postado em 22/09/2014 18:35
O diretor Gustavo Vinagre estudou cinema em Cuba. Foi lá que conheceu o personagem que dá vida ao documentário La Llamada. Lázaro Escarze é um cubano revolucionário de 87 anos. O documentário mostra o cotidiano de um senhor que vive num pequeno povoado e terá um telefone instalado na loja pela primeira vez na vida. O filme já foi premiado com a Menção Honrosa na competitiva de curtas do Olhar de Cinema, Curitiba International Film Festival (2014).
Antes de retornar a Cuba para dar vida ao documentário que integra a Mostra Competitiva, o cineasta já havia filmado, como exercício da faculdade, 40 horas do dia dia de Lázaro. Sem dizer o motivo pelo qual filmava e sem se apresentar, Gustavo apontou a câmera para rotina daquele senhor. O comerciante não se intimidou sob as lentes. O material serviu como pesquisa para o filme.
Depois de saber que um telefone seria instalado na loja, o diretor percebeu um enfoque interessante para trazer para o cinema a vida do cubano Escarze. O filme busca ressaltar o contraponto entre ideologias e relações pessoais. ;O que mais me chamava atenção era a força e a paixão com que ele seguia seus ideais. Às vezes, me chocava um pouco como ele colocava esses ideais acima da família. Ao mesmo tempo, ele fazia isso com muita doçura;, conta o cineasta.
Duas perguntas para Gustavo Vinagre
Como foi estudar cinema em Cuba?
A escola de cinema é internacional. Quase não tem influência do governo cubano. Uma parte dos custos é financiada por doações, outra pelos próprios alunos e, por último, pelo governo. A escola se mantém com certa dificuldade. Não é um paraíso, mas, em comparação com o resto de Cuba, viver na escola é até um luxo. Tem bastante equipamento, tem professores do mundo inteiro. Foi bem legal a experiência.
Os embargos econômicos prejudicam de alguma forma produção no país?
Fazer cinema em Cuba é bem complicado. Ou você faz com o apoio oficial do governo ou sozinho. Mas está começando um cinema independente bem interessante. Os jovens cineastas estão conseguindo driblar isso com novas tecnologias e não depender somente do financiamento para filmar. Com a experiência na escola, aprendi a fazer filme com pouco recurso, me adaptar a situação pensando projetos que sejam mais viáveis, econômicos e trabalhar com que se tem à mão. Foram coisas que aprendi graças a cultura deles.