito positiva, e todos saíram bastante felizes com o resultado.
Pedro Harres é formado em realização audiovisual pela UNISINOS (RS) e em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). Dirigiu três curtas durante ocurso e Castillo y el Armado é o segundo filme profissional. O trabalho anterior, Um Animal Menor, ganhou muitos prêmios, o que ajudou a dar confiança ao jovem diretor para se dedicar a outro gênero. A parceria com Ruben Castillo começou em outro filme. ;Trabalhar com ele foi ótimo, pois fazia tempo que falávamos em fazer um filme juntos e sempre quis ver o estilo dele em tela. Ele é um diretor de arte único;, afirma o cineasta.
Cinco perguntas para Pedro Harres:
Quais foram as referências usadas na produção?
Tentamos usar o máximo possível de elementos do universo cultural que partilhamos com nosso vizinhos uruguaios. Tanto ritmos tradicionais como o candombe e outras canções populares, bem como o portunhol fronteiriço que está nos diálogos do filme. Toda a paisagem do filme é uma estilização do que encontramos no faixa litorânea do extremo sul do Brasil e Uruguai.
A estética do curta foge da estética das animações realistas que predominam no mercado cinematográfico. Qual foi a intenção ao optar por desenhos mais rústicos e preto e branco?
A intenção era de trazer algo com um estilo original para as telas. A animação é um campo maravilhoso onde há possibilidades estéticas quase infinitas, no entanto vemos uma pasteurização de estilos no mercado sobre duas ou três tendências. Esse paradoxo entre a liberdade e a padronização se dá porque a animação também é o modelo mais industrial de produção do cinema, e em termos industriais, padronizar é geralmente sinônimo de fazer mais simples, rápido e barato. O cinema de animação do Brasil felizmente tem destoado um pouco desse fenômeno, graças a nossa criatividade e talento plástico. E nós optamos por seguir fazendo esse contraste com o Castillo y el Armado.
Qual foi a maior dificuldade para realizar o filme?
De um ponto de vista de produção, foi terminá-lo no prazo, pois optamos por um estilo bastante trabalhoso e os animadores precisavam se esforçar. Ainda bem que a equipe era super dedicada e não faltava amor ao projeto. Já no sentido artístico, o difícil era fazer com que os demais desenhistas do projeto assimilassem o traço do Ruben. O cartoon tradicional geralmente trabalha com uma linha mais limpa, e o desenho dele é o contrário disso. Para alguns animadores o processo foi bastante penoso.
O curta já entrou para seleção de 12 festivais, nacionais e internacionais. Antes de inciar o projeto, imaginou essa repercussão tão positiva?
Embora sempre tenha confiado bastante no visual que pensamos para o projeto e no roteiro, é difícil saber que repercussão vai ter. O público nos surpreende sempre. Estamos todos muito felizes com a carreira que o filme está tendo em festivais.
Castillo y el Armado é a única animação da mostra competitiva do Festival de Brasília. Você acredita que esse fato poderá destacá-lo dos demais?
Com certeza! No Festival de Veneza, ele também teve esse tipo de destaque. Isso sempre aguça o olhar de programadores e curadores de outros festivais.